Paraíso na rota da febre amarela
Aldir Sales 01/04/2017 23:05 - Atualizado em 03/04/2017 14:42
João Rafael Marins - Divulgação
Macaco muriqui-do-Sul / João Rafael Marins - Divulgação
Você conhece o muriqui-do-sul? O maior primata da América, que pode medir até 1,5 metro de comprimento, é uma das espécies ameaçadas de extinção e vive bem perto do maior centro urbano do interior do estado do Rio de Janeiro. A aproximadamente 70 km do Centro de Campos, está localizado o Parque Estadual do Desengano (PED), que também abrange os municípios de São Fidélis e Santa Maria Madalena. O local é o lar de outros animais raros como a onça parda, macuco e a preguiça-de-coleira, além de outros primatas, como bugio e o macaco-prego. No entanto, este paraíso natural repleto de belas cachoeiras, natureza exuberante e rica fauna entrou na rota da febre amarela silvestre. Não existe comprovação da circulação do vírus nos limites do parque, mas três macacos mortos pela doença foram encontrados no entorno da área, o que liga o sinal de alerta na região. Já são nove casos confirmados no estado, sendo um em São Fidélis, outro em São Pedro da Aldeia e sete em Casimiro de Abreu, próximo de duas reservas que abrigam um dos maiores símbolos da preservação ambiental no Brasil, o mico leão dourado.
A doença transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes tem alto índice de mortalidade entre algumas espécies de primatas, como o bugio e sagui, enquanto outras possuem resistência ao vírus. Como não havia a incidência de febre amarela nos ambientes dos muriquis-do-sul, não se sabe qual é a reação do animal.
— Não temos registrado um grande número de mortes de macacos aqui, ao contrário do que aconteceu em Minas Gerais e no Espírito Santo. Encontramos menos de dez animais mortos na área do parque e nenhum teve confirmação de febre amarela — contou o gestor do PED, Carlos Dário.
Ele lembrou que o primata achado sem vida na região de Rio Preto, em Campos, não estava na área do parque, assim como os outros dois em São Sebastião do Alto, na Região Serrana. No entanto, o gestor da reserva advertiu que é recomendável ter mais alguns cuidados ao visitar a área. “Não estamos proibindo a circulação de ninguém, até porque é uma área muito grande, mas recomendamos que quem for visitar o parque esteja vacinado, utilize repelente e com a roupa longa para evitar os mosquitos”, contou.
João Rafael Marins - Divulgação
Muriqui-do-sul / João Rafael Marins - Divulgação

Na última segunda-feira (27) foi confirmado o primeiro caso em humano no Norte Fluminense. Um jovem de 23 anos, morador de São Fidélis, foi internado no dia 16 de março com sintomas da doença e recebeu alta na sexta-feira (24), mas o resultado positivo do exame saiu apenas na semana passada. Segundo a Prefeitura de São Fidélis, o paciente chegou a acampar em uma área nas proximidades do Desengano.
O infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Edmilson Migowski, explicou que o vírus da doença pode ter chegado à região por causa do movimento natural dos animais e dos insetos. “Uma das possibilidades é de que os mosquitos infectados nos estados vizinhos picaram grupos de macacos que migram nas florestas para outras áreas, onde encontram mais mosquitos, que voaram para outra área com mais macacos, em um movimento de meses, até chegar ao interior do Rio”, relatou.
No entanto Migowski afirmou que os macacos não transmitem a doença e são importantes para os humanos, pois quando aparecem mortos, servem de alerta para a circulação do vírus.
Mico leão dourado deve ser preservado
Em Casimiro de Abreu, onde já foram registrados sete casos de febre amarela, incluindo uma morte, a preocupação ambiental é com outra espécie de primata. O município fica entre as reservas biológicas União e Poço das Antas, últimos refúgios no mundo inteiro do mico leão dourado. Segundo a ONG de preservação ambiental WWF, são estimados que apenas 3 mil animais da espécie que se tornou símbolo da preservação ainda vivam na região.
Também não existe o conhecimento se o mico é resistente ou não à doença, o que gera a preocupação de quem cuida da preservação da espécie. “Estamos alertas noite e dia. Se os micos-leões-dourados forem sensíveis ao vírus, não terão escapatória. Não terão para onde ir. Será uma devastação”, disse o secretário executivo da Associação Mico Leão Dourado, Luís Paulo Ferraz.
Após a confirmação dos primeiros casos em humanos na região, uma delegação especializada de técnicos do ministério da Saúde, secretaria de Estado de Saúde e da Fiocruz, estiveram em Poço das Antas para realizar um levantamento sobre a situação da febre amarela e as consequências que pode haver para os animais. Além de mosquitos, também estão sendo recolhidos sangue dos micos para análise.
No dia 22 de março, os corpos de dois micos-leões-dourados foram encontrados à margem da BR 101, em Silva Jardim, na altura de Poço das Antas. As amostras foram enviadas para exame no Rio de Janeiro. No entanto, a principal suspeita é de atropelamento.
Vacinação começou antes de primeiros casos
Antes mesmo dos primeiros casos, a secretaria de Estado de Saúde realizou um bloqueio vacinal para a febre amarela nas cidades consideradas prioritárias, nas divisas com Minas Gerais e o Espírito Santo. Posteriormente, a área de imunização foi ampliada para outras cidades do Norte e Noroeste Fluminense, em especial no entorno do Parque Estadual do Desengano. A medida, segundo Edimilson Migowski, foi importante para reduzir o impacto da doença na região.
— O Estado não apostava que a febre amarela fosse aparecer em Casimiro. A medicina não é exata. Dentro do cenário, é preciso avaliar os dados epidemiológicos para definir os critérios. Poderia ser pior se não houvesse a vacinação no Norte e Noroeste. Houve um acerto na região — disse o infectologista.
Em Campos, a secretaria municipal de Saúde anunciou que mais de 200 mil pessoas já foram imunizadas. A partir desta segunda-feira (3), a ação vai acontecer em 31 postos de vacinação espalhadas por diversos bairros. A meta é vacinar 400 mil pessoas.

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