Catarine Barreto e Aluysio Abreu Barbosa
16/06/2023 11:04 - Atualizado em 17/06/2023 09:58
Uma manifestação realizada por comerciantes de Campos, na manhã desta sexta-feira (16), terminou com quebra-quebra no Boulevard Francisco de Paula Carneiro (calçadão). Em protesto contra o abandono da área central, os manifestantes chegaram a colocar um caixão e cruzes em frente ao monumento do Pelourinho. O manifesto começou por volta das 8h e depois de pouco mais de uma hora um grupo de aliados do prefeito Wladimir Garotinho, entre eles o vereador Juninho Virgílio e seu primo o ex-vereador Thiago Virgílio, chegou ao local quebrando tudo. Segundo Juninho Virgílio, o grupo chegou a perguntar de quem seriam os produtos, mas ninguém respondeu. Ele informou que o grupo apenas limpou o Calçadão para garantir o direito de ir e vir do cidadão.
“A gente estava no Centro, vimos o caixão e madeiras espalhadas. Perguntamos para saber de quem era e ninguém se manifestou. Ligamos para o Edvar Júnior, presidente da CDL-Campos, e ele disse que não sabia ser de nenhum comerciante. Edvar, inclusive, estava reunido naquele momento, de manhã, com o prefeito Wladimir, junto a outros empresários do Centro de Campos, para discutir melhorias para a área. O que deixa claro não ser coincidência, mas fruto de orquestração política: o prefeito debate melhorias com o setor produtivo para o Centro, no mesmo momento em que se promove uma manifestação no Centro, sem autorização da Postura e sem ninguém para assumir? Sou a favor da manifestação, já participei de várias e sempre as assumi. Como não apareceu ninguém, o que a gente fez foi só limpar o Calçadão, sem baderna, sem violência, para garantir o direito de ir e vir dos campistas", disse o vereador Juninho Virgílio.
Segundo o comerciante Josias Silva, que trabalha no Centro há 20 anos, o objetivo do protesto foi mostrar a atual situação da área central. "O motivo é o abandono do Centro. A Prefeitura e os órgãos públicos abandonaram o Centro da cidade, que hoje virou um centro fantasma. Não existe transporte, limpeza, iluminação. Aos finais de semana parece que estamos no lixão, porque não tem recolhimento de lixo. Além de buracos por todo o lado. Falta de segurança também é outro ponto. Também não se tem acessibilidade. Como podem falar de inclusão, se o banheiro público não dá acesso aos cadeirantes, por exemplo, o que fica no terminal rodoviário e o outro na rodoviária, que é mais distante", explicou.
Protesto no Centro (Fotos: Genilson Pessanha)
Protesto no Centro (Fotos: Genilson Pessanha)
Protesto no Centro (Fotos: Genilson Pessanha)
Protesto no Centro (Fotos: Genilson Pessanha)
Protesto no Centro (Fotos: Genilson Pessanha)
Josias também falou que a manifestação repudia as ações da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic). "São os comerciantes que não concordam com a CDL e Acic, porque boa parte dos comerciantes não comungam mais com essas entidades e hoje estão fazendo uma manifestação silenciosa em repúdio tanto as organizações, como CDL e Acic, quanto também a todos os órgãos da Prefeitura que esquecem da cidade", comentou.
O protesto também pedia a reabertura da rua Carlos de Lacerda, nas imediações do antigo hotel Flávio, que está fechada desde o incêndio que atingiu o prédio histórico. "A rua do hotel Flávio está fechada há sete meses, desde o incêndio. Ninguém dá resposta de nada, ninguém sabe de nada e vai só atrofiando o Centro, porque já não temos movimento de antes. E ainda tem a questão dos R$ 200 milhões que foram gastos no Centro, sendo uma obra mal executada pela antiga prefeita Rosinha e acabou", disse Josias.
Outra comerciante que reclama do abandono do Centro é a Ana Cristina Manhães. “Isso é muito revoltante. A gente tem que pagar aluguel é funcionários e não temos a liberdade de reclamar sobre essa situação. Os clientes reclamam da rua fechada, mas não podemos fazer nada”, explicou a dona de uma loja que fica ao lado do Hotel Flávio.
