Cultura de Campos na mira dos criminosos
Folha1 20/01/2021 09:37 - Atualizado em 20/01/2021 09:59
  • Cultura é alvo ações criminosas

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A cultura de Campos está ameaçada. É o que demostraram as ações criminosas em equipamentos culturais entre o final de 2020 e o início deste ano, que tiveram como alvos o Museu Olavo Cardoso, o Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop) e a Academia Pedralva Letras e Artes.
Em 29 de dezembro, penúltimo dia da gestão municipal de Rafael Diniz, a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) registrou boletim de ocorrência (B.O.) junto à Polícia Civil sobre depredação e furto no Museu Olavo Cardoso, descoberto na véspera. Segundo informação da Prefeitura, além de parte do acervo do museu, que está fechado há vários anos, também foram furtados mobiliários para uso administrativo. O poder público informou ainda que havia dois vigilantes no local, que se renovavam em turnos diários. À noite, a ronda era feita pelo patrulhamento da Guarda Civil Municipal.
— Como não houve ainda, pelo novo governo, um gestor indicado para o setor cultural, ficamos aguardando para que o comunicado (do furto) fosse divulgado — disse em 1º de janeiro a ex-presidente da Fundação Cultural, Cristina Lima. Segundo ela, uma visita precisaria ser feita no local para conferir todo o material furtado, o que, por sua vez, necessitava da indicação do (a) novo (a) titular do setor.
O tema foi abordado na última sexta-feira (15) em entrevista com a atual presidente da FCJOL, Auxiliadora Freitas, no Folha no Ar, da Folha FM 98,3. Ela contou que duas visitas foram realizadas no Museu Olavo Cardoso, cujo inventário foi consultado na semana passada pela nova equipe cultural da Prefeitura.
— É um inventário que você não tem certeza se o que está ali era o que realmente tinha no museu em sua totalidade. Mas, a partir dele é que estamos trabalhando. A partir da segunda visita que nós fizemos lá, com nossa equipe e com a guarda, segurança, etc, estamos fazendo essa comparação do que tinha inventariado e do que não foi encontrado ali. Isso está sendo colocado em um relatório e estamos fazendo um dossiê, vamos dar entrada na procuradoria e também equipar a delegacia com informações — disse Auxiliadora. — Nós abrimos um segundo B.O., porque o que disseram que havia sido feito on-line, quando fomos à delegacia, ele já não existia mais. E a partir do levantamento e desse novo B.O., a gente vai poder chegar a uma solução. Agora, é buscar fazer a segurança do que resta lá, inclusive com a retirada para um local mais seguro — pontuou.
Ex-gerente de Patrimônio da FCJOL, Ondina Oliveira visitou o Museu Olavo Cardoso no início deste ano e constatou que foram levados cerca de 90% de materiais administrativos, mobiliário, ventiladores, computadores, bebedouros, condicionadores de ar e quase a totalidade do acervo histórico-cultural. No local, havia antes do furto uma cama que possivelmente pertenceu ao usineiro Olavo Cardoso, armário, um quarto equipado, móveis em madeira talhados a mão, mesa de jantar, cadeira, peças residenciais e quadros de fatos históricos pintados a mão, conforme relatado pelo arquiteto Rodrigo Porto, membro do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam).
Outro equipamento administrado pela Prefeitura, o Cepop sofreu mais de uma ação criminosa recente. De acordo com a nova administração municipal, houve furtos no local em 26 de outubro e novamente em 7 e 8 de janeiro. Durante visita, uma equipe da Fundação Cultural constatou sinais de abandono e furto de itens como cabos, fios de cobre, peças de ar-condicionado e bicos de mangueira de incêndio, além de sinais de vandalismo em pias e luminárias.
— Nossa equipe recebeu informações de um profissional que faz a vigilância do Cepop, dando conta de que houve um furto no dia 26 de outubro de 2020 e que, após comunicar aos seus hierárquicos, nenhuma providência foi tomada. Nos dias 7 e 8 de janeiro, também segundo o vigia, houve novos furtos. A Guarda Civil Municipal foi acionada no ilícito do dia 7 de janeiro de 2021 e fez um registro de ocorrência administrativo — informou a presidente da FCJOL por meio de nota da Prefeitura. — Nas últimas ações, em 7 e 8 de janeiro, os meliantes deixaram para trás sandálias, ferramentas e uma bicicleta, que foi levada para ser acautelada, no último dia 12, na 134º Delegacia de Polícia (DP), onde foi lavrado o boletim de ocorrência sob o número 134-00211/2021. A Polícia Civil dará prosseguimento às investigações para identificar os culpados. Já as ferramentas foram recolhidas pela Guarda Civil Municipal — detalhou Auxiliadora Freitas.
Ainda segundo a Prefeitura, o vigia do Cepop afirmou que esteve na 134ª DP no dia 7 de janeiro, mas, após cinco horas sem ser atendido, foi embora. A Folha enviou pedido de posicionamento à Comunicação da Polícia Civil, mas não obteve retorno formal. Há informações de que o caso “ainda não tem novidades”. No Cepop, a equipe da Fundação Cultural também encontrou portas arrombadas. De todas as chaves localizadas, nenhuma abria qualquer das portas do equipamento público.
A Folha apurou, contudo, que providências teriam, sim, sido tomadas após o furto em 26 de outubro, inclusive com material recuperado no dia seguinte pela Guarda Civil Municipal. Na ocasião, o espaço estava cedido à barreira sanitária e sediava a superintendência de Entretenimento e Lazer, embora fosse administrado pela Fundação Cultural. Uma fonte que ocupava cargo público na época, mas preferiu ter a identidade preservada, assegurou que a falta de providências demorou para acontecer já no atual governo, nos furtos de 7 e 8 de janeiro, pois apenas no dia 12 uma equipe da FCJOL teria comparecido ao local.
Academia Pedralva — Na última quinta-feira (14), membros da Academia Pedralva Letras e Artes constataram arrombamento no prédio onde ficam guardados os pertences da entidade cultural, nos fundos da Campos Luz, desde o fechamento do Palácio da Cultura para obras. Segundo o presidente da entidade cultural, Carlos Augusto Souto de Alencar, o evento pode ter acontecido anteriormente. As investigações estão em andamento.
— Nos levaram um microfone, uma caixa de som e um retrato. Levaram o que dava para vender e uma lembrança, vamos colocar assim. É um prejuízo para a Casa — lamentou Carlos Augusto. — É bom registrar que não sabemos a data do evento. Mas, serve como um alerta sobre a necessidade de atenção ao patrimônio cultural, pois a Pedralva, assim como outras instituições culturais, guardam uma parte da memória cultural da cidade, e esse episódio, associado ao que aconteceu ao Museu Olavo Cardoso, mostra que ela está exposta a risco — complementou.

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