Eleição na UENF: veja o que pensam os candidatos à reitoria
Edmundo Siqueira 23/08/2023 23:26 - Atualizado em 24/08/2023 08:44
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Terá início daqui a 23 dias o processo eleitoral que a cada quatro anos movimenta a principal universidade de Campos. Entre os dias 16 (nos polos do EaD) e 19 (nos campi), a comunidade acadêmica da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) vai definir no voto qual será sua nova reitoria, autoridade máxima da instituição. Estão na disputa, Rosana Rodrigues e Fábio Lopes Olivares, à frente da chapa 10, “UENFuturo - Construindo juntos o amanhã”, e Carlos Rezende e Daniela Barros, da chapa 30, “É tempo de UENF: Juntos para avançar”.

O universo eleitoral da Uenf é de aproximadamente 8 mil votantes, divididos entre cerca de 300 professores, 600 técnicos e 7 mil alunos. Conforme definido no estatuto da universidade, os votos dos professores possuem peso maior: 70%. Alunos e técnicos dividem igualmente o percentual de peso restante. Para definir a eleição em primeiro turno, uma das chapas precisa alcançar mais de 50% dos votos desse colégio eleitoral, que caso não aconteça, tem segundo turno marcado para os dias 29 e 30 de setembro.

No mesmo período de 2019, as eleições da Uenf precisaram de dois turnos para se resolver. O atual reitor Raúl Palacio foi eleito com 51,25% dos votos, em segundo turno. Compareceram às urnas 245 professores, 429 técnicos e 1319 alunos, e foram apurados 10 votos brancos e 24 votos nulos, naquela ocasião. O baixo comparecimento dos alunos foi sentido.

As chapas de 2023

Os dois cabeças de chapa da atual eleição da Uenf também estiveram no último pleito. Liderando a Chapa 10, Rosana Rodrigues foi eleita vice-reitora de Raúl em 2019, e representa, de certo modo, a continuidade da atual gestão. À frente da Chapa 30, Carlão, como é conhecido o professor Carlos Rezende na Uenf, recebeu 48,04% dos votos na última eleição, e segue representando a oposição na universidade.

Rosana e Carlão disputarão o voto das pessoas que vivem a Uenf em seu dia a dia, mas quem sair vitorioso do pleito acadêmico fará a gestão dos próximos quatro anos de uma universidade que nasceu com a responsabilidade de ser parte importante do desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminenses, e que exerce ao longo de seus 30 anos um papel transformador na realidade local.

As entrevistas

As duas chapas foram consultadas nesta semana para que pudessem responder algumas perguntas sobre o papel da Uenf e as perspectivas de futuro da universidade. Os mesmos questionamentos foram enviados para Rosana e Carlão, e por decisão editorial, as respostas poderão ser lidas nesta mesma matéria, alternando-se na ordem que estão dispostas em cada pergunta.
Acompanhe: 

Edmundo Siqueira (Folha1) - A Uenf completou 30 anos no último dia 16. Uma universidade que nasce do sonho e da ação de muitos campistas, mas idealizada por Darcy Ribeiro. Como uma das premissas pensadas por Darcy, está a atuação da Uenf no desenvolvimento regional, com uma atenção especialmente focada no Norte e Noroeste Fluminense. A Uenf vem cumprindo esse papel?

