Campos registra segundo dia de longas filas para abastecimento em postos de combustíveis
Verônica Nascimento e Dora Paula Paes 29/05/2018 09:12 - Atualizado em 01/06/2018 14:49
  • Fila para abastecimento (Foto: Paulo Pinheiro)

    Fila para abastecimento (Foto: Paulo Pinheiro)

  • Fila para abastecimento (Foto: Paulo Pinheiro)

    Fila para abastecimento (Foto: Paulo Pinheiro)

Campos amanheceu nesta terça-feira (29), nono dia de paralisação dos caminhoneiros, já com filas em torno de postos de combustíveis, o que acabou gerando engarrafamentos em vários pontos da cidade. Desde essa segunda (28) motoristas tentam abastecer seus veículos, após a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Exército escoltarem a saída de caminhões da Cacomanga, na Tapera, para abastecer os postos do município. No km 75 da BR 101 (Campos-Rio), diminuiu o número de caminhoneiros concentrados, mas eles garantem que a greve continua, com protestos e chamamentos para adesão até por mais dois meses. A reivindicação imediata é baixar o preço do óleo diesel para R$ 3 e congelar o preço por um ano. Outro ponto de concentração do grupo, desde as 12h desta terça, é o acostamento, no sentido Niterói, do km 120, na localidade de Serrinha. O Exército mantém o monitoramento em dois pontos na BR 101 em Campos: no km 75 e no posto de combustível na altura da Tapera, onde caminhões estão estacionados desde o começo da paralisação.
— As pessoas estão correndo para abastecer seus carros, mas a luta dos caminhoneiros também é delas. Tem gente dando graças a Deus por colocar gasolina a R$ 5,29 o litro e esquecendo que o governo já liberou aumento para a gasolina e o etanol. O Brasil está praticamente parado, e o que pedimos é que o preço do diesel, que já chegou a R$ 3,30, baixe para R$ 3 e fique congelado por um ano. Se não chegarmos a um acordo e, por algum motivo, a paralisação acabar, já estamos organizando outra para seis meses depois — contou o caminhoneiro Márcio Oliveira.
Na avenida 28 de Março, as filas causaram diversos engarrafamentos durante o dia. Na rua dos Goitacazes, a fila dobrava o quarteirão para o posto, onde a gasolina comum acabou no início desta terça, restando apenas a aditivada e o etanol. Os veículos ocupavam as ruas paralelas e transversais ao posto.
— Vi pela internet que a gasolina está a R$ 5,18 e teve gente dizendo que o preço é um absurdo. Para quem já chegou a pagar R$ 5,99, está muito bom — comentou a cabeleireira Edilania Marvila, do Fundão, que aguardava, na rua José Rufino de Carvalho, já havia meia hora, para colocar gasolina na moto, sem saber que só teria opção pela aditivada.
Com a escassez, motoristas relataram que o preço da gasolina disparou em alguns postos. Na segunda-feira, algumas pessoas abasteceram com gasolina comum a R$ 5,09. Nesta terça, em um posto em Donana, o mesmo combustível está sendo vendido a R$ 5,29, para pagamento só a vista. O preço, segundo os consumidores, está variando de posto a posto. Algumas pessoas relatam preço de até R$ 8 reais pela gasolina comum.
Monitoramento em rodovia — O Exército continua a monitorar o km 75, em Ururaí, e o posto de combustível na Tapera. De acordo com o capitão Kurlan, a presença de militares da 2ª Companhia de Infantaria do Exército em Campos (antigo 56º BI) na Tapera é para garantir a sensação de segurança: “A paralisação é pacífica desde o começo, mas nossa presença gera tranquilidade e segurança de que o caminhoneiro que não quiser ficar retido poderá seguir viagem”, explicou.
— Muitos querem se aproveitar, mas os caminhoneiros não têm partido e nem somos baderneiros. Fazemos uma manifestação pacífica e gostaríamos da população junto com a gente, não para doar alimentos, mas para se manifestar e apoiar o movimento, que é para todos os brasileiros — declarou o mineiro Mário Antônio Cabral, caminhoneiro há 27 anos.
Lojistas — A Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL-RJ) e a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos pediram nesta terça-feira “prudência” e “senso de coletividade”. As instituições dizem que “reprovam qualquer iniciativa dos que queiram se aproveitar da preocupação dos brasileiros com o desabastecimento de itens perecíveis para aumentar o preço de produtos, em especial os de primeira necessidade". 
A CNDL, FCDL-RJ e a CDL Campos ressaltam que “apoiam o movimento promovido pelos caminhoneiros e todos os brasileiros sofrem com o excesso de tributos e isso deve ser um motivo de união”.
O governo recuou no nono dia da possibilidade de aumentar impostos para compensar o diesel mais barato. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o governo “não pensa” em aumento de impostos, hipótese levantada pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. O governo ainda ressalta que não há dinheiro para baratear o preço do gás de cozinha — vendido em Campos nesta terça por R$ 75 — e da gasolina.
Na Alerj — No caso da redução do ICMS no Estado do Rio, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) adiou a votação no plenário da Casa.
Intervenção não “é varinha de condão”
A primeira faixa pedindo “intervenção militar” no movimento em Campos apareceu na última sexta-feira. A justificativa, na ocasião, foi de que era para conseguir “proteção do Exército em caso de represália”. Mas, elas se proliferaram em forma de faixas menores, deixando dúvida quanto à condução do movimento: ação pontual por redução de preço do combustível ou puramente politiqueira, com apoio de correntes que defendem “esquerda” e “direita”. No nono dia de paralisação na cidade, elas apareceram no buzinaço e também no muro de entrada na frente da Segunda Companhia do Exército em Campos.
O Exército vem atuando no município na BR 101 de forma pacífica para ajudar no direito de ir e vir dos motoristas que desejam seguir viagem, além no transporte dos caminhões com combustíveis.
Mais cedo, o general Hamilton Mourão, na reserva desde fevereiro deste ano, disse durante entrevista a Veja, em Porto Alegre, que é contra a intervenção militar desejada por parte dos caminhoneiros que estão em greve desde a semana passada.
Mourão enfatizou que intervenção militar não é “solução imediata” e que não é “varinha de condão” que faz “plim, plim” e “está tudo resolvido”. “O país não tem que ser tutelado pelas Forças Armadas”, afirmou.
  • Caminhoneiros concentrados na BR 101

    Caminhoneiros concentrados na BR 101

  • Caminhoneiros concentrados na BR 101

    Caminhoneiros concentrados na BR 101

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