Dez anos de trabalho e dedicação
Há 10 anos, crianças e adolescentes da comunidade da Margem da Linha, em Campos, passaram a receber uma nova atenção e olhar. Uma nova sede do Centro Juvenil São Pedro, que funciona no Parque Rodoviário, foi construída e abriu as portas para a população, oferecendo não só cursos, mas também apoio às famílias e a identidade das crianças como pertencentes à sociedade. Segundo o articulista social da unidade, Renato Gonçalves, esta é uma forma de cumprir o estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para garantir direitos básicos e contribuir com a formação de cidadãos conscientes e atuantes.
Renato contou que as crianças, de quatro a 18 anos incompletos, frequentam o projeto no contra turno escolar. Não há trabalho de reforço no conteúdo didático, mas as oficinas contribuem com a ampliação da capacidade cognitiva, auxiliando assim no desempenho escolar. No Centro Juvenil, as crianças têm acesso à oficina de cerâmica, informática, teatro, acesso a práticas esportivas, recebem preparação para o trabalho e cultura africana, como forma de resgate da identidade e valorização das origens.
As crianças e famílias também recebem acompanhamento psicológico. Os pais participam de reuniões em grupo, onde temas como a violência familiar são debatidos. “Quando há crianças que trazem relatos de violência, essa família é chamada individualmente para debater o assunto”, disse Renato que revelou que nos 10 anos de trabalho muitos se perderam no caminho, mas os casos positivos fazem tudo valer a pena.
— A gente comprova que a solução não é a redução da maioridade penal. Se as coisas forem ofertadas sempre haverá respostas positivas — disse Renato ao acrescentar que além de atendimento psicológico, as crianças também contam com fonoaudiólogo e assistência social.
Apesar da unidade na comunidade da Margem da Linha ter completado 10 anos, as ações do Centro Juvenil já atendiam a comunidade antes, mas sem uma sede própria, que nasceu depois que moradores pediram o auxílio do Colégio Salesiano Dom Bosco para a construção de uma capela em homenagem a São Pedro. O projeto funciona com repasse da Prefeitura, doações e também trabalho voluntário, eventos abertos à comunidade e contribuição dos salesianos.
Com a transferência de parte da comunidade para casas do Morar Feliz das localidades de Tapera e Ururaí, cerca de 50% das crianças atendidas deixaram o projeto pela dificuldade na locomoção. Diante de pedidos das famílias, a instituição arrecadou fundos para a compra de um ônibus, totalmente custeado pelo próprio projeto.
Segundo Renato, muitas famílias aceitaram a mudança, mas a grande maioria deixou a comunidade por falta de opção diante do Programa.
Em nota, a secretária de Desenvolvimento Humano e Social, Sana Gimenes, disse que “todas as questões envolvendo os moradores da Margem da Linha e toda aquela área estão sendo estudadas pela equipe técnica do órgão. Segundo a secretária, há questões legais que precisam ser analisadas. A secretaria reafirma seu compromisso com o social e lembra que está aberta ao diálogo”.