Resposta Chapa 10 (Rosana Rodrigues e Fábio Lopes Olivares) -
São os primeiros 30 anos de uma instituição que tem se provado absolutamente imprescindível para o desenvolvimento regional e os números provam isso, seja na formação de recursos humanos altamente qualificados na graduação e na pós-graduação, colocando no mercado cidadãos muito conectados com as necessidades dos territórios, ou no desenvolvimento de produtos e processos que vêm impactando setores da economia como a agricultura, pecuária, indústria de petróleo e gás, e a própria educação. São 20 cursos de graduação e 16 programas de pós-graduação, todos muito bem conceituados. Por meio do CEDERJ, a UENF está presente com cursos de graduação semipresenciais em 13 municípios do estado. Hoje é frequente encontrarmos nossos egressos ocupando postos de comando e liderança em diversas áreas do conhecimento, seja no setor público ou privado, nos municípios do Norte e Noroeste, mas também em outras partes do Brasil e do mundo. São mais de 10 mil graduados e 4 mil pós-graduados, muitos dos quais são os primeiros de suas famílias a terem a oportunidade de cursarem nível superior, transformando completamente a vida daquelas famílias. Muitos dos nossos egressos integram hoje o corpo docente de escolas públicas e privadas, bem como de instituições de ensino superior públicas na região, contribuindo para a educação nos municípios. Com grande parte de seus objetos de pesquisa focados no Norte e Noroeste Fluminense, a UENF tem entregado resultados expressivos, como por exemplo, sementes melhoradas de feijão e milho, adaptadas às condições locais, e novos fluidos para exploração de petróleo. Além disso, existem pesquisas que possuem interesse global, como as investigações relacionadas com o avanço na compreensão do câncer; o desenvolvimento de pele sintética para cura de lesões graves; o reuso de sedimentos de dragagem na produção de materiais para a construção civil, entre outras. Merecem também destaque os cerca de 160 projetos de extensão que são conduzidos em vários municípios, levando a presença da UENF para diferentes áreas geográficas e oportunizando a participação de nossa comunidade acadêmica em ações de transferência de conhecimentos. Entre esses projetos, destaca-se o Paraesporte, o maior projeto esportivo do Brasil, voltado para pessoas com deficiências. Outra iniciativa de destaque é o Projeto Terceira Idade em Ação que visa oferecer um espaço de ações nas áreas de Assistência à Educação, à Saúde e Inclusão Social, a fim de promover melhorias na qualidade de vida da pessoa idosa, contribuir para um envelhecimento ativo, saudável, autônomo, procurando assegurar a sua integração familiar e social e o exercício da cidadania.
Esse projeto é o embrião da Universidade da Terceira Idade (UNATI/UENF), em fase de implantação, que tem como objetivo buscar, gerar e difundir conhecimentos em todos os campos do saber ligados ao envelhecimento humano. Nosso Hospital Veterinário tem realizado um trabalho extremamente relevante com animais de pequeno e grande porte, fazendo cirurgias de alta complexidade, e que em 17 anos realizou mais de 100 mil atendimentos. Em termos de inovação, a UENF abriga 23 startups que atuam principalmente na área de biotecnologia vegetal, incluindo a produção de biodefensivos e bioinsumos. Na Cultura e nas Artes, a UENF tem atuado promovendo e apoiando eventos de música, cinema e exposições, e promoveu, com recursos da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do estado do Rio de Janeiro) a completa restauração da centenária Casa de Cultura Villa Maria, um patrimônio material da população de Campos dos Goytacazes, preservando um vasto acervo de obras ligadas a campistas de grande expressão, como Gastão Machado. Considerando que a Universidade é um corpo em expansão, temos aqui uma amostra de ações que vêm sendo realizadas e do potencial de transformação que a UENF carrega.

Resposta Chapa 30 (Carlos Rezende e Daniela Barros) -
A UENF completou 30 anos, e precisamos resgatar nossa história, desde o início da caminhada da Universidade rumo a autonomia Universitária, com nosso primeiro reitor, professor Wanderley de Souza. Naquele momento, tornava-se mais vívido o compromisso da UENF em fazer parte do desenvolvimento regional, ainda temos muito para avançarmos de modo que concretamente estejamos contribuindo com a região e com as pessoas que aqui vivem. A vinda da Universidade para cá estrategicamente anunciada pelo Prof. Darcy Ribeiro, trouxe muitos ganhos num primeiro momento, os cursos das áreas de agronomia, biologia, as ciências humanas e exatas. Na última década, mais precisamente nos últimos 08 anos presenciamos uma estagnação da UENF de maneira geral em todos os nossos segmentos e hoje a instituição não debate internamente sobre quais as necessidades regionais, sobre qual é a UENF que queremos, que precisamos no futuro. E com isso, a busca por outras regiões do Estado para nossos projetos de pesquisa e extensão fica a cargo das iniciativas individuais, nos mantém timidamente afastados das demandas regionais.
Uma Universidade da envergadura da UENF deve contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento regional. Portanto, devido as nossas competências e habilidades, acreditamos que a UENF tem condições de expandir para outras regiões, como a Região Noroeste, mas sem esquecermos da missão que nos foi dada quando a UENF se instalou em Campos dos Goytacazes e em Macaé.

