Crítica de cinema - A mentira morta
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 27/08/2018 18:32
(“Slender man: pesadelo sem rosto”) —
Em 2009, Victor Surge’ Knudsen criou uma lenda urbana com a figura de um homem alto, esguio, sem rosto e com braços e pernas exageradamente alongados visando um concurso de photoshop. Algo sem grandes pretensões de um homem sem pretensões. Não demorou para que ele ganhasse vida própria nas redes sociais como figura sobrenatural. Até mortes foram praticadas em nome ou por causa dele.
Aproveitando esse veio, David Birke escreveu o roteiro para o filme “Slender man: pesadelo sem rosto”, com direção de Sylvain White. Tudo começa quando as adolescentes Wren, Hallie, Chloe e Katie se reúnem no porão da casa de uma delas e, pelas redes sociais, invocam o perigoso homem alongado. Ele aparece e marca a vida de cada uma das quatro moças que estavam mais à procura de pequenas transgressões típicas da adolescência.
Depois da aparição da lenda urbana, uma delas desaparece na floresta. Nada mais voltará ao normal para as três amigas depois desse sumiço. Sem dúvida “Slender man” é um filme de terror. Sobrenatural e medo estão presentes nele, que tem merecido a classificação de pós-terror. Esse prefixo não se sustenta, tanto quanto é frágil a classificação de pós-moderno. Trata-se de um filme de terror usando as novidades do seu tempo. No caso, as redes sociais. No passado recente, as assombrações saíam de casas abandonadas, de porões, de sótãos, de florestas e de tantos outros lugares lúgubres. Agora surgem também de computadores e celulares.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Se entendido literalmente, o filme é de fato um drama em que intervém uma entidade sobrenatural — o homem esguio — a assombrar quatro moças que se atreveram a invocá-lo pelas redes sociais. Ele some com uma e aterroriza as outras três até levá-las à loucura. Entendido como metáfora, pode-se concluir sobre o perigo dos celulares e computadores, que tanto podem exibir mensagens autênticas e fotos inocentes de mocinhas quanto mensagens falsas e perigosas.
Por mais que os filmes enquadrados na categoria de pós-terror tentem se desvencilhar do terror clássico, “Slender man” tem um pé no presente e outro no passado. Um dos traços clássicos é a escuridão. Ela está presente nele. Até os dias são escuros e tudo parece noite. Lembro do clássico “Trinta dias de noite”, de 2007. A floresta é também um local assustador. Ela cerca a cidadezinha. Lembro de “A bruxa”, outro clássico, de 2016, este mais documentário que terror. Há um terceiro elemento: o ruído intenso e súbito para assustar o espectador mais com o som que com a imagem. Quase todos os filmes de terror usam esse recurso.
Enfim, “Slender man” assusta os incautos numa leitura de superfície. Em segundo plano, o filme não inova na abordagem apenas por valer-se de recursos eletrônicos, algo que já vem sendo usado há muito tempo.
 

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