Garotinho é levado para Bangu
31/12/2016 04:58 - Atualizado em 13/09/2017 20:37
Arnaldo Neto e Marcus Pinheiro
Fotos: Alexandre Cassiano/Agência O Globo, Agência Brasil e Marcos Gonçalves
Anthony Garotinho (PR) está preso no Complexo Penitenciário de Bangu. Na noite dessa quinta-feira (17), por determinação do juiz da 100ª Zona Eleitoral de Campos, Glaucenir Oliveira, o ex-governador e atual secretário de Governo de Campos, preso nessa quarta-feira como líder do “escandaloso esquema” da troca de Cheque Cidadão por votos, foi transferido para o presídio Frederico Marques, onde poderá receber assistência médica. Por ter passado mal no dia em que foi preso, ele foi levado pelo Samu para o hospital municipal Souza Aguiar. O juiz tomou conhecimento que o réu estava “recebendo diversas regalias” na unidade em que “se encontrava sob suspeita de doença ainda sequer identificada” e determinou a transferência imediata. A deputada federal Clarissa Garotinho (PR), filha do ex-governador, e a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PR), tentaram impedir a transferência, mas no fim da noite a decisão judicial foi cumprida. Ainda nessa quinta-feira, enquanto a defesa do político tentava mais um recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para revogar a prisão, na delegacia da Polícia Federal em Campos o dia foi de protesto em apoio ao político. Na manhã desta sexta-feira (18), A secretaria de Estado de Administração Penitenciária divulgou nota informando que o preso "Anthony William Matheus de Oliveira encontra-se na UPA – Dr. Hamilton Agostinho Vieira de Castro, onde foi examinado. Ele permanece na unidade individual intermediária de tratamento, com monitoramento cardíaco e está sendo acompanhado por um cardiologista da Seap. Ele passa bem".
Garotinho entrou na ambulância gritando para que não o levassem e pediu respeito, “porque era um homem enfartado”. “Me solta, me solta. Eu sou um enfartado. Vocês me respeitem”, gritou. Rosinha acompanhava o marido e gritava que “queria ir com ele”. Clarissa estava ao lado dos pais e tentou impedir a transferência. Vídeos do momento em que Garotinho deixou o Souza Aguiar e seguiu para Bangu logo tomaram as redes sociais.
Na decisão que levou Garotinho para prisão, mais de 36 horas após ser preso, Glaucenir cita que relatórios médicos apresentados pela defesa do réu chegaram a indicar a transferência dele para uma instituição particular por ser um “direito”. “(...) declaração que não cabe ao médico fazer, posto que não é sua função indicar direitos de pacientes que estejam presos e sob custódia policial”. A declaração, segundo decisão do juiz, é assinada pelo médico Marcial Raul Navarrete Uribe.
O juiz relata ainda que a unidade prisional é adequada para a “dessensibilização”, o tratamento prévio, segundo relatório médico do cardiologista Marcelo Jardim, “para que o réu seja submetido ao exame” de cateterismo. Glaucenir determinou que o procedimento seja realizado no hospital Aluísio de Castro, no Humaitá.
Chegou a ser informado nessa quinta-feira que o exame estaria marcado no Souza Aguiar para a segunda-feira e que Garotinho ficaria no hospital até este dia. De acordo com o jornal O Globo, funcionários que estavam revoltados com as regalias do ex-governador comemoraram quando ele deixou o hospital. Somente após o resultado do exame, o juiz decidirá o local onde Garotinho ficará custodiado para cumprir a prisão preventiva.
O advogado Fernando Fernandes, que defende Garotinho, criticou a decisão do juiz: “É lastimável um juiz ultrapassar os protocolos médicos e usar a força para retirar um paciente de um hospital. Jamais se viu decisão tão prepotente, arbitrária e desumana”.
Advogado tenta outro habeas corpus no TSE
A defesa Garotinho tentou, mas não conseguiu, um recurso antes de o ex-governador ingressar no sistema prisional. O advogado Fernando Fernandes, que defende Garotinho, entrou com um novo pedido de habeas corpus no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na tarde dessa quarta-feira. O pedido foi feito depois que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio de Janeiro negou liminar pela soltura do ex-governador — da mesma forma que havia negado preventivamente.
A ministra Luciana Lóssio, do TSE, havia extinguido outra liminar pedida nessa quarta-feira pela defesa, justamente porque ainda havia uma liminar ainda não julgada pelo TRE fluminense. Agora, com a negativa do TRE, o TSE poderá analisar o pedido.
Manifestação em frente à Polícia Federal
Enquanto Garotinho estava preso e internado no Souza Aguiar, militantes políticos, membros do governo e da família estiveram mais uma vez em frente à sede da PF, em ato contra a prisão do ex-governador. Desta vez, o manifesto foi iniciado por volta das 17h e contou com a participação de cerca de 50 pessoas, incluindo os filhos do secretário de Governo Wladmir, Anthony e Clara. Com vendas nos olhos, faixas e caixa de som, os integrantes do manifesto entoaram o Hino Nacional, além de palavras de apoio ao político e acusaram a Justiça de ser “cega”.
Além dos manifestantes anônimos, estiveram em frente à PF Thiago Virgílio (PTC), que foi preso no mês passado na operação Chequinho; Thiago Ferrugem (PR); o presidente da Codemca, Wainer Teixeira; e o secretário de Comunicação, Sérgio Cunha.
Para Wladmir, a prisão do pai é arbitrária e deve ser revogada. Segundo ele, os atos, em prol da soltura do ex-governador vão continuar por tempo indeterminado. “Nós vamos continuar nos manifestando, até que a gente ache justo. Este é um direito democrático. Garotinho não roubou, não enriqueceu e não meteu a mão no dinheiro público”.
Para conter o protesto, quatro viaturas da Polícia Militar foram deslocadas para as imediações da PF. O trânsito no local chegou a sofrer retenção, e ficou lento por aproximadamente 30 minutos.
Familiares do político saíram em sua defesa
Os políticos da família Garotinho têm defendido o patriarca. Wladimir, que estava no protesto dessa quarta-feira em Campos, comentou sobre a citação que a radialista Beth Megafone fez sobre ele e o pai à PF. O depoimento dela foi considerado fundamental para a prisão de Garotinho. “Ela mesmo se contradiz. Uma pessoa dessa não sei se merece tanta credibilidade como estão dando. Quem conhece Beth sabe da vida dela e eu preferi me manter em silêncio em relação a ela”.
Clarissa tem acompanhado o pai em todos os momentos desde que foi preso. Para a ela, a unidade de saúde do presídio não tem condições de atendê-lo, pois não teria unidade coronariana. Nessa quarta-feira, no momento da transferência, chorava muito, precisando ser acalmada.
No Souza Aguiar, Rosinha acompanhou o marido. Quando ele foi levado para Bangu, ela gritava: “Meu marido não é bandido”. A prefeita quase desmaiou e tentou acompanhar o marido na ambulância. “Deixa eu ir com ele. Eu quero ir com ele”, gritou.
* Matéria originalmente publicada em www.fmanha.com.br, em 18/11/2016, às 9h11

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