Presidente e fundador do Mão Amiga é morto na sede do Instituto
Paula Vigneron e Daniela Abreu 08/05/2017 11:29 - Atualizado em 09/05/2017 14:06
Ação do projeto Mão Amiga
Ação do projeto Mão Amiga / Paula Vigneron
Um crime bárbaro chocou Campos na madrugada desta segunda-feira. O agente social Adriano Ferreira Machado, de 47 anos, fundador do Instituto Mão Amiga, foi assassinado a golpes de cavadeira, ferramenta usada na construção civil, dentro da sede da instituição, na rua da Paz, no Novo Jóquei. O suspeito seria um dos auxiliados por ele, que prestava serviço de pedreiro na obra de uma casa de passagem que seria construída anexa ao instituto. Um dos assistidos pelo instituto chegou a se apresentar na delegacia e teria dito ter sido coagido a participar da ação, sendo considerado testemunha. O velório de Adriano acontece na 1ª Igreja Batista do IPS e o sepultamento será nesta terça-feira (9) no Cemitério do Caju, às 14h. Até o fechamento desta matéria, a Polícia Civil ainda ouvia a testemunha e fazia diligências.
Segundo a Polícia, Adriano foi morto dentro do imóvel e arrastado para a obra, na parte externa. O carro dele, uma Brasília amarela usada para distribuir comida para pessoas em situação de rua, foi usada para a fuga e para levar objetos de valor do local. No início da tarde desta segunda, o veículo foi encontrado, com alguns pertences da vítima, abandonado na estrada da Codin.
Na noite desta segunda e durante a madrugada, horas antes do crime, Adriano divulgou vídeos em sua página numa rede social. Em um deles, a vítima mostrava duas pessoas que estavam sendo atendidas no instituto. Já no outro, gravado na madrugada, por volta das 03h30, Adriano relata um possível furto de materiais de construção, flagrado por ele, no lado de fora do imóvel. Também neste vídeo, é possível ver a imagem de um assistido que entra na sede do Mão Amiga e tenta evitar a filmagem do seu rosto.
Segundo o delegado titular da 134ª Delegacia de Polícia, Geraldo Rangel, o homem que se apresentou, considerado como testemunha, disse que foi coagido a participar do crime. Sem maiores detalhes o delegado disse que os três, testemunha, suspeito e vítima estavam na casa: “Ele confirma que viu o que aconteceu. A Polícia já tem uma linha de investigação e está aguardando alguns informes. Já fomos à casa de alguns parentes dele, para ver se alguém o convence a se entregar”.
Informações levantadas pela Polícia dariam conta de que duas pessoas teriam participado do assassinato e depois, ficado por um tempo na casa. No local do crime teriam sido encontradas roupas sujas de sangue e marcas de sangue no regulador de temperatura do chuveiro. Saquinhos com resquício de um pó branco também teriam sido encontrados no local onde os assistidos ficavam. A testemunha teria contado que após o crime foi ameaçado e obrigado a dirigir o carro da vítima até o Parque Guarus, onde foi liberado.
Luciano Ferreira Machado, de 48 anos, irmão da vítima, disse que a mãe, de 78 anos, sabe do ocorrido com o filho pelo qual lutou para livrar das drogas, mas não da crueldade da morte. Segundo ele, Adriano viveu para servir e assim o fez: “O projeto dele era muito bonito. A gente compreendia porque ele foi morador de rua, então ele viveu isso e quando Deus o recuperou, ele quis ajudar as pessoas com quem ele convivia. Ele se doava ao projeto e vivia 24 horas em função disso. A gente sabia que era arriscado e avisava, mas era um trabalho bonito. Ele vivia para isso, ele amava o que fazia”.
Veículo de Adriano foi encontrado
Veículo de Adriano foi encontrado / Daniela Abreu
Atividades — O Instituto Mão Amiga é uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em 20 de maio de 2013. Em entrevista à Folha da Manhã, em abril deste ano, Adriano contou que o trabalho da ONG visava proporcionar bem-estar a quem mora nas ruas. O nascimento do projeto está relacionado à vida de Adriano, que foi morador de rua por 19 anos. Com apoio da mãe, ele foi internado em uma casa de repouso evangélica, onde teve a oportunidade de recomeçar a vida.
— Eu era usuário de drogas. Foi um longo período até eu me reencontrar e voltar para casa. Estou livre dos vícios há 12 anos. Hoje, eu sou lanterneiro. Na ONG, oferecemos o atrativo a essas pessoas para conseguirmos tirá-las das ruas. Toda ação social é um atrativo para falar sobre o assunto. Eu passei por uma. E construí uma casa, no Jóquei, que é um alojamento para dez pessoas, pós-casa de recuperação. É um local para morar, por três meses, enquanto trabalha. Essa é a mão amiga que nós vamos dar — detalhou Adriano na ocasião.
Familiares, amigos e vizinhos se reuniram em frente ao local do crime
Familiares, amigos e vizinhos se reuniram em frente ao local do crime/Paulo. S. Pinheiro

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