Repetir 2018 sem Frente Ampla é vaidade e reforça antipetismo
16/02/2021 22:08 - Atualizado em 16/02/2021 22:13
IG
A eleição no Congresso — e suas consequências— mostrou que o PT ainda tem um medo premente: que a esquerda produza um nome mais viável do que alguém escolhido pelo lulopetismo. Não se trata de antipetismo (confira aqui), e deve-se reconhecer que Lula ainda mantém expressiva popularidade e seja, talvez, o nome com mais chances de derrotar o presidente Bolsonaro, se houvessem possiblidades jurídicas para sua candidatura. Porém, os últimos episódios envolvendo as eleições no Legislativo Federal e o lançamento da pré-candidatura de Fernando Haddad, evidenciam que o Partido dos Trabalhadores rejeita qualquer frente que não a lidere. E que deseja repetir 2018.
A deputada petista por Pernambuco, Marília Arraes, foi escolhida 2ª secretária da Câmara — contrariando seu partido que escolhera José Daniel (SE), em um episódio de insubordinação raro no PT. Lideranças do partido pretendem punir a deputada que é acusada de agir nos bastidores para eleger Arthur Lira (PP-AL) presidente da casa. O fato assustou. Principalmente aos petistas dependentes das orientações do ex-presidente Lula.
Lula está impedido de disputar eleições por causa das condenações na Lava-Jato nos casos do tríplex e do sítio de Atibaia. O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar nos próximos meses se Moro foi parcial nos processos, como alega a sua defesa. Caso as condenações sejam anuladas, Lula fica livre para disputar eleições.
O movimento de Lula ao lançar Haddad tão precocemente parece ter motivações meramente internas, que não dialogam com a necessidade de formar uma frente de esquerda e de centro-esquerda, para disputar as eleições em 2022. Para manter o controle do PT em suas mãos, Lula dá voz de comando e impõe o ex-prefeito de São Paulo como o candidato do partido, e movimenta o insosso Haddad, que pouco apareceu antes da chamada do chefe, apesar de seus mais de 47 milhões de votos no segundo turno e dos inúmeros motivos.
Apesar da parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro ser de fácil comprovação — fendida quando ele aceitou ser ministro de Bolsonaro —, a participação de Lula como candidato em 22 é pouco provável. Não apenas pelos processos que responde, mas também por sua idade. O movimento de colocar “o bloco na rua” com Haddad mantém o PT vivo e sua liderança na oposição, enquanto Lula tenta limpar sua biografia. É uma questão interna corporis, somente.
Do outro lado, Bolsonaro se mantém em campanha — como sempre esteve. Ao seu favor tem uma base eleitoral aguerrida, mantida pela sua retórica bélica e obscurantista, uma oposição desunida e o fato de todos os presidentes do Brasil que tentaram a reeleição a conseguiram. Somam-se a esse cenário, as alianças na direção da Câmara e do Senado.
A eleição na Câmara assustou o PT, levou o Centrão ao bolsonarismo — até o limite de seu próprio fisiologismo — e eliminou a formação de um arranjo de centro-direita capitaneado por Rodrigo Maia para disputar as próximas eleições — em um movimento considerado como traição por Maia, o DEM trabalhou para Lira e acenou ao bolsonarismo com declarações do presidente da sigla, ACM Neto.
Doria, Luciano Huck, Luiza Trajano, Mandetta, Sérgio Moro, Eduardo Leite e outros dependem de como a direita bolsonarista vai se posicionar, para o arranjo de centro-direita se concretizar.
Resta o arranjo de esquerda.
A proclamada frente ampla fica cada vez mais utópica. Com prazo curto e com as decisões isolacionistas do PT, nomes como Ciro Gomes e Flávio Dino precisariam se lançar individualmente, e fragmentariam o campo progressista. Com antipetismo ou não, uma repetição de 2018 só interessaria ao PT e ao Bolsonaro. Polarizada, a disputa tende a terminar de mesmo modo: permitindo que o Brasil seja governado por uma extrema-direita que nega a ciência, cultua armas e flerta com o militarismo ditatorial. Caso a vaidade lulopetista impeça que ‘frentes amplas’ se formem, o antipetismo não será apenas válido, como necessário.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Edmundo Siqueira

    [email protected]