Edmundo - Dados os índices sociais e econômicos da região, e as políticas públicas de educação e cultura, o que faltou para que a intencionalidade da Uenf fosse cumprida com mais eficácia?
Chapa 30 - A UENF foi instalada aqui exatamente para que pudéssemos oferecer à sociedade além da formação de recursos humanos, pessoas críticas com habilidades para resolução de problemas que envolvessem os interesses regionais. Além disso, contribuir com os vários segmentos socioeconômicos e nas políticas educacionais, que permeiam desde a educação informal a formal, transformando a vida das pessoas, ensinando-os que a educação pode levá-los a lugares inimagináveis. Um ponto crítico, limitante que precisamos considerar é que existe uma descontinuidade no financiamento público, o orçamento da UENF cresceu timidamente, inclusive reduziu recentemente, tivemos inúmeras dificuldades para obter algumas conquistas e, até o momento não se honram os duodécimos e não temos autonomia financeira. Todos estes pontos dificultam muito, mas a falta de uma política institucional é o pior entrave que temos enfrentado dentro da UENF, pois os colegiados e conselhos foram ignorados internamente nesta última gestão que excedeu todos os limites.
Um exemplo desta falta de articulação institucional, foi o recente Plano de Desenvolvimento Institucional, nos deixa aquém de nossas potencialidades institucionais, e sem um plano com estratégias bem definidas e eficazes para cumprir a missão da Universidade. O resultado é que vários compromissos assumidos por esta reitoria, geraram situações de desconforto institucional por compromissos assumidos pelo reitor e sua vice-reitora, sem consulta aos colegiados e conselhos da instituição. Assim, vemos que o respeito à liturgia acadêmica na UENF precisa ser resgatado para que façamos coletivamente uma discussão sobre as demandas regionais e o rumo da Universidade para o próximo quadriênio, revendo inclusive o Plano de Desenvolvimento Institucional.

Chapa 10 - Este aparente descompasso entre os resultados das pesquisas realizadas por instituições públicas que se dedicam a estudar e propor alternativas para o desenvolvimento e às ações adotadas por poderes públicos, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, é ainda muito característico no nosso país. Portanto, esse não é um efeito isolado e deve ser analisado sob a luz de uma perspectiva histórica do surgimento das universidades no mundo. Inicialmente criadas para atender a filhos da nobreza no velho continente, as universidades até o século passado foram majoritariamente um espaço para pessoas privilegiadas e suas atividades nem sempre guardavam relação com as necessidades da população. Especialmente no Brasil, onde as Universidades são relativamente jovens (a mais antiga tem 114 anos, enquanto a Universidade de Bolonha tem 935 anos) somente no século passado, a partir das políticas de ações afirmativas que estimularam a entrada de pessoas vindas de classes sociais menos favorecidas, as instituições brasileiras passaram a desenvolver pesquisas que visam abordar questões relacionadas a aspectos sócio-econômicos de forma mais inclusiva, bem como a influência dessas instituições na elaboração de planos de educação e cultura passaram a ser mais valorizados.
As universidades são grandes repositórios de geração de conhecimento que devem ser utilizadas com mais força e frequência por gestores públicos de modo geral, inclusive por terem sido gerados a partir de investimentos de caráter público. Inúmeros exemplos poderiam ser citados, como o papel norteador importantíssimo das Universidades durante a pandemia da covid-19, mas especificamente ressaltamos aqui o trabalho do NUPERJ (Núcleo de Pesquisas Econômicas do estado do Rio de Janeiro) uma parceria da UENF com a UERJ que tem entre seus objetivos gerar conteúdos qualificados relacionados à economia do estado para apoiar o processo de tomada de decisão, tanto na esfera pública, quanto na esfera privada. O NUPERJ compila e analisa dados da atividade econômica nos municípios do estado, em especial com recorte na região Norte. Esses dados são de grande importância para os gestores públicos que devem se apropriar deles e utilizá-los sem restrição para repensar seus territórios e promover as ações que levam ao crescimento e desenvolvimento econômico e social. Penso que devemos continuar atuando com contundência na aproximação do cientista com os gestores públicos, como temos procurado fazer, não só na UENF, para que resultados da ciência sejam utilizados no embasamento de ações e políticas de interesse de toda a comunidade.Entendemos que esse é um processo de interação dinâmico e à medida em que o tempo passa e as universidades se colocam ao lado das comunidades, mais os resultados da pesquisa têm chance de chegarem de fato aos maiores interessados.

Edmundo - A Uenf recebeu em janeiro de 2022, vindos da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), 20 milhões de reais para restaurar o Solar do Colégio, prédio que abriga o Arquivo Público, e digitalizar o importante acervo da região. Quase dois anos depois, a primeira parte do recurso começa a ser aplicada. Caso a sua chapa seja eleita, qual será a postura em relação a esse fato?
Solar do Colégio, prédio que hoje abriga o Arquivo Público de Campos foi restaurado pela Uenf nos anos 1990 para ser uma Escola de Cinema.
Solar do Colégio, prédio que hoje abriga o Arquivo Público de Campos foi restaurado pela Uenf nos anos 1990 para ser uma Escola de Cinema.


