Saulo Pessanha
12/01/2025 08:36 - Atualizado em 12/01/2025 08:36
Por Agenor Portelli Magalhães, no Blog Dijaojinha em 2013:
Juntamos uma garotada numa faixa de idade de 16 a 18 anos e fomos disputar uma partida de futebol com Atafona, nossa rival em todos os sentidos, em nível social (gente da melhor sociedade de Campos) e no esporte.
Grussaí era a praia preferida do pessoal da roça, notadamente da região de Barcelos.
Lá chegando, ficamos surpresos com a esperteza da turma de Atafona, que arregimentou meio time do Americano para nos enfrentar. Estavam lá Carlinhos Baldan, J. Costa, Ovilson, Dedé, Alaôr, etc.
Nossa equipe era composta pelos Magalhães (Agenor e Paulo, já que Luiz estava em Niterói cursando vestibular), pela família de Hélio Batista (Caixa d'água, Paulinho Africano, Cacá), família Maciel (Cremilce, Clodomiro, Clodoval), Carlinhos (Lorde Redondo), Rafael, Antonio Bichara e outros.
Começamos a levar uma surra, 1x0, 2x0, 3x0, quando perdi a cabeça e dei um pontapé violento nas costas de Alaôr, o zagueiro adversário.
O time de Atafona partiu para cima de mim com Ovilson me acusando de provocador. Ovilson era meu técnico no Americano e também era soldado do Corpo de Bombeiros.
Apesar da minha culpa tinha a obrigação de me defender, mas, ao contrário, insuflou os ânimos contra mim.
Fui salvo pelo J. Costa. Perdendo a serenidade e a condição de continuar no jogo dei meu lugar ao Antônio Bichara.
REVANCHE EM GRUSSAÍ
Passados alguns dias fomos convidados para uma revanche em Grussai. Chamei os irmãos Dalton (Dalton da Roça) e Décio Crespo que veraneavam em Grussaí.
Ambos jogaram no Rio Branco, sendo que o Décio estava no juvenil do Flamengo.
Lorde Redondo, depois de uma boa promessa no juvenil do Campos, foi treinar no Flamengo e voltou de lá com um problema no osso da canela, encerrando prematuramente uma promissora carreira.
ESTRELAS DO TIME
Esses três seriam o que podíamos chamar, nas circunstâncias, de estrelas do time. Era pouco para enfrentar a forte equipe de Atafona.
Lembrei-me então que a Portuguesa do Rio tinha um ponta direita chamado Magalhães.
Espalhei que o Magalhães viria reforçar nossa equipe. Logo a noticia chegou a Atafona e, no dia do jogo, eles trouxeram um lateral esquerdo do Rio Branco para marcar o Magalhães.
Desta feita vieram também com os irmãos Hélvio e Helvécio (Bolão) Santafé, que não haviam jogado a primeira partida.
INCENTIVO DOS VERANISTAS
No dia do jogo, em campo improvisado atrás da Igreja, recebemos o incentivo dos veranistas de Grussaí que foram lá nos dar força.
Magalhães, conforme anunciado, se apresentou em grande estilo: com tornozeleiras e uma joelheira na perna esquerda.
A garotada logo o cercou para apalpá-lo. Naquela época não era costume pedir autógrafo, mas a garotada queria mesmo era tocar o ídolo.
BOA FORMA
A instrução que dei foi lançar bolas para o Magalhães para aproveitar sua agilidade e boa forma física.
No primeiro lançamento Magalhães pegou a defesa adversária de surpresa e foi até a lateral da área e disparou um cruzado violento na altura da marca do pênalti.
Não chegamos a tempo de finalizar. Em nova investida pela direita Magalhães foi até junto à bandeirinha de córner e fez um cruzamento sobre a área lançando a bola e a bandeirinha juntas.
Carlinhos Baldan saiu em estilo e catou a bola no ar.
A seguir, os adversários colocaram três marcadores sobre o Magalhães e neutralizaram nossas ações pela direita.
Era o que queríamos, passamos a atacar pela esquerda, equilibramos o jogo e terminamos empatados em 1 x 1.
LENDA E FOLCLORE
No verão seguinte a garotada não falava outra coisa a não ser lembrar a atuação de Magalhães.
Rememoravam os dribles, as matadas de bola, as fintas, os rushs do meio de campo, a bicicleta, coisas que nunca aconteceram foram fazendo parte da lenda e do folclore.
Sempre que me cobravam o retorno de Magalhães eu justificava a dificuldade dele se afastar do Rio devido ao campeonato carioca em pleno andamento.
Pouco tempo atrás me encontrei com Dalmir Santos Miranda para um almoço no Rio.
No decorrer da conversa ele me falou que estivera na semana anterior com o Magalhães em Campos.
RELÓGIO MIDO
Ficou sabendo que assaltaram a casa dele e levaram inclusive o seu relógio Mido que eles haviam comprado juntos na mesma relojoaria.
Sensibilizado com a perda do relógio de estimação, Dalmir tirou do pulso seu próprio relógio Mido e o deu de presente a Magalhães.Como eu não sabia ou não me lembrava dessa história do relógio perguntei ao Dalmir:
— Mas porque você está chamando o Luiz de Magalhães?
— Ué, Magalhães da Portuguesa.
— Magalhães da Portuguesa? — repeti incrédulo.
— É, o Magalhães da Portuguesa — voltou a afirmar, convicto.
— Dalmir, o Luiz nunca jogou na Portuguesa, essa foi uma história que eu inventei há 50 anos, lá em Grussaí, para atemorizar a turma de Atafona.
— Mas, mas durante 50 anos vocês me fizeram acreditar que o Luiz era o Magalhães e eu....
A decepção estampada na face de Dalmir me fez refletir e concluí que a verdade era mais crua que a mentira: você não pode matar um mito impunemente.