Crítica de cinema - A dor que modifica
24/08/2018 19:11 - Atualizado em 28/08/2018 13:05
(O Protetor 2) -
Robert McCall (Denzel Washington) está de volta, e o equalizador segue a espreita com seu senso de justiça, ajudando as pessoas. Com o assassinato de Susan (sua amiga e única conexão com sua vida passada), ele sai em busca de vingança e com ajuda de seu ex-parceiro Dave (Pedro Pascal), ele se envolve em uma trama cheia de conspirações que força um embate com seu passado.
Na cena de introdução do longa, em um diálogo McCall diz existirem dois tipos de dor, a que machuca e a que modifica e o longa parece se guiar por essa sentença. Porém McCall é um protagonista que tem seu luto relacionado a perda da esposa, a natureza de seu ofício nunca foi um problema, junto a seu senso de justiça, ele cria sua justificativa moral.
A estrutura do roteiro de Richard Wenk (Jack Reacher: Sem retorno) é basicamente a mesma do longa anterior, acontece uma trama central que só se desenrola quase na metade da projeção, enquanto isso, McCall age em subtramas menores em que ele ajuda pessoas em sua cidade. Aqui, Wenk aposta em uma trama central mais pessoal, com o objetivo de revelar um pouco do passado do protagonista e trazer uma carga emocional que não funciona.
Em paralelo ao fiapo da trama central, acontecem os casos em que ele ajuda as pessoas de sua comunidade e ali acontece a trama mais interessante, que é a relação de McCall com Miles (Ashton Sanders). Nessas subtramas é que está o verdadeiro coração do longa e provavelmente o pequeno diferencial dentre tantos outros filmes tão similares.
O título original do longa é “The equalizer”, que em uma tradução literal seria algo como o equalizador. Seria aquele que iguala as coisas, logo, ele está ali para fazer justiça e equilibrar a balança. Partindo dessa idéia, o filme traz diferente pontos de vista do personagem, aos olhos dos coadjuvantes, criando um ar mítico, um pouco parecido (devida as proporções) com o que acontece com Max na franquia Mad Max.
Não por acaso, ele é visto por diferentes personagens como o homem que foi além da morte, como a mão direita de Deus, quase como uma ferramenta divina para fazer justiça e ao final, Miles o vê como um super herói, mais pé no chão, com o poder de antever o que vai acontecer.
A forma suicida com que o personagem confronta seus adversários e sua aparente fé inabalável de que nada vai lhe acontecer, corroboram muito na construção desse mito junto ao espectador. Não que em algum momento, alguém ache que ele vá morrer, mas frente aos filmes de ação modernos, McCall é um personagem que fisicamente sofre pouco.
Após a morte do diretor inglês Tony Scott (costumeiro parceiro de Denzel), Antoine Fuqua (Dia de treinamento) parece ter assumido o posto de parceiro do astro. Já é o terceiro trabalho praticamente seguido dos dois, que começaram essa parceria em 2001 com o aclamado “Dia de treinamento”, filme que deu a Denzel seu segundo Oscar. Apesar de uma carreira irregular, Fuqua é um cineasta acima da média, que consegue trabalhar bem as cenas de ação e dar ritmo ao filme, que mesmo prejudicado pelo fraco roteiro, consegue prender a atenção do espectador.
Denzel Whashington é um desses atores que conseguiu atingir um nível em sua carreira em que consegue segurar um filme apenas com seu carisma e talento. Com seu tom de discurso pastoral e sua energia nas cenas de ação, Denzel eleva o nível da produção e torna Robert McCall crível.
Com um terceiro ato que remete a um clássico duelo de western, Fuqua fecha a construção da figura mítica de seu protagonista com imagens evocativas que remetem diretamente a figura lendária de John Wayne. Ele parece entender que a força do personagem está mais atrelada a figura imponente de Denzel que de fato a construção do forasteiro moderno que age em pró da justiça.

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