Chapa 30 - Neste caso especificamente, o Prof. Carlos Rezende se posicionou em uma entrevista anterior, mas como Chapa 30, composta por Carlão & Daniela, entendemos que a próxima gestão terá que resolver esta situação e corrigir todos os equívocos que foram realizados por esta gestão que se encerra de forma muito questionável dentro da nossa comunidade acadêmica. Esse assunto, continua sendo muito delicado dentro da UENF, pois faltou debater com os docentes e técnicos da Universidade que possuem competências e habilidades na área, e, portanto, colocou a UENF num limiar perigoso, em que fomos duramente criticados quanto ao uso de verba pública e pela falta de transparência de toda etapa. No entanto, este compromisso assumido publicamente pelo reitor, nunca foi debatido internamente, inclusive no Conselho Universitário da UENF. Mas além desta situação que expos a UENF, temos outros recursos que se encontram na mesma conjuntura como a Biofábrica que recebeu cerca de 10% do valor citado e só recentemente alguma coisa passou a ser feita.
Aliás, cabe ressaltar que essas semanas que antecedem as eleições tem sido pródiga no início de inúmeras ações como obras que aguardávamos há anos e tentativas de mostrar algum protagonismo dentro da nossa instituição. Nossa chapa sendo eleita, precisaremos tomar conhecimento de muitos dos compromissos que foram assumidos pela atual gestão, colocá-los sob a mesa e iniciarmos um trabalho para entender quantos e quais são os projetos que se encontram na mesma situação. Na realidade, não sabemos o que está sendo realizado, pois a falta transparência dentro da nossa instituição é muito grande e após essa etapa, precisaremos tratar com a equipe da UENF que possui as competências e habilidades necessárias para lidar com essas questões e saber como devemos nos portar. Nossa chapa tem o compromisso de realizar as tarefas institucionais com transparência, deixamos claro que temos o compromisso de tratar o Arquivo Municipal com o devido respeito porque entendemos que se trata de um importante local, de enorme valor histórico, e repositório para pesquisas de interesse pela UENF. Também deixamos claro que temos o compromisso institucional de resgatar as relações institucionais com o município e estado, assim como com órgãos federais.

Resposta Chapa 10 - Entendemos que este processo se trata de uma oportunidade para a Universidade se aproximar ainda mais da comunidade e do território onde ela está inserida. Ao aceitar o desafio de liderar o processo de restauração de um prédio de grande importância para o estado do Rio de Janeiro, a UENF reafirma seu papel de protagonista e aliada na defesa da cultura e da preservação do patrimônio histórico da região, em parceria com o IPHAN e a Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes. Aliás, é bom que se registre que além do Solar dos Jesuítas, a UENF também se engajou no processo de recuperação da sede da Fazenda Campos Novos, no distrito de Tamoios (Cabo Frio). Essas ações já encontram-se em curso e diante dos compromissos assumidos com as comunidades locais, que aguardavam ansiosamente a recuperação desse patrimônio, entendemos que a continuidade e a conclusão desses projetos é atitude ética a ser garantida pela futura administração. A restauração do prédio e a digitalização do acervo devem ser conduzidas sempre observando os princípios do uso eficiente dos recursos, da qualidade do serviço, e mantendo a transparência em todo o processo. Considerando que o projeto já está em andamento é relevante manter a comunidade informada sobre seu andamento, compartilhando regularmente atualizações sobre o uso dos recursos, o progresso das obras e os resultados da digitalização.

Edmundo - Como um centro de conhecimento do tamanho e qualidade da Uenf, a pesquisa e a extensão precisam dialogar mais e ser mais efetivamente presente em Campos e região, não apenas no meio empresarial, mas em questões sociais e culturais. Como aumentar a participação da Uenf nesses aspectos?