Cartaz contra o prefeito Wladimir
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Genilson Pessanha
Também pode ser observado no Centro, nesta sexta-feira, cartazes colados em diversos pontos nas imediações do antigo hotel Flávio em protesto contra o prefeito Wladimir Garotinho, cobrando Saúde, Transporte e Educação. Os comerciantes alegaram que esses cartazes não têm ligação com a manifestação deles.
“A gente estava ali no Centro, nos deparamos com essa coisa de caixão, um monte de madeira espalhada ali. Fizemos contato com a Postura para saber se ela tinha sido comunicada sobre essa manifestação. Porque não pode chegar ali, no Calçadão, e espalhar um monte de madeira no chão, atrapalhando o direito de ir e vir das pessoas. E a Postura informou que não pediram autorização para fazer a manifestação. Aí, perguntamos aos comerciantes em volta: ‘vocês sabem quem é? É de vocês?’ E todos os lojistas disseram que não tinha nada a ver com eles. Fizemos contato com a CDL, que também disse a mesma coisa. Esperamos mais uma meia hora, para ver se apareciam os líderes, os responsáveis pela manifestação e nada. Daí, a gente não fez nada demais, nenhuma violência contra ninguém; só tirou as madeiras do caminho, porque estava atrapalhando as pessoas passarem. Qualquer cidadão poderia ter feito isso. Se fosse uma manifestação da CDL, Acic, Carjopa, um lojista que fosse, não faríamos nada. Só que não tinha ninguém”, disse Thiago Virgílio, ex-vereador e presidente municipal do Agir.
Durante a tarde, em um vídeo publicado em suas redes sociais, o prefeito Wladimir Garotinho comentou sobre o assunto. De acordo com Wladimir, o caso foi um fato isolado e de cunho político.
"Todos nós aqui fomos pegos de surpresa até porque na hora do incidente eu estava exatamente reunido aqui na prefeitura, no meu gabinete, com as entidades de classe, as entidades dos representantes do comércio. Um projeto do nosso governo que já está com a sua fase inicial avançada com o objetivo de dar vida novamente ao centro histórico de Campos. Quero dizer que foi um ato isolado de uma pessoa que eu até conheço, mas não cabe aqui dizer o nome. Um ato politiqueiro até porque essa pessoa já foi candidata a vereador em outras eleições, em partidos e grupos contrários ao meu. Algumas pessoas que gostam do governo e que são parte do governo, revoltados com aquela situação, desmontaram ali a manifestação que estava sendo feita. Eu como democrata, eu respeito todo e qualquer direito a manifestação que é legítima. Mas quem representa, de verdade, os comerciantes e quem representa, de verdade, o centro da cidade estava no mesmo exato momento da manifestação reunido comigo aqui na prefeitura trabalhando e propondo melhorias para o centro da cidade. Fora isso, é politicagem, e a gente deixa por conta da interpretação de cada um. Um abraço, fiquem todos na paz”, disse o prefeito.
Veja o vídeo de Wladimir comentando sobre a manifestação:
Retrofit é debatido com setor produtivo
O prefeito Wladimir Garotinho se reuniu nessa sexta com representantes dos setores produtivos de Campos para a elaboração, em conjunto, do projeto Retrofit, uma das propostas do governo municipal para a recuperação do Centro Histórico. Com o projeto, o governo municipal busca proteger o patrimônio histórico, urbanístico e ambiental do Centro, implementando um conjunto de intervenções que vão valorizar as potencialidades econômicas, culturais e turísticas, entre outras, começando com o repovoamento da área central, com a criação de moradias de interesse social. Nessa quinta (15), o Retrofit foi tema de reunião com representantes dos setores imobiliário e da construção civil.
— O Retrofit é parte do plano de revitalização do Centro. Esse projeto já vem sendo elaborado há meses e, antes de ser enviado à Câmara Municipal, chamamos os setores para que todos possam opinar e participar desse movimento de remodelação completa do Centro Histórico — disse o prefeito.
O presidente da Acic, Fernando Loureiro, considerou positiva a reunião, já que houve, ainda, a oportunidade de apresentar uma pauta de reivindicações ao poder público, para que seja inserida no novo plano de revitalização. “O momento é de diálogo e união de forças para transformar a área atrativa para os empresários e consumidores”, destacou Loureiro.