Morre aos 80 anos Danilo Santos de Miranda, campista que revolucionou o Sesc-SP
Morreu na noite deste domingo (29), aos 80 anos, o campista Danilo Santos de Miranda. Sociólogo, filósofo e gestor cultural, ele era diretor regional do Serviço Social do Comércio (Sesc) no estado de São Paulo desde 1984, tendo sido responsável por ampliar o caráter cultural da entidade e também por expandi-la, inaugurando várias unidades. Danilo estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein desde o início do mês. A causa da morte ainda não foi divulgada. Ele deixa a esposa, Cleo; duas filhas, Camila e Talita; e quatro netos. O velório acontece das 10h às 15h desta segunda-feira (30), no Sesc Pompeia, em São Paulo. Sobre o caixão, foi colocada uma bandeira do Fluminense, clube do coração de Danilo. Uma cerimônia de cremação do corpo está marcado para as 17h, no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra/SP.
Nascido em Campos em 1943, Danilo Santos de Miranda ficou órfão da mãe, Dalva, a dois dias de completar sete anos. Passou, então, a ser criado pelos avós maternos, sendo o avô farmacêutico, e a avó, muito ligada à Igreja Católica. Em entrevista ao site do Sesc-SP em janeiro do ano passado, o campista mencionou que o pai, Affonso, embora não morasse junto, manteve proximidade com ele e os irmãos, inclusive tendo despertado nele o gosto pela cultura.
— Foi sempre ligado à música. Depois que ele ficou viúvo, nós nos separamos do pai, mas ele ia toda noite para a casa da minha avó e ficava conosco até tarde. Era muito hábil, sabia fazer gaiola, tocava violão, cantávamos juntos. Tinha muita habilidade. Era dentista e jornalista, de um jornal muito conhecido lá (em Campos), chamado "Folha do Povo" — relatou na ocasião.
Na planície goitacá, Danilo cresceu como uma criança do seu tempo: brincando nas ruas de paralelepípedo. Após frequentar um jardim da infância, estudou no Grupo Escolar XV de Novembro e no Colégio Eucarístico. Em 1955, perto de completar 12 anos, se mudou para Nova Friburgo, na Região Serrana fluminense, onde iniciou formação religiosa e humanista. Por lá, foi fundador e presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Anchieta, onde funcionava a Escola Apostólica. Também integrou o coral e a banda marcial da instituição de ensino e foi fundador e vice-presidente do Parlamento Estudantil. Só rumou para o estado de São Paulo após completar 20 anos, já em 1964, indo mais especificamente para o município de Indaiatuba, onde integrou a Ordem dos Jesuítas. Anos mais tarde, desligou-se das atividades seminaristas e passou a residir na capital paulista, onde posteriormente ficaria conhecido como gestor cultural. No Sesc, ele teve diversas funções a partir de 1968. Chegou a passar pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), na área de recursos humanos, até retornar ao Sesc, como diretor regional, em 1984.
Reconhecido internacionalmente, Danilo Santos de Miranda recebeu honrarias oriundas de vários países, como Polônia, França, Japão, Alemanha, Bélgica e Portugal. No Brasil, recebeu em 2004 a Ordem do Mérito Cultural, dada pelo Governo Federal a personalidades com grande importância para a cultura nacional. Na sua cidade natal, foi o premiado de 2017 da Folha da Manhã com o Troféu Folha Seca, entregue a campistas com destaque em suas áreas de atuação.
Além de ter dirigido e liderado o crescimento do Sesc-SP, Danilo foi membro dos conselhos de instituições como a Fundação Bienal de São Paulo, o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Itaú Cultural, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e a SP Escola de Teatro.
Tão logo foi divulgada, na noite deste domingo, a morte de Danilo rendeu matérias em vários veículos da imprensa nacional; "Alicerce da cultura paulista com o Sesc", destacou o site da "Folha de S. Paulo". "Responsável pelo sucesso cultural do Sesc", enfatizou o portal da revista "Valor Econômico". "O homem que transformou o Sesc em uma usina cultural", destacou o "Diário do Centro do Mundo".