Chapa 10 -
A ideia de fortalecer o diálogo, a pesquisa e a extensão da UENF com a comunidade local em questões sociais e culturais tem sido tratada de forma muito valiosa. Isso tem trazido benefícios significativos para a região, mas também enriquecido a Universidade. Evidentemente, essas interações sempre podem ser aperfeiçoadas e devem ser avaliadas e reestruturadas quando necessário. Assim, a Universidade tem realizado constantemente levantamentos das necessidades e demandas da comunidade local, por distintas pesquisas, utilizando estratégias que envolvem diferentes atores, incluindo parcerias com entes locais. Compreender as principais preocupações sociais, culturais e ambientais da região tem ajudado a direcionar os esforços da pesquisa e da extensão. Um exemplo disso é o projeto Caminhos de Barro, um dos mais antigos na extensão da UENF. Fundado em 2000, esse projeto foi idealizado com objetivo de criar um espaço para a formação artística, cultural e técnica da comunidade local, para alavancar o processo de desenvolvimento social e econômico do Polo Cerâmico da região.
A contínua prospecção de parcerias sólidas com instituições locais, como prefeituras, organizações não governamentais, escolas e grupos culturais, é parte da sua missão institucional, e fundamental para facilitar o acesso à comunidade e proporcionar oportunidades para colaborações significativas. Isso tem envolvido a realização de oficinas, cursos, palestras, eventos culturais, feiras de ciências e exposições artísticas que envolvem tanto os estudantes da UENF quanto a comunidade local. Isso promove a interação, o compartilhamento de conhecimentos e a valorização da cultura local, retroalimentando a nossa matriz de pesquisa. A UENF tem criado canais de comunicação eficazes, especialmente as redes sociais, e em 2023 passou a contar com uma rádio experimental, a radio web UENF. Engajar os estudantes da UENF em projetos de pesquisa e extensão voltados para a comunidade é uma ótima maneira de cultivar o compromisso social desde cedo. Isso também proporciona aos estudantes uma experiência prática valiosa. Para que essa integração seja bem-sucedida, é importante que a colaboração com a comunidade seja vista como uma parceria de longo prazo, visando um impacto positivo sustentável na região, e isso requer tempo, esforço e dedicação contínua. O resultado, no entanto, é uma relação simbiótica em que tanto a universidade quanto a comunidade prosperam.

Chapa 30 -
A educação superior é um projeto cultural e transformador da sociedade, o processo de criação, produção, intercâmbio e valorização do conhecimento e cultura são a razão de ser da vida universitária. A UENF deve se comprometer com a formação profissional, que além dos saberes nucleados nas diferentes áreas, contribua para a cultura e o fazer cultural, contemplando o todo do indivíduo em desenvolvimento. Neste sentido, uma gestão consequente no âmbito cultural, deve priorizar a inclusão e o diálogo intercultural na universidade, favorecendo a um cenário de pluralidade, respeito e convivência harmônica. Este é um ponto que traçamos no nosso plano de gestão, mas teremos muitas novidades. Um ponto que destacamos é que por diversas vezes a UENF foi contemplada como uma das melhores Universidades do país, mas as diversas questões internas que temos vivenciado fez com a Universidade interrompesse o ciclo de ascendência. Por outro lado, a extensão universitária deve estar intimamente ligada à Pesquisa e a Ciência, tanto que a própria CAPES possui como ponto de avaliação a inovação e o impacto das pesquisas na sociedade. A UENF possui inúmeros projetos de extensão aliados à pesquisa de vários docentes, no entanto, esses projetos não são devidamente divulgados. A UENF tem hoje os dois maiores projetos extensionistas do país, um é o Pescarte e o outro Caminhos do Petróleo, além destes existem projetos vinculados a Pró-reitora de Extensão da UENF interessantíssimos, com grande potencial e impacto social, e que a comunidade interna muitas vezes não sabe o que é produzido, como o projeto da Terceira Idade, DST-AIDS, Procedimentos de Operação Padrão para Alimentos, Coral da UENF entre outros.
A universidade precisa permanecer laica, estar aberta para um diálogo com as instâncias dos Governos Municipal, Estadual e Federal. As relações institucionais locais são importantes, mas precisamos fortalecer as relações institucionais criando o Programa UENF sem Fronteiras para que sempre que possível gerar as condições de mobilidade estudantil, docentes e técnicos, além de ampliar a captação de recursos para subsidiar e alavancar os projetos e as políticas institucionais da UENF, tendo como premissa a missão de atuar no desenvolvimento regional.

Edmundo - Embora seja necessário à Uenf a aproximação com os entes públicos, principalmente com o governo do Estado do Rio, é administrativamente saudável que a reitoria tenha vínculos partidários ou aja partidariamente? A Uenf não deveria fazer perguntas difíceis e sugerir soluções inovadoras, baseadas em ciência e tecnologia?

