Ator se diz vítima de preconceito
- Atualizado em 22/02/2019 20:21
O ritmo que agita as pistas não é mais o mesmo. Nem a roupa que está na moda. Muito menos a forma de se comunicar. O que se mantém inalterado nas últimas três décadas é o preconceito racial. A cena de “Verão 90” em que dois jovens negros, Catraca e Diego (Sérgio Malheiros), são acusados injustamente de furto joga luz sobre essa triste realidade. Intérprete de Catraca, Orlando Caldeira lamenta que, nesse sentido, as transformações não corram na velocidade da tecnologia, que faz com que um passado recente pareça muito distante.
— Infelizmente, o racismo que Catraca e Diego sentiram na pele dentro da PopTV se repetiria em 2019. Ainda assim, muita coisa mudou dos anos 90 para cá. Hoje em dia, temos a internet como ferramenta para propagar pensamentos e fazer denúncias. Vozes que eram silenciadas agora podem ser ouvidas — observa o ator, de 33 anos.
Orlando é um ativista da causa que vive uma dura rotina de discriminação desde que trocou Olaria, bairro onde foi criado, pela Zona Sul carioca.
— A partir do momento em que me mudei para o Humaitá e depois para Copacabana, deixei de ser visto como uma pessoa “comum”, já que em Olaria não se problematiza o negro. Na Zona Sul, é completamente diferente. Quando estou passeando com o meu cachorro (da raça Schneider), me perguntam quem é o dono. Todo mundo acha que eu sou só o passeador e não importa como eu esteja vestido — lamenta, completando: — No meu prédio, morador novo costuma fechar a porta para não deixar eu entrar na portaria. Já vivi todos os tipos de racismo.
É usando a arte como instrumento transformador que Orlando faz sua parte na luta contra a desigualdade racial. O ator é o idealizador da Tela Preta TV, um canal no Youtube feito exclusivamente por profissionais negros
— Nossa programação é pautada em lazer, cinema, empreendedorismo, não na questão racial. É que a partir do momento em que a gente cria um canal em que só existe a figura do negro, já estamos dizendo que em muitos outros lugares o contrário acontece. A intenção é tornar visíveis atores, diretores, produtores e roteiristas negros.
Livre de amarras sociais, Orlando Caldeira se permite usar saias. E a criar, em parceria com o marido — o ator Drayson Menezzes —, uma grife especializada para que outros homens façam o mesmo. No lançamento de “Verão 90”, o intérprete de Catraca foi vestido com a peça, assim como o seu colega de elenco, o ator Ícaro Silva.
— A Galo Solto é um sucesso! Muita namorada compra para dar de presente para o namorado caretão (risos). Eu vou de saia para qualquer lugar e nunca fui hostilizado por isso. O máximo que sinto é um olhar de estranhamento. Usar saia é extremamente confortável, prático, por isso é viciante — acrescentou o ator. (A.N.)

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