A assessoria do Sesc-SP publicou uma nota sobre o ocorrido nas redes sociais.
— Natural de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, Danilo dedicou 55 anos de sua vida ao Sesc São Paulo, estando à frente da diretoria regional da instituição desde 1984 — diz um trecho da nota. — Neste momento de grande consternação para todos nós, em nome da presidência, do conselho regional e do corpo de funcionários do Sesc-SP, prestamos nossa solidariedade e sinceros sentimentos à família e aos amigos de Danilo, e nossa homenagem ao querido diretor e companheiro — complementa.
A morte de Danilo também foi lamentada por pessoas ligadas à imprensa e à cultura de Campos.
— Não conheci o Danilo na intimidade, mas estive algumas vezes com ele, em solenidades, inclusive quando veio a Campos para receber o Troféu Folha Seca, da Folha da Manhã. O apreciava muito pelo trabalho no Sesc em São Paulo. Jô Soares o entrevistou algumas vezes e sempre defendia a indicação de Danilo Miranda para ministro da Cultura do Brasil — lembrou o jornalista Chico de Aguiar.
— O campista mais conhecido e respeitado nacionalmente desde (o ex-presidente da República) Nilo Peçanha — disse o também jornalista Ricardo André Vasconcelos.
— Que tristeza! Éramos amigos de infância. Ele era incrível. O trabalho dele no Sesc foi excepcional — pontuou a arquiteta Jeannine Codeço.
— Sob sua liderança, o Sesc, uma instituição meramente comercial, tornou-se um gigante no fomento e desenvolvimento da cultura. Grande personalidade da nossa terra — enfatizou a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Auxiliadora Freitas.
Ex-presidente da Academia Campista de Letras, a médica e escritora Vanda Terezinha Vasconcelos adjetivou Danilo como grande referência cultural. “Um destaque campista para todo o Brasil”, definiu.
Nas redes sociais, a página oficial sobre a obra do artista plástico campista Ivald Granato, morto em 2016, publicou uma homenagem ao conterrâneo desse. “Um apoiador e defensor da arte brasileira, grande gestor cultural, generoso e gentil. Dirigiu o Sesc-SP com brilhantismo. Viva Danilo, campista como Granato. Que seu legado e tudo o que ele fez pela arte se perpetue. Descanse em paz, e nosso carinho para a família e todos os amigos e profissionais do Sesc”, diz a publicação.
Personalidades com destaque nacional também se manifestaram. “Sociólogo e filósofo, reinventou a forma de fazer cultura no Brasil com o seu trabalho no Sesc São Paulo, se tornando imenso para todos nós, pelo seu amor dedicado à cultura e arte. (...) O legado de Danilo é imensurável e seguirá vivo como combustível para a arte do país”, escreveu nas redes sociais a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
A cantora e compositora Maria Bethânia se referiu ao campista como “um dos maiores, se não o maior” incentivador da arte no Brasil. “Chora o teatro, chora a música, chora a arte brasileira. Todas as reverências a esse grande homem, Danilo Miranda. Todas as palmas para essa figura ímpar na cultura deste país. Abraçamos toda a família e amigos. Abraçamos a cultura do Brasil”, publicou em seu perfil no Instagram.
Para o cantor e compositor Caetano Veloso, irmão de Bethânia, Danilo foi o “principal gestor cultural do país”. Os também cantores e compositores Gilberto Gil e Chico César; os jornalista Xico Sá, Flávia Oliveira e Luiz Carlos Merten; a atriz Fernanda Montenegro, o apresentador Serginho Groisman, o deputado estadual por São Paulo Eduardo Suplicy, os ex-prefeitos paulistas Gilberto Kassab e Marta Suplicy, e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, também usaram redes sociais para homenageá-lo.
Em demonstração de luto, todas as unidades do Sesc-SP ficaram fechadas na segunda-feira, inclusive o Cincest, onde está ocorrendo parte da programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.