Guilherme Belido Escreve - O Brasil mais de dois anos depois da saída de Dilma
26/05/2018 14:44 - Atualizado em 29/05/2018 16:00
Em clima de comemoração, em maio de 2016 o Senado Federal abria o processo de impeachment contra Dilma Rousseff e a presidente era afastada do governo. A petista não voltaria mais a ocupar a principal cadeira do Palácio do Planalto – todos sabiam – e daquele momento à efetiva perda do mandato seria questão de tempo.
Hoje, numa marcha à ré de dois anos, vemos que o Brasil, não obstante abarrotado de problemas (os caminhoneiros que o digam, ao desafiarem a ordem nacional nas barbas de um governo fraco) deixou para trás seus piores fantasmas e do árduo caminho que tem pela frente podemos dizer: já estivemos mais longe.
O vice que a sucedeu e conspirou para sua queda também se vê em maus lençóis. Tem contas a acertar com a Justiça e amarga a pior popularidade da história. Mas, seja como for, se o País rói as unhas ante um 2019 de incertezas, ao menos sobreviveu aos desastrosos 2015/16.
É bem verdade que a expressão ‘se livrava’ é forte e pouco recomendável ao jornalismo sóbrio. Faz parecer dedo em riste, remetendo a algo peçonhento o que, à luz do equilíbrio, sugere excesso.
Por outro lado, como tirar por menos um período responsável pela pior recessão do Brasil? Como não pesar a mão sobre ações e omissões que elevaram exponencialmente a pobreza e a miséria no País?
Como negar que mentir ao povo não favoreceu a reeleição na mais descarada das fraudes? Como negar, ainda, que o Brasil não viu emergir o maior esquema de corrupção do mundo às custas da falta de remédio, de comida e de saneamento; de emprego, de habitação e de segurança?
Mais ainda, seria desconhecer que o assalto aos cofres públicos não levou à fome, à morte de crianças e idosos e ao sacrifício de um povo que, vivendo num País de riquezas, virou refém do infortúnio.
Então vamos, sim, comemorar os dois anos. Porque quando se recorda esse quadro de assolamento sem precedente, quem estava lá, no degrau mais alto do palácio presidencial (ou, melhor dizendo, no pico da lona, posto que então transformado com circo) era a “presidenta” Dilma.
O ano que o Brasil respirou por aparelhos
À guisa de esclarecimento, não há erro em se apontar, agora em maio, os dois anos da saída de Dilma Rousseff. Mas tem razão o leitor mais atento que registra o 31 de agosto como a data em que o impeachment se efetivou e a presidente perdeu o mandato.
Contudo, ao ser afastada pelo Senado, em 12 de maio, por 55 a 22 votos, pelo prazo de 180 dias, estava sacramentado o destino da afilhada de Lula. Num ambiente hostil e no pior cenário político-econômico que se poderia imaginar, Dilma, em suas próprias palavras, era ‘carta fora do baralho’.
Não foi um dia alegre ou do qual o Brasil se orgulha. Mas da mesma forma que o vexame dos 7 a 1 para a Alemanha deve ser lembrado agora que a Copa se aproxima, o País precisa manter aceso o registro de quando este gigante continental, antes comandado por Vargas, Juscelino e FHC – para citar apenas três – livrou-se das mãos da governante mais despreparada na história da República.
Alguns poderiam querer incluir aí um ou outro governo de período curto, cenário atípico e circunstâncias isoladas. Mas nenhum guarda semelhança com a ‘Era Dilma’, que sem traquejo político e tampouco votos, ‘governou’ por quase 5 anos e meio e levou o Brasil ao fundo do poço.
Período em que o País viu o abismo de perto
Relembrar o desastre é uma maneira de manter vigilância para que os acontecimentos recentes não se repitam.
O ano de 2014 foi o da mentira... da fraude da reeleição. Já em 2015 o governo cruzou os braços e nem tentou remediar a crise que escondera.
Com novas farsas, os esforços não iam além de salvar o mandato da presidente, repetindo o discurso vazio da “mulher honrada e honesta” (ninguém disse o contrário) bem como que as pedaladas fiscais não eram importantes. Em outras palavras, seria dizer que a maior recessão em 126 anos de República também não teve importância.
E assim passou o ano, com o Palácio do Planalto transformado em salão de festa, espécie de tenda, dia após dia recebendo grupos de “apoio ao governo”, cujos ônibus que aportavam em Brasília nada tinham a ver com a CUT, MST e muito menos com o PT. (Até parece!)
Escândalos – Enquanto isso a Lava Jato desvendava o Petrolão (do qual Dilma nada sabia, igual a Lula com o Mensalão) e a fila de delações incriminando o governo dava voltas no quarteirão, inclusive as de dentro, como a do senador Delcídio do Amaral. Resta claro que o áudio sobre o ‘termo de posse’ fechava o caixão e exibia à população o ‘conjunto da obra’.
Paralelamente, 14 milhões de desempregados, indústria parada e comércio fechando as portas colocavam o Brasil à beira da depressão.
Com um início de 2016 ainda pior, foi o afastamento de Dilma que interrompeu a caminhada a passos largos rumo ao abismo. Bem entendido, sua saída não fez com que as coisas melhorassem, – mas que parassem de piorar.
Fosse Michel Temer, fosse quem fosse, a simples mudança interrompeu a estagnação, trouxe um mínimo de planejamento e favoreceu a retomada da confiança. Como consequência, o Brasil subiu alguns poucos degraus e a crise começou a perder força.
Se Temer é pior ou melhor, pouco interessa. Não foi sua chegada que salvou o Brasil; mas a saída de Dilma é que impediu o colapso fatal.

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