CRDI completa 15 anos de existência
Suzy Monteiro 21/04/2017 17:42 - Atualizado em 24/04/2017 12:41
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Diretor do CRDI, Luiz José de Souza / Divulgação
Em 2002, Campos foi a primeira cidade do Brasil a ganhar um Centro de Referência da Dengue (CRD). Nestes 15 anos, os números impressionam: foram quase 194 mil atendimentos de pessoas com suspeita de dengue, 130 mil notificações e 34.459 casos confirmados, gerando 6.234 internações. Impressiona, também, que, passando por quatro epidemias, o número de óbitos pela doença seja de 12. “Não podemos dizer ‘apenas’ 12 mortos. Cada óbito foi uma família que sofreu ao perder um ente querido. Porém, conseguimos salvar milhares de pessoas porque Campos decidiu, lá atrás, investir em um Centro de Referência que, atualmente, é exemplo para o Brasil inteiro”, destaca o diretor do hoje Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI), Luiz José de Souza.
O então CRD surgiu em 2002, ainda no governo Arnaldo Vianna, durante a primeira grande epidemia de dengue. Luiz José, que já estudava a doença, foi chamado para coordenar. O CRD fez jus ao nome e tornou-se referência, não só em Campos, mas para o Estado do Rio e o Brasil. Importantes institutos, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já publicaram estudos em revistas científicas nacionais e internacionais com base na experiência adquirida no órgão.
— Esses 15 anos foram muito importante para a Medicina de Campos e para a comunidade campista. Temos um serviço que tivemos mais de 130 mil casos notificados e mais de 6 mil internações. Durante este tempo foram 12 óbitos por Dengue. Tivemos nesse período cerca de 200 acadêmicos, que participaram das atividades científicas. Produzimos mais de 50 trabalhos científicos. A nossa preocupação sempre foi com a qualidade na assistência e temos o principal objetivo que é evitar óbitos. Serviço reconhecido por entidades como Fiocruz e que temos a parceria intensa neste período. No último livro da dengue (publicado ano passado, trazendo, também, pela primeira vez no País, relatos sobre zika e chikungunya), conseguimos escrever toda nossa experiência e vivência com as doenças infecciosas. Hoje, sinto enorme satisfação em trabalhar em um serviço que fundamos e idealizamos. E o mais importante: temos contribuído para uma melhor formação dos estudantes de Medicina — afirma Luiz José.
Importância do serviço realizado é destaque
Chefe do Laboratório de Imunologia Viral, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), pioneiro no estudo de imunopatologia de dengue, Elzinandes Leal de Azeredo, destaca que, embora o percentual de indivíduos que evolui para a forma mais grave de dengue seja considerado pequeno, estudos que avaliem mecanismos imunológicos e patológicos são fundamentais à compreensão da doença.
— Foi fundamental nossa parceria com o CRDI. Dentre trabalhos publicados através dessa parceria, destacamos estudo recente publicado no American Journalof Tropical Medicine and Hygiene, que avaliou 153 pacientes com dengue do RJ (CRDI, Campos de Goytacazes). A pesquisa demonstrou que extravasamento plasmático, sangramento gastrointestinal e derrame pleural — características da forma grave da doença — foram mais frequentes nos casos com confirmação laboratorial de infecção pelo sorotipo de dengue 2. Por outro lado, pacientes que tiveram infecção pelo sorotipo dengue 4 apresentaram sintomas mais brandos. Esse resultado, assim como outros, poderão auxiliar na geração de estratégias de prevenção de casos graves destacando a importância dos estudos e da parceria com CRDI — disse Elzinandes.
Pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz, Marciano Viana Paes destaca a importância do CRDI como fonte de pesquisa: “Não é só na vigilância epidemiológica, mas, também, na virologia e sorologia”.
Marciano lembra que existem várias epidemias acontecendo no país, o que causa variação no sorotipo em cada estação. E ressalta que, hoje, não é apenas dengue, mas, também, zika e chikungunya: “Ano passado, no caso de zika, realizamos estudos detalhados de placenta, em virtude de casos que evoluíram para microcefalia. O CRDI ajudou bastante, no diagnóstico e obtenção de resultados”, destaca, lembrando, ainda, que este ano a zika diminuiu, mas ainda são muitos os casos de dengue.
Unidade diagnosticou várias outras doenças
Com o tempo, o CRD (hoje chamado CRDI) virou o destino para quem aparecia com sintomas que, até então, eram considerados corriqueiros, como febre, dor no corpo, cansaço. Na verdade, estes sintomas escondem inúmeras doenças, que acabam diagnosticadas no Centro de Referência. “Acho que o CRDI hoje é o local onde mais se diagnostica, por exemplo, casos de HIV”, cita o diretor administrativo do Laboratório Plínio Bacelar, Carlos Bacelar. O laboratório realiza exames em pacientes do CRDI desde o início do seu funcionamento.
Foi no CRDI que Tagli Gomes da Silva, de 38 anos, recorreu em julho do ano passado, quando apareceu com algumas manchas no corpo e um sangramento na gengiva: “Achei que estava com dengue hemorrágica”. Não estava. No CRDI foi encaminhado para exames no Plínio e o laboratório comunicou imediatamente a Luiz José sobre o paciente com plaquetas baixas (na ocasião, em torno de 16 mil).
Tagli foi internado e, então, começou a busca por um diagnóstico, que foi confirmado três dias depois: leucemia. Após ficar alguns dias internado em Campos, ele seguiu para o Inca, no Rio e, em janeiro veio a notícia de que, enfim, a doença estava controlada.
— O CRDI ajudou muito no tratamento. Não fiquei debilitado como muita gente fica por conta da demora em descobrir a doença. E lá fui muito bem assistido por toda a equipe. Posso dizer que o Centro de Referência foi fundamental para salvar minha vida — concluiu.
Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI)
Plínio Bacelar é o parceiro mais antigo
O parceiro mais antigo do Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas é o Laboratório Plínio Bacelar, que, desde o início dos trabalhos, há 15 anos, realiza exames para diagnóstico da dengue. O resultado – na maioria dos casos, até no mesmo dia - permite um tratamento rápido e adequado do paciente.
Diretor-administrativo do laboratório, o biólogo Carlos Bacelar explica como surgiu a parceria que continua existindo: “O Laboratório recebeu o convite para realizar os exames para o CRD devido a expertise que tínhamos em referência à sorologia da dengue. O Laboratório foi quem validou os testes da Medivax, que foi a primeira empresa no Brasil a importar os kits e fazer a sorologia para dengue. Além disso, também havia a rapidez com que entregávamos. Os exames eram colhidos de manhã e a tarde já estavam nas mãos dos médicos do CRD. E isso, provavelmente, evitou muita complicação de doença, muita internação de paciente e até muita morte, pela agilidade no atendimento deles lá também”.
Ele destaca que o tipo de informação que foi sendo adquirida com o decorrer do tempo e a capacidade de armazenagem de amostras positivas fizeram com que a Fiocruz procurasse e fizesse do CRD, e do próprio laboratório, uma fonte de pesquisas: “No recente livro sobre Dengue, Zika e Chikungunya, de Luiz José de Souza, o laboratório tem um capítulo inteiro dedicado a ele e a experiência adquirida ao longo dos anos”, relata Bacelar.

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