Chapa 30 – As pessoas transitam por posições políticas diariamente, mesmo que não tenham partido, isso é importante deixar claro para todas e todos. Não vemos problemas das pessoas possuírem vínculos partidários, mas na condição de reitor e vice-reitora, somos UENF e, portanto, respeitaremos a liturgia imposta pelos cargos. Assim, nossas relações administrativas com prefeitura, estado e união não serão determinadas por políticas partidárias e sim pelos interesses da nossa instituição. Inclusive, um tempo atrás, um presidente do CNPq chegou a propor durante uma reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que deveríamos criar um partido dos cientistas. Este é um erro na origem da proposta, pois entendo que todos os partidos deveriam ter uma bancada de políticos que defendessem a ciência e isso, por exemplo, teria evitado a negação da ciência e suas terríveis consequências. Vejo que há uma espécie de preconceito com as pessoas que se associam a partidos políticos ou defendem posições partidárias e isso não deveria acontecer em nenhum campo, pois é exatamente da diversidade de opiniões que encontramos soluções a partir do debate de ideias.
Na política se definem as questões relevantes para a sociedade e sendo o político uma pessoa preparada, não temos dúvida que evitaríamos uma série de dificuldades que enfrentamos seja na ciência, na saúde, na educação para que a sociedade seja mais justa para todos. Outro exemplo sobre a importância da política diante dos inúmeros contingenciamentos que sofremos nos orçamentos para ciência, tecnologia e inovação é que se tivéssemos pessoas preparadas em todos os partidos, essa situação não aconteceria tão facilmente e os orçamentos aprovados seriam cumpridos integralmente. Exatamente hoje, enquanto escrevemos esta resposta à sua pergunta, foi publicada uma carta conjunta da SBPC com a Academia Brasileira de Ciências lamentando que a Ciência, Tecnologia e Inovação foram incluídas no arcabouço fiscal. Resumindo, eu diria que a vinculação partidária não impossibilita que o profissional se comporte adequadamente dentro do que exige aos ocupantes dos cargos de reitor e vice-reitora.

Sobre a questão das perguntas científicas, primeiro eu diria que os balizadores para uma ciência de excelência estão relacionados à honestidade, confiabilidade, objetividade, imparcialidade, cuidado, respeito, veracidade e responsabilidade. Sem estes atributos que podem parecer óbvios não teremos cientistas que atendam adequadamente aos desafios relacionados às soluções necessárias para a sociedade. Uma boa pergunta para a realização de uma ciência de ponta precisa de um conteúdo científico atualizado e as soluções dependem de investimento na ciência de ponta. No Brasil resolvemos dividir a Ciência em dois níveis, isto é, Básica e Aplicada. Esta divisão tem um tremendo efeito perverso para o avanço da ciência brasileira. A ciência é estratégica e se hoje não temos aplicações imediatas para determinados conhecimentos é porque nos falta a visão das suas aplicações. Existem muitos exemplos de pesquisas que a princípio não traziam aplicações, mas que hoje são vitais na agricultura e na saúde, e como exemplo cito a definição da estrutura dimensional do DNA estabelecida por James Watson e Francis Crick, aproximadamente a 73 anos. Agora, não podemos deixar de ressaltar o papel que a Rosalind Franklin, que era a especialista em difração de raio X e não recebeu o Prêmio Nobel. Enfim, avanços na área de genética, biotecnologia entre outras são possíveis porque em um determinado momento profissionais se dedicaram a uma área básica da ciência. Por fim, soluções inovadoras passam por uma formação teórica muito bem estruturada, boas perguntas é claro, experimentos adequados e investimento em pessoal e material para responder as perguntas científicas sem a cobrança de uma resposta imediata para soluções que muitas vezes podem ser obtidas pelo conhecimento já existente e são totalmente negligenciadas por tomadores de decisão.

Chapa 10 - As universidades são consideradas espaços de livre pensamento, pesquisa e ensino, sendo pautada pelos preceitos de independência e neutralidade. A independência política e partidária ajuda a preservar a integridade acadêmica, garantindo que as decisões sejam baseadas em princípios científicos, pedagógicos e éticos, em vez de interesses políticos temporários. Portanto, a Universidade Pública deve priorizar seus interesses institucionais, como excelência acadêmica, pesquisa inovadora e contribuição para o desenvolvimento regional e nacional. A colaboração com entidades governamentais, incluindo o governo do Estado do Rio, é importante para a UENF, especialmente para acesso a recursos e apoio financeiro, e outras agenda de interesse cunho institucional. Enquanto a neutralidade política é importante para manter a integridade acadêmica, isso não significa que a universidade não possa se envolver de maneira crítica e informada nos debates sociais e políticos. A UENF pode e deve contribuir para o diálogo público, fornecendo informações embasadas em evidências e análises. Assim, a universidade não é apolítica, mas deve ser apartidária, acolhendo diferentes espectros do pensamento político, respeitando a diversidade de opiniões, e estimulando o debate crítico. A prática política faz parte do exercício de cidadania e deve estar presente nas universidades como defesa da educação pública de qualidade, inclusiva, socialmente referenciada e voltada para projetos de interesse coletivo.
Sobre as questões difíceis relacionadas à fronteira do conhecimento e a sua conversão em tecnologias inovadoras, a UENF, sem dúvida, tem assumido um papel importante na busca por soluções baseadas em ciência para os desafios enfrentados pela sociedade. Esse papel envolve pesquisa de alta qualidade, ensino sólido e a aplicação do conhecimento para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Dados concretos sobre o desempenho da UENF em indicadores cienciométricos relacionados ao impacto científico das pesquisas desenvolvidas na universidade evidenciam que, no ano de 2022, o conhecimento produzido na UENF representado pelo número de citações ponderado pelo campo do conhecimento é 30% maior que o da média mundial (base de dados SciVal-SCOPUS). Isso mostra o engajamento da universidade nas questões de grande relevância para a ciência global.

