Apenas 5% dos brasileiros estão em acompanhamento contínuo de psicoterapia neste momento no país. Os números também mostram que jovens, estudantes, brancos, mulheres e pessoas com maior renda e escolaridade compõem a parcela da população brasileira que mais procura os serviços de psicoterapia. Intitulado "Panorama da Saúde Mental no Janeiro Branco 2025", o levantamento foi realizado pelo geógrafo William Passos e cruza as estatísticas dos consultórios particulares disponíveis na Internet com as informações da base do Instituto Cactus e do Instituto AtlasIntel, que desenvolveram uma ferramenta de monitoramento da saúde mental dos brasileiros.

Metodologia do levantamento

No caso da base do Instituto Cactus e do Instituto AtlasIntel, as informações foram extraídas de uma metodologia inovadora, que realiza a coleta de dados a partir do preenchimento de formulários web, disponibilizados na Internet. "Por ser anônima e realizada em ambiente on-line, a metodologia da coleta reduz o viés de estigma que o tema de saúde mental carrega, tornando as informações da base estatística do Instituto Cactus e do Instituto AtlasIntel mais confiáveis do que aquelas provenientes das entrevistas presenciais mais tradicionais", atesta o geógrafo com especialização doutoral em estatística pelo IBGE, que coordenou o levantamento.

Apenas 2% dos idosos no Brasil buscam psicoterapia

A pesquisa também mostra que, embora com maior risco do desenvolvimento de transtornos como a depressão, em razão do envelhecimento, apenas 2% dos idosos no Brasil buscam os serviços de psicoterapia, a menor taxa entre todas as faixas etárias. No recorte por educação, são as pessoas com educação superior que buscam mais a ajuda de psicólogos. "Apenas para efeito de comparação, 10% das pessoas com educação superior procuram psicólogos, enquanto somente 1% das pessoas com o ensino fundamental completo buscam esse serviço. Também é importante pontuar que enquanto 5% dos brasileiros estão em acompanhamento contínuo de psicoterapia neste momento no país, 16% estão tomando algum tipo de medicamento. Isso é preocupante na medida em que a psicoterapia, e a não a medicação, é a principal indicação de terapia primária para lidar com questões de saúde mental. Cerca de 19% dos brasileiros chegaram a se consultar em algum momento do ano passado com algum psicólogo ou psiquiatra, mas a maioria não passou de cinco consultas ou sessões" - acrescentou o coordenador do levantamento.

Nos consultórios particulares, maioria dos usuários permanece em psicoterapia

Outra referência utilizada pelo geógrafo William Passos são as estatísticas dos consultórios particulares disponíveis na Internet. Nessa modalidade de atendimento, a maioria dos usuários, cerca de 60%, permanece em psicoterapia por mais de um ano, enquanto 18% interrompem a busca pelo serviço com menos de 12 meses e, respectivamente, 12% e 14% deixam de procurar atendimento com menos de seis meses e menos de três meses após o início da procura.

Nos consultórios particulares, ansiedade é a principal causa de atendimento

Outro importante resultado apresentado pelo levantamento são as causas primárias de busca por atendimento nos consultórios particulares de psicoterapia do país. De acordo com as informações fornecidas pelos próprios consultórios, 40% da procura primária por atendimento de psicoterapia é motivada por algum transtorno associado à ansiedade, como, por exemplo, ataques de pânico, preocupação excessiva e medos irracionais.

Na sequência, com 16% das causas primárias por procura, aparecem problemas relacionados ao trabalho, como, por exemplo, eventos estressores e insatisfação relacionada ao ambiente profissional.

Na terceira colocação aparecem as dificuldades de relacionamento, com 14% das causas primárias de procura. Entre as motivações da busca por ajuda, nesse caso, estão problemas de comunicação, além de conflitos frequentes e de difícil gerenciamento com familiares e amigos.

Também motivada por dificuldades de relacionamento, a terapia de casal aparece na quarta posição, com 10% da procura primária por ajuda, os mesmos 10% da depressão, que surge na quinta colocação, uma condição clínica que afeta profundamente o humor, a energia e a qualidade de vida das pessoas.

Não menos importante e com profundos impactos sobre a vida das pessoas, o luto familiar derivado da perda de um ente querido, na sexta colocação, igualmente com 10%, também aparece como uma das principais causas de procura primária por ajuda nos consultórios particulares de psicoterapia brasileiros, de acordo com a pesquisa.

O levantamento reforça que não há estatísticas disponíveis para os municípios brasileiros e convida as Prefeituras, através de suas Secretarias Municipais de Saúde, a construírem bases de dados confiáveis capazes de ajudar a iluminar o Panorama da Saúde Mental no Janeiro Branco 2026.