Onirismo
*Afrânio Sobral 01/08/2019 19:29 - Atualizado em 05/08/2019 14:05
Divulgação
Reunião de família
Houve um prenúncio obscuro de que haveria um encontro familiar impossível atualmente. Parece que um homem velho, mas eternamente jovem e residente no Chile, acordou o primo fazendo-lhe uma surpresa. Há dúvidas sobre esse momento. O primo acordado não se recorda bem do que aconteceu, por mais que tenha forçado a memória.
Mas recorda-se bem de ter chegado na sala e encontrado a tia querida, que veio de Portugal e viajou a noite toda para visitar um ramo da família. A tia, aquela tia de quem todos os sobrinhos gostariam de ser filhos. Aquela tia muito querida. Então, sobrinho e tia se abraçaram comovidamente. Ambos choraram de alegria, e a nenhum dos dois ocorreu pensar que ela já havia morrido. Na verdade, os mortos ressuscitaram. O outro tio lá estava. Foi ele que dirigiu o carro a noite toda para conduzir a irmã. O carro era ainda um azul, muito antigo, há muito tempo fora da moda.
Lá estavam a mãe, o pai e todos os parentes. Foi um dia festivo e alegre para todos. Tudo não deve ter passado de um infinito desejo, pois, da fotografia do nonagésimo aniversário da avó, quase todos estão mortos.
 
 
Museu de Campos
Finalmente a inauguração do museu municipal de Campos. No meu sonho, partia-se de um momento atemporal em que pessoas de distintas épocas, com longos intervalos entre si, podiam estar presentes. O prédio mais parecia uma grande residência familiar que um bem público. Entrei. Marcello de Ipanema, hoje falecido, estava na recepção. Ele não manifestou muita surpresa ao me ver. Saudou-me com um aperto de mão. Parecia até que nos encontrávamos com frequência. Eu esperava dele mais efusão. Levantar-se da cadeira, abraçar-me com força e externar efusão.
A cadeira em que estava sentado ficava ao lado de uma comprida mesa. Sobre ela, medalhas, troféus, pratos com fundo estampado, máquinas de escrever, fotos, quadros, correntes, adornos e uma grande quantidade de quinquilharias mais. Estava tudo misturado. Não havia sequer uma etiqueta de identificação das peças. Eu me encontrava dentro de um típico museu interiorano. Andei pela casa. Pela porta de um quarto, vi uma senhora idosa deitada. Ela não me percebeu. Ou dormia ou cismava. A cena parecia a de um asilo.
Dirigi-me ao banheiro. Estava ocupado. Continuei errando pela casa até encontrar a cozinha. O movimento era grande. Uma senhora de meia idade comandava os cozinheiros. Voltei para a sala principal. Eu não me encontrava num prédio público, mas numa residência dentro da qual o museu foi improvisado. Aquele acervo caótico não servia para nada. Não informava nada.
O almoço estava servido. As pessoas aguardavam sua vez de serem servidas numa fila indiana. Entrei nela. Quando chegou minha vez, uma moça se ofereceu insistente para me servir. Enquanto colocava o que eu pedia no prato, perguntou se o trabalho para avaliação podia ser apresentado em forma de power-point em vez de escrito, como eu pedira. Era uma das minhas alunas. Daí sua insistência em me servir. Percebi sua intenção. Apresentar imagens era bem mais fácil que escrever. Pensei por alguns instantes e aceitei a proposta. Se eu captei sua intenção, creio que ela não captou a minha. O trabalho projetado em imagens dispensava-me de leitura. Eu não suportava mais ler avaliações escritas. Diante da chamada correção, minha vontade era chorar por perceber que todo meu esforço de ensino não serviu pra nada.
Mas ela teve algum receio. “Professor, e se a turma reclamar do senhor por ter permitido um trabalho com slides quando seu pedido foi o de um trabalho escrito?”. Respondi que, no judiciário, as pessoas pedem coisas. Mas a resposta pode ser negativa ou positiva. Ela me perguntou e eu aceitei. Que as outras alunas formulassem seus pedidos como ela.
A esperteza transparecia naquele rostinho jovem e ligeiramente belo. Eu me sentia mal, como se estivesse numa sala de aula em que a balbúrdia imperava. Acordei. Como esse, muitos outros sonhos parecidos ainda ocorrem na minha vida.
 
Sonho bizarro
Tive um sonho esta noite que me pareceu fascinante ainda enquanto sonhava. Ao acordar, recordava-me de parte dele, e julguei que não esqueceria desta parte. Agora que me sento para anotá-lo, esqueci tudo. Só lembro que ele era fascinante.
Assim como estou perdendo a memória com o envelhecimento, também não sonho como antes. Dizem que a vida agitada de hoje está nos roubando o sono profundo. Sem ele, nossos sonhos são superficiais. Mas, lá pelos 68 anos de idade, vivi uma fase de sonhos maravilhosos. Todos eles eróticos. Com alguns, alcancei o orgasmo.
A fase da minha vida em que mais sonhei foi na adolescência. Mesmo sem sonhar, eu tinha poluções noturnas vigorosas. Não sei se elas decorriam de algum sonho do qual não me lembrava ao acordar ou se a polução intensa era fruto do acúmulo de esperma.
Lembro de um sonho erótico muito estranho. Era muito comum haver animais de estimação na minha casa, sobretudo cachorros. Era frequente o nascimento de filhotes. Todos nós, crianças e adolescentes, sabíamos como eles nasciam. Até auxiliávamos o parto com o estímulo da minha mãe.
Certa noite, sonhei que um filhote, ainda com olhos fechados e sem dentes, procurou a mãe para mamar. Pelo faro, ele foi se arrastando até sentir o cheiro do leite no meu corpo e me chupou. Não demorou muito para que eu ejaculasse copiosamente na boca do bichinho. E quanto mais o esperma quente jorrava, mais ele me se excitava.
Acordei logo depois que, no sonho, ele acabou de mamar em mim. Eu estava todo molhado pelo líquido branco e ainda quente. Ao levantar, fui ver os filhotes mamando na mãe. De longe, comparei cada teta dela e meu pênis mole. Por menor que ele fosse, não caberia na boca do cachorrinho. Por mais guloso que ele fosse, o fluxo de esperma o engasgaria e ele poderia morrer sufocado. Mas sonho é sonho.

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