Edmundo - Caso seja sua chapa eleita, qual a proposta para a estrutura física da Universidade? É satisfatória a quantidade de áreas de convivência e a manutenção de espaços é adequada?
Aula magna na Uenf - professores e alunos, e a presença de Darcy Ribeiro, que concebeu a universidade e o então governador Leonel Brizola
Aula magna na Uenf - professores e alunos, e a presença de Darcy Ribeiro, que concebeu a universidade e o então governador Leonel Brizola / Foto: Reprodução/Arquivo Nacional


Chapa 30 – Uma pergunta muito oportuna, mas aparentemente a eleição catalisou uma série de obras que estavam sendo aguardadas há anos por nossa comunidade, um exemplo que posso destacar é a questão da acessibilidade, pois deram os primeiros passos de um projeto que estava pronto por mais de 10 anos. Porém, ainda há uma demanda por uma recuperação da iluminação do campus universitário e uma manutenção mais efetiva e sem descontinuidade para todos os prédios. As recentes catástrofes presenciadas por nossa comunidade, cito o prédio de aula na troca do telhado que inundou várias salas e a poucas semanas a inundação de parte do nosso laboratório enquanto faziam a manutenção da caixa de água do prédio. Como disse acima, nossas salas de aula teórica e práticas precisam de atenção e equipamentos, estamos atentos a esta demanda legítima para nossa comunidade. Agora, espaços de convivência este é um ponto que precisaremos criar em pelo menos dois ou três pontos ao longo da instituição. Hoje simplesmente não existe em nenhum ponto da instituição.

Chapa 10 – A Universidade é um ente vivo e dinâmico: está sempre crescendo, o que é um ótimo sinal. No nosso campus principal, situado em Campos dos Goytacazes, temos uma população média diária de 7 mil pessoas em circulação, demandando serviços de qualidade. É uma cidade em constante transformação e como tal precisa planejar seu crescimento em termos de estrutura física, considerando a ampliação e a manutenção dos prédios e das áreas livres. Mas, não podemos esquecer que a UENF possui outras áreas que demandam atenção e esforços para garantir crescimento e melhoria de infraestrutura, como o campus Carlos Alberto Dias, em Macaé; a Casa de Cultura Villa Maria; as estações experimentais em área de convênio na Pesagro-Rio em Campos dos Goytacazes e Itaocara, entre outras. É preciso promover uma revitalização dos prédios, e investir na conclusão de obras que foram iniciadas com recursos de projetos, mas que não foram concluídas em função da defasagem entre a data de aprovação e da liberação dos recursos. As obras de acessibilidade, uma demanda antiga da comunidade, estão em fase inicial, o que ajudará a melhorar as condições nos campi.
As áreas externas são bastante agradáveis e existe um plano de arborização para tornar os campi ainda mais atrativos para a comunidade universitária e todos os que nos visitam. Especialmente no campus Leonel Brizola, a população tornou prática comum a adoção da área externa para passeios em família, com direito a piqueniques nos fins de semana, além das caminhadas e práticas de exercícios ao ar livre. Isso tem exigido ainda mais cuidados com a limpeza e manutenção das áreas verdes, bem como com a coleta de lixo. Algumas mudanças são necessárias para cuidar do trânsito, cada vez mais intenso nos campi, e a sinalização de tráfego e de localização precisam ser modernizadas, com a definição e instalação de locais próprios para parada de transporte por aplicativo, por exemplo.

Edmundo - Caso seja sua chapa eleita, haverá esforços para expandir a Uenf, com a oferta de novos cursos? Quais são as propostas para o corpo funcional da Uenf? É adequada a quantidade de professores que a universidade possui hoje?

