Garotinho em prisão domiciliar
31/12/2016 05:02 - Atualizado em 13/09/2017 20:38
Arnaldo Neto
Foto: Reprodução de vídeo
O ex-governador Anthony Garotinho (PR) recebeu alta hospitalar na manhã de dessa terça-feira (23) e foi levado pela Polícia Federal para um apartamento no bairro do Flamengo para cumprir prisão domiciliar. A posse do apartamento é um mistério, já que a defesa não quis se manifestar e Garotinho sempre sustentou que sua única propriedade era a “casinha na Lapa”, em Campos. O imóvel é o mesmo onde ele foi preso preventivamente há uma semana. O ex-governador é acusado de comandar “com mão de ferro um verdadeiro esquema de corrupção eleitoral no município”, como citou o juiz Glaucenir Oliveira, da 100ª Zona Eleitoral, em trecho da decisão. Estava prevista para esta quarta-feira (23) a análise no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de uma liminar impetrada pela defesa do ex-governador, mas o habeas corpus não consta na pauta até o momento. Na sexta (18), a ministra Luciana Lóssio determinou a transferência de Garotinho da unidade hospitalar do Complexo Penitenciário de Bangu e que, passado o período de tratamento, ele ficasse em prisão domiciliar até essa análise. Nessa terça, na tribuna da Câmara, a deputada Clarissa Garotinho (sem partido) chorou ao comentar sobre a prisão do pai.
A delegada da PF Carla Dolinski afirmou que o local onde o ex-governador cumpre a prisão domiciliar foi determinado pelo TSE. “Ele pediu para ser no Flamengo. O Garotinho vai ficar no apartamento até a decisão final. Se ele informou que tem domicílio no Rio, também, domicílio é um conceito amplo. Pelo que entendi, ele prefere e vai ficar no Rio”.
Garotinho foi preso na quarta-feira (16) no Flamengo, área nobre do Rio, como líder do “escandaloso esquema” da troca de Cheque Cidadão por votos por decisão do juiz da 100ª ZE, Glaucenir Oliveira — que cobre as férias de Ralph Manhães. De lá, seguiu para a Superintendência da PF e deveria ser transferido para Campos. No entanto, alegou um súbito mal-estar e foi internado no hospital Souza Aguiar, onde passou a primeira noite preso.
Na quinta, ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo Penitenciário de Bangu, após decisão de Glaucenir para transferência. O magistrado disse ter tomado conhecimento de regalias ao ex-governador. Garotinho se recusou a sair do hospital, mas foi levado à força, com direito a gritos da mulher e prefeita de Campos, Rosinha (PR), e da filha Clarissa. As cenas da transferência logo se espalharam pelas redes sociais. Ele foi para a UPA do Complexo de Gericinó.
Na sexta-feira, um laudo da UPA de Bangu atestou que a unidade tinha condições de atender ao ex-governador. Mas a ministra Luciana Lóssio o liberou para tratamento em hospital particular, pago por seu próprio bolso, e, posteriormente, prisão domiciliar. Já nos primeiros minutos do sábado, ele deu entrada no Quinta D’Or.
No domingo, Garotinho foi submetido a um cateterismo e a implantação de um stent. No mesmo dia, ele se recusou a ser examinado por uma equipe de peritos do Ministério Público, por ordem do juiz da 100ª. Glaucenir alegou suspeitar da idoneidade do médico Marcial Raul Uribe, que cuidou do ex-governador. No blog Ponto de Vista, hospedado na Folha Online, Christiano Abreu Barbosa mostrou que o médico foi demitido pelo ministério da Saúde por acumulação ilícita de cargos públicos e teve uma aposentadoria cassada pelo mesmo motivo. Marcial teve cargo por indicação política quando Garotinho era governador. Para Uribe, o posicionamento do juiz se deve a “questões políticas”. Na opinião dele, o ex-governador errou ao se recusar a ser examinado pela equipe do MP.
Mesmo sem a colaboração de Garotinho, os peritos tiveram acesso à documentação médico-hospitalar do ex-governador. No parecer técnico, eles afirmam que o ex-governador “estava respirando em ar ambiente, sem precordialgia, em boas condições clínicas e com os sinais vitais e todos os parâmetros dentro da normalidade”. Segundo o MP, Garotinho tinha 60% de obstrução no ramo descendente posterior da coronária direita.
Exonerado da secretaria de Governo pela esposa na última segunda, Garotinho é acusado de coação, compra de votos e associação criminosa.
No Flamengo, distante da “casinha da Lapa”
Preso em uma investigação que envolve a Polícia Federal e o Ministério Público Eleitoral de Campos, o ex-governador Garotinho, marido da prefeita de Campos, cumpre prisão domiciliar bem distante da sua “casinha na Lapa”. Ele já chegou a defender que esse era seu único imóvel, mas na declaração de bens à Justiça Eleitoral quando disputou o Governo do Estado, e foi derrotado no primeiro turno, já não constava a casa, presente na declaração de 2010 — quando foi eleito o deputado federal mais votado do Rio.
No dia em que foi ele preso, no imóvel localizado à rua Senador Vergueiro, no bairro do Flamengo, área nobre do Rio de Janeiro, o delegado da Polícia Federal Paulo Cassiano chegou a informar que o apartamento estaria em nome da filha de uma funcionária da família Garotinho. A PF também cumpriu no local mandado de busca e apreensão. A pessoa que constaria como proprietária do apartamento teria o nome de “Amanda”. Um dia depois da prisão, Wladimir Garotinho, filho do ex-governador, comentou em programa de rádio que o apartamento seria alugado.
Nessa terça, a Folha entrou em contato com a assessoria da defesa de Garotinho, contestando sobre a propriedade do imóvel. Em resposta, foi informado que “a defesa não vai se pronunciar por enquanto”.
Garotinho receberá visitas surpresas da Polícia Federal todos os dias no apartamento do Flamengo. Os agentes farão o monitoramento pelo menos três vezes ao dia e o político só pode receber visitas de familiares e de seu advogado.
A Folha tentou contato com a assessoria da Polícia Federal no Rio de Janeiro para mais esclarecimentos sobre a prisão domiciliar de Garotinho ser cumprida na capital fluminense, mas não houve resposta até o fechamento desta matéria.
* Matéria originalmente publicada em www.fmanha.com.br, em 23/11/2016, às 9h11

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