Guilherme Belido Escreve - Lula o filho da decepção
27/01/2018 21:12 - Atualizado em 29/01/2018 17:00
Ex-presidente Lula
Ex-presidente Lula / Divulgação
Como tudo quando se olha de perto, a visão é estreita e o horizonte reduzido.
Assim pode ser definido o previsível resultado do julgamento do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja condenação em segunda instância pôs mais uma pedra – um gigantesco rochedo – na imagem e no início de um desfecho anunciado daquele que como nenhum outro mentiu, iludiu e frustrou o povo brasileiro, na medida que sob nenhum outro se colocou tanta esperança, tantos sonhos e tanta expectativa.
Por isso é preciso recuar e ver mais de longe para que se tenha visão panorâmica do significado trágico de Lula sobre o Brasil – ainda que também ele seja alcançado por essa mesma tragédia.
Trocando em miúdos, não se trata do quanto roubou ou deixou de roubar. Não se trata do triplex, do sítio, das palestras ou da relação espúria com as empreiteiras. Trata-se dele, do Lula da Silva em quem o Brasil colocou toda confiança, ter sujado as mãos e se revelado mais um entre tantos políticos corruptos que andam por aí.
No fundo no fundo, o Brasil pouco se importa e nada se surpreende com a corrupção de um Eduardo Cunha ‘da vida’, ou Geddel, ou Cabral, ou Picciani, ou Henrique Eduardo Alves... Afinal, ‘falando sério’, quem liga para Henrique Alves? Quem é Henrique Alves e o que representa para o Brasil? Nada!
Indo ainda mais longe, será que o povo sentiu mesmo, pra valer, a saída de Dilma? Ou perdeu o sono por ela ser ou não ser beneficiária de conta no exterior?
E Michel Temer, com toda perplexidade do áudio gravado na calada da noite, em porão de garagem, por gente do tipo de Joesley... – falando em termos caricatos – alguém dá a mínima?
Mas Lula da Silva, chafurdando em propina, como se fosse um Rocha Loures qualquer... aí o povo sentiu.
Observa-se, não raro, que pior do que o tamanho da desonestidade ou quão vil seja, é descobrir que mãos a trazem.
Lula, ao mesmo tempo que perdia eleições para Collor e Fernando Henrique, crescia politicamente. As derrotas, ao invés de o tirarem de cena, ampliavam-lhe o palco.
E vieram as duas vitórias seguidas. Um operário... um sofrido retirante nordestino chegava à Presidência da República do Brasil. O País se encheu de orgulho. O povo se viu representado como tal não se sentia desde Getúlio Vargas.
Fez sua sucessora em 2010 e convenceu a população para que a reconduzisse em 2014. Com o Petrolão já revelado, o eleitor atendeu ao apelo de Lula como fizera em 2006, quando nas urnas o isentou de participação no Mensalão.
De lá para cá, nos últimos quatro anos, as evidências falaram por si.
Desilusão
Num breve retrospecto, nem a surpreendente renúncia de Jânio Quadros e tampouco o tresloucado comportamento de Fernando Collor que lhe valeu o mandato, produziram no povo senão ressaca de 24 horas.
Nem antes ou depois, diria que dos anos 30 do século passado aos dias de hoje, de nenhum outro mandatário o povo – a Nação – apostou, confiou e esperou tanto.
Logo, a ninguém (excetuando Vargas que, como já dito, fez mais e foi além do que os “trabalhadores do Brasil” esperavam) foi dada procuração em branco para que comandasse o País e conduzisse o povo, em especial os mais humildes, para onde disse que levaria, quase sempre entre lágrimas em meio a discursos inflamados.
O filme “Lula, o filho do Brasil”, produzido em 2009, virou ficção. Lula não é o filho do Brasil que todos pensavam, mas da decepção, para não dizer da farsa.
Da condenação de 4ª-feira (24) pelo TRF-4, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não obstante caiba recurso, dificilmente se livra da inelegibilidade imposta pela Ficha Limpa. Dessa forma, Lula está mais perto da prisão do que do Palácio do Planalto.
Enfim, salvo se o Brasil inteiro lhe deve desculpas, Lula da Silva, o metalúrgico que virou líder de uma categoria – depois de um País e de seu povo –, definha para ser lembrado como aquele que não respeitou um voto sequer dos milhões que obteve, nem o abraço ou o carinho que recebeu da população.
Aquele que deu as costas aos mais rudimentares conceitos de república, bem como à boa fé do povo brasileiro.

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