Reprodução/Uenf
Chapa 10 -
A proposta original da criação da UENF previa a sua presença em outros municípios do Norte-Noroeste, o que não foi efetivado em função do seu reduzido quadro de servidores (docentes e técnicos), entre outros motivos. A previsão inicial de 600 docentes e 900 técnicos para compor o quadro permanente da UENF nunca se concretizou. Ao contrário, passamos décadas com um número menor que 300 professores e menos de 600 técnicos para dar conta dos cursos de graduação, pós-graduação, projetos de extensão e gestão universitária. Somente depois de grande esforço foi possível chegar a um quantitativo de 320 docentes, em 2023 (no período de 2019 a 2023 foram contratados 32 professores para reposição de vagas por aposentadoria ou outras razões de vacância). Entendemos que é preciso trabalhar para mudar essa realidade, com base nos números que mostram o desempenho da UENF em vários contextos e rankings: estamos entre as 15 melhores Universidades do Brasil, e entre as 100 melhores da América Latina, além de outros índices que atestam a eficiência e o desempenho da UENF em diferentes frentes de atuação.
A implantação de novos cursos é uma necessidade que se impõe diante da crescente demanda de modernização da oferta de oportunidades de formação para a população, e não depende obrigatoriamente de abertura de novas vagas para docentes. Porém, se quisermos progredir em termos de novas linhas de pesquisa e impacto na ciência precisaremos investir na contratação de mais docentes e técnicos, não apenas para repor vagas, mas também para ampliar o quadro e promover o crescimento quantitativo e qualitativo das pesquisas que atendam à região e ao país. Sabemos que o contexto atual, que envolve o Regime de Recuperação Fiscal, torna a abertura de novas vagas um grande desafio. Porém, a Universidade deve ser pautada no seu constante crescimento para o atendimento à sociedade. Além da reposição e da conquista de novas vagas, há necessidade urgente de aprovação do novo Plano de Cargos e Vencimentos (PCV) para atenuar as perdas salariais sofridas pelos servidores, apesar das conquistas obtidas em 2023, com a aprovação e pagamento efetivo dos auxílios saúde e educação, o que significou um grande alívio, em especial para servidores alocados em faixas salariais menos elevadas.

Reprodução/Uenf
Chapa 30 -
Inicialmente é importante informar que existem cursos aprovados internamente (ex.: Engenharia de Alimentos) aguardando as condições necessárias para sua instalação. Contudo, precisamos rediscutir a forma como estamos realizando a formação profissional nos cursos existentes, pois existem demandas de reestruturação e melhorias nas condições de oferecimento dos nossos cursos de graduação. O Plano de Desenvolvimento Institucional, que teria sido o momento adequado para estas discussões, foi incapaz de promover avanços significativos. Existem algumas demandas internas que ainda não estão no âmbito de alguns centros, por exemplo, no Centro de Biociências e Biotecnologia existem discussões que versam sobre a criação do curso de Biomedicina, Gestão e Planejamento de Saúde e Meio Ambiente, e Farmacologia ou Farmácia. Em Macaé temos a demanda de estabelece o ciclo básico de formação criando vagas para professores e técnicos assim como fortalecer o curso de Engenharia Meteorológica que já funciona em cooperação com outras instituições federais.


Lá em Macaé conversando com colegas há proposta para Engenharia Mecânica e Ambiental e Sanitária, mas estes assuntos serão tratados dentro dos colegiados da instituição. Nossa chapa entende que precisamos ampliar a oferta de cursos no campus Carlos Alberto Dias em Macaé/UENF e para isso, estaremos próximos aos colegas para criar as condições necessárias tratando todas as demandas junto ao estado e ao município. Outro ponto que precisamos preservar é nossa participação nos cursos semipresenciais que oferecemos junto com outras instituições públicas via CEDERJ e estão distribuídos em vários municípios do Estado do Rio de Janeiro. A UENF precisa estar mais próxima destes pólos ao longo do ano e fortalecer a infraestrutura de atendimento e reconhecimento destes discentes. Portanto, estaremos muito atentos a este público que hoje representa um número muito importante dos discentes que a UENF tem formado anualmente. Finalizando esta pergunta, consideramos que existe a necessidade de equipar as salas de aula teórica e os laboratórios de prática, instalar sistema de refrigeração nas salas de aula, assim como a infraestrutura de apoio das atividades de campo. Recentemente, o reitor informou que foram comprados milhões de reais em equipamentos para pesquisa, mas se esqueceram de equipar os laboratórios didáticos e as nossas salas de aula. Finalizando, gostaríamos de reforçar que a nossa chapa, Carlão e Daniela, recolocará a UENF no rumo certo prestigiando todas as categorias da comunidade universitária, isto é, discentes, técnicos e docentes, pois termina a eleição, seremos Reitor e Vice-Reitora de todas e todos.



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    Edmundo Siqueira

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