Ana Raquel Pourbaix - O Sagrado Tangível: ousadia para (re)configurar a existência
Ana Raquel Pourbaix - Atualizado em 08/11/2023 09:05
PREFÁCIO
No último dia 26 de outubro, me embriaguei com múltiplas doses de palavras. Entre livros, vivências, tela, lápis, papel e borracha — um mix, nasceu “O Sagrado Tangível”. Aliás, a semioticista Lúcia Santealla preconiza que uma cultura não exclui a outra. Então, tudo posto à mesa de criação.
A ocasião era a escritura do texto de abertura para a Semana Intercultural do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora, instituição de ensino de tradição da cidade, às vésperas de seu centenário, a saber: ano 2025. Eis a tecitura:
Vivemos na Sociedade do Desempenho, da supervalorização da produtividade, cujas diretrizes são a ditadura da felicidade e da beleza, a tirania da externalização e da superficialidade, da intensidade das informações e do cansaço, do sr. Tá On e da sra. IA. Assim, somos convidados e desafiados a redesenhar a rota, arquitetar futuros.
O apelo é pela reprogramação do fazer visando à harmonização do viver, do ser. É a era da inauguração da nova estética da existência. Somos provados e provocados à experimentação e à adesão de um estilo de vida mais saudável que traz à luz a urgência da saúde integral — as dimensões física, mental, emocional e espiritual.
Somos engenheiros de uma nova arquitetura social. Cabe-nos a construção de novos projetos políticos, econômicos, sociais e culturais. Precisamos de ousadia, inovação e coragem para rompermos com os paradigmas do consumo desenfreado, da cultura do descarte e da arrogância. A tomada de decisão pela construtividade, afetividade, sustentabilidade, generatividade, saudabilidade e sensorialidade acontece no (extra)ordinário de cada dia. A Nova Era é uma obra individual e, paralelamente, coletiva.
No agora, ergue-se a edificação de uma nova humanidade: nova paleta de cores, ao som de uma nova canção. Vamos orquestrar uma nova melodia? Vamos pintar uma nova tela? Na interseção, na interconectividade, na força da vida seremos novos pontos de luz na sociedade.
EM CONEXÃO
A escritura a respeito da necessidade de novos arranjos sociais, tendo em vista as exigências do presente, evocou a escrita de um novo texto: “O Sagrado Tangível — ousadia para (re)configurar a existência”.
Faz tempo que tenho fitado, com olhar demorado, a atual roupagem da Academia Campista de Letras (ACL), instituição cultural, tradicional, sagrada, imortal, renomada de nossa cidade, quase às vésperas de seu centenário, a saber: 2039.
É clássico o entendimento de que academias de letras são templos sagrados, que guardam santos imortais, com (i)loucuras (in)viséis, com portas eletrônicas e senha personalizada de acesso para entrada.
Não podemos negar que, para entrar em uma academia de letras, é preciso pedir licença, limpar as sandálias e vestir sua melhor versão. Não podemos negar. Paradoxalmente, não podemos negar que o acesso às divindades, aos templos sagrados, ao santuário das preces culturais, é direito.
Nesse sentido, vale registrar, nas linhas da “Folha Dois”, da história, a gestão acessível, aberta, dinâmica, do sagrado tangível, da academia pulsante (como ele mesmo costuma dizer), do atual presidente, Christiano Fagundes. O biênio sob sua responsabilidade, 2022-2023, guarda cicatrizes da liderança que são sua jovialidade, competência, elegância e inovação no fazer cultural. Sendo a advocacia, a docência, a capacidade de diálogo intergeracional, interinstitucional, social, humano e multicultural, peças fundamentais de seu figurino.
Nos últimos anos, a Academia Campista de Letras foi ao encontro de, visitou escolas públicas e privadas do município, realizou exposições e lançou livros em praças, bienais do livro, casas legislativas, museus. E, mais recente, Capitu e Arlete Sendra “traimaram” no palco do Teatro de Bolso. Parafraseando Milton Nascimento, o artista tem que ir aonde o povo está.
Com porta entreaberta, a Academia Campista de Letras soube acolher tantas diferenças personas, vozes, instituições; estudantes e professores de diferentes instituições de ensino superior, crianças e jovens de várias escolas do município, médicos, advogados, gestores, engenheiros, psicólogos.
Vale destacar que a primeira Escola Ao Ar Livre do município de Campos dos Goytacazes foi instalada no local em que o prédio e as atividades da Academia Campista de Letras funcionam hoje.
Então, eu lhes pergunto:
Não seria a Academia um espaço privilegiado para debates e aprendizagens dialógicas? A Academia pode e deve ser pergunta e resposta a respeito das exigências do mundo atual? A Academia pode e deve ser “O Sagrado Tangível”? A Academia pode e deve inaugurar uma nova estética da existência?
Um novo viver, ser. Arquitetar futuros.
Que Academia Campista de Letras queremos para os próximos anos?
“O Sagrado Tangível” quer ouvir sua opinião.

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