Festa de Santo Amaro sem Cavalhada e com restrições em missas e ladainhas
Matheus Berriel - Atualizado em 06/01/2021 09:23
Tradicional Cavalhada não acontecerá neste ano
Tradicional Cavalhada não acontecerá neste ano / Folha da Manhã
Tradicionalíssima em Campos, a Cavalhada de Santo Amaro não acontecerá neste ano em virtude da pandemia da Covid-19. Embora careça de registros históricos sobre possíveis interrupções desde a primeira edição, em 1730, pesquisadores e guardiões da história do folguedo de origem lusa na planície goitacá asseguram que este será o primeiro ano sem a realização durante a festa do Padroeiro da Baixada Campista, que, por outro lado, terá as celebrações religiosas mantidas, a partir desta quarta-feira (6), mas com restrições.
— Como a Cavalhada tem mais de 300 anos, muita coisa se perde. A gente não tem como saber se ela parou anteriormente, porque, no início, era uma coisa mais interna. Não era essa festa com grande quantidade de gente que tem hoje. Era mais uma coisa da comunidade, e eles faziam a Cavalhada naquele grupo muito concentrado. Então, a gente não tem certeza se isso ocorreu, são dados que infelizmente se perdem na história. Mas, o grupo atual, seus avós e os avós dos avós nunca viram isso acontecer — disse a escritora Gisele da Silva Gonçalves que lançou em 2014 o livro “A Cavalhada de Santo Amaro, uma tradição da Baixada Campista”.
Historicamente, a Cavalhada representa um momento de celebração da fé e da cultura a partir do espetáculo que representa o conflito entre mouros e cristãos.
— A Cavalhada tem um sentido não apenas social, mas é uma tradição que tem raízes, que tem beleza e valores, e quer mostrar a habilidade e também a capacidade de vencer obstáculos. Há também o aspecto de diálogo inter-religioso e de paz entre duas culturas, como são ainda a cultura cristã e a cultura muçulmana, que tanto precisam de canais de valorização de tradições comuns — comentou o bispo titular da Diocese de Campos, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz. — É uma pena a não realização, mas a vida vem sempre em primeiro lugar. Vamos zelar pela vida e rezar para que, no ano que vem, possa voltar com muito vigor esta tradição, que é realmente um orgulho para a Baixada — pontuou.
Outro ponto marcante da festa de Santo Amaro, a caminhada até o distrito campista sofreu alteração para este ano. A recomendação da Diocese é para que a peregrinação seja feita individualmente ou em pequenos grupos familiares, com o objetivo de evitar aglomerações.
— A caminhada será feita como uma experiência individual. Aliás, os Caminhos de Santiago, o Caminho de Anchieta, o Caminho das Missões, todos esses caminhos espirituais são fundamentalmente uma experiência pessoal, mística e de autoconhecimento. Na Caminhada de Santo Amaro, vamos entrar no grupo familiar ou na experiência pessoal — aconselhou Dom Roberto Francisco.
O novenário de Santo Amaro está mantido, indo desta quarta até o dia 14, com ladainhas às 18h30m e missas às 19h no salão comunitário. No Dia de Santo Amaro (15), a missa está prevista para as 11h, com celebração de Dom Roberto Francisco. Para participar das missas, é necessário fazer agendamento prévio pelo telefone (22) 2738-2454.
— As celebrações religiosas seguirão à risca as determinações de 30% no recinto sagrado, que agora, em Santo Amaro, será especialmente o salão. Tiramos da Igreja de Santo Amaro porque o salão é mais arejado e permite maior distanciamento social — explicou o bispo.
Segundo Dom Roberto, apesar das restrições, a manutenção da programação religiosa, ainda que adaptada, visa fortalecer a espiritualidade dos fiéis.
— A festa religiosa é essencial. A pandemia sempre nos conduz ao essencial das coisas, a resguardar aquilo que há de mais importante na festa de Santo Amaro, que é voltar-se a Deus, impetrando, claro, a proteção de Santo Amaro e fazendo o que Santo Amaro fazia: curava, ajudava às pessoas, era solidário e reconciliador, um homem de paz. Nosso município precisa também dessa paz. As famílias precisam da paz e do diálogo. E lembramos da mensagem de fim do ano do papa: O cuidado é o caminho para paz. Quem não cuida, não promove a paz. Então vamos, nessa pandemia ainda muito forte, cuidar de nós mesmos, cuidar do outro e cuidar da igreja, cuidar da sociedade como um todo — enfatizou. Medidas como a utilização de máscaras e o distanciamento entre os fiéis também serão observadas.
Caminhada deve ser feita individualmente ou em família
Caminhada deve ser feita individualmente ou em família / Folha da Manhã
Cerimônias religiosas começam nesta quarta
Cerimônias religiosas começam nesta quarta / Folha da Manhã

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