Motivações políticas no processo?
Suzy Monteiro 20/01/2018 15:00 - Atualizado em 23/01/2018 17:12
Nelson Nahim
Nelson Nahim / Antônio Leudo
Ex-presidente da Câmara e ex-prefeito interino, Nelson Nahim sempre colecionou reconhecimento por suas práticas administrativas. Quando esteve à frente do Executivo no período dos seis meses em que substituiu a cunhada, Rosinha Garotinho, durante sua primeira cassação, em 2010, conseguiu a façanha de governar ao lado da oposição, homologou o concurso do PSF e realizou uma das mais elogiadas bienais do livro. No Legislativo, devolveu sobra do orçamento à Prefeitura, reformou a parte interna da Câmara e realizou o concurso para o Legislativo. No que chama de auge de sua carreira política, viu seu nome citado no caso “Meninas de Guarus”, foi preso por duas vezes e agora recorre junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio. Em sua primeira entrevista sobre o assunto, Nahim não se furta a responder e negar, quando perguntado se tinha relacionamento com a menina. Ele diz que a suposta testemunha mudou o depoimento cinco vezes e que acredita que ela tenha sido “orientada” por alguém que tinha intenção de prejudicá-lo. E afirma que tudo de ruim ao longo de sua vida tem a digital de seu irmão, o ex-governador Anthony Garotinho. Nahim voltou a figurar o noticiário político por ser suplente na Câmara Federal de Cristiane Brasil, que foi autorizada, neste sábado, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a assumir o ministério do Trabalho.
Folha da Manhã – Nahim, vamos começar esta entrevista com uma questão que inevitavelmente vem à tona, nos últimos anos, cada vez que seu nome é citado: como está sua situação, hoje, no processo em que foi condenado no “Meninas de Guarus”?
Nelson Nahim – Primeiro, quero dizer que sempre tive muita tranquilidade em relação ao processo, embora tenha sido um absurdo aquela decisão judicial. Já fui chefe do Poder Legislativo e Executivo e respeito todos os poderes, por ser uma decisão judicial, embora não concorde. O processo hoje encontra-se no Tribunal de Justiça do Estado. De minha parte, não falta mais nada. Já fizemos a apelação. Agora estamos esperando apenas a desembargadora dar o voto dela e, consequentemente, os outros desembargadores também possam avaliar e ir a julgamento. A fase processual, hoje, é essa.
Folha – Esta é a primeira vez que você fala sobre o assunto E vou fazer a pergunta da maneira mais clara possível: Você tinha um caso com aquela menina? Você tinha um relacionamento com ela?
Nahim – Claro que não. E o próprio processo mostra isso. Qualquer pessoa que examine os autos do processo vai verificar que, desde o primeiro depoimento da suposta vítima. Aliás, nem existe vítima. Fui condenado por estupro, sem ter uma “estuprada”. Nos meus 37 anos de formado em Direito nunca tinha visto isso. Não sei como uma pessoa pode ser condenada por um crime, se a própria vítima nega que tenha havido crime contra ela. Claro que nunca tinha. A suposta vítima, desde a delegacia, depois no Ministério Público, depois em Juízo, sempre disse que nunca teve qualquer tipo de relacionamento nem pessoal, quanto mais sexual comigo. Que me conhecia por fotografia. Isso que estou falando está nos autos do processo.
Folha – A que você atribui, então, o envolvimento de seu nome e a condenação?
Nahim – Tem coisas que estão nos autos que são obvias. Primeiro: Não é suspeito uma testemunha prestar cinco depoimentos diferentes? Minha condenação se baseia única e exclusivamente no depoimento de uma outra menor, que no primeiro depoimento tomado na delegacia de polícia, isso em 2008 ou 2009, não menciona meu nome. Inexplicavelmente, no dia seguinte, esta mesma testemunha é chamada à delegacia e conta a versão que a maioria das pessoas conhece: que uma pessoa ligava, dizendo chamar Nahim e que queria sair com uma determinada menor. À época, em fase policial, a menor foi chamada e lá ela disse que nunca teve qualquer tipo de relacionamento comigo, nem mesmo pessoal. Depois disso, essa testemunha foi chamada no Ministério Público. Dr Leandro, se não me engano. E lá ele fez a mesma indagação. E a testemunha confirmou a versão de que alguém ligava, perguntava sobre a outra menor e que saía com ela. Contudo, já nesse depoimento no Ministério Público, essa mesma testemunha, ao serem mostradas várias fotografias, não reconheceu como sendo Nelson Nahim a pessoa que supostamente sairia com a menor. Esse seria o terceiro depoimento. Passados anos, eu estava na condição de prefeito da cidade, no dia 13 de dezembro de 2010, inexplicavelmente, esta mesma testemunha compareceu, levada por uma conselheira tutelar, no Ministério Público, contando uma versão totalmente diferente, já a quarta versão. Primeiro, ela diz que eu a teria abordado na rua para que mudasse o depoimento. O que é uma contradição, já que o depoimento anterior não me condenava em absolutamente nada. Por que eu vou querer que alguém mude um depoimento que não me acarreta prejuízo nenhum? E mais: que eu queria montar um prostíbulo em Campos e outro em Macaé. E que eu teria levado a suposta vítima ao sítio para ter um relacionamento lá. Bom, isso ficou parado anos. De 2010 até 2014, quando fui denunciado e decretada minha primeira prisão preventiva. Absurdamente, porque não tinha sentido, quatro anos depois qual risco que corria? No meu modo de ver, tenho que entender a Justiça, mas tenho o direito de discordar. Tanto que consegui, em poucos dias, sair da prisão. Mas ainda há outra mudança de depoimento: Ela em Juízo, depois desse tempo todo, volta a afirmar a questão do sítio e tal, mas a vítima novamente nega, dizendo que não sabe por que esta menina tenha feito isso, nem quais razões porque jamais teria saído comigo. Ou seja, ela vai mudando o depoimento. Chegou em Juízo a dizer que eu teria tido relação com ela mesma, coisa que não tinha falado antes. Só posso imaginar uma coisa. Obviamente, ou essa menina foi obrigada a falar ou tem interesses políticos envolvidos. Na época eu estava como prefeito. Outra coisa absurda na minha condenação: provei nos autos que não estava nem na cidade. Estava no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Tenho uma certidão do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, dizendo que estava lá, em audiência com um conselheiro, tratando de assuntos da cidade. Era até impossível ter feito isso. Mas nada disso foi levado em consideração pela juíza que julgou o caso, a dra Daniella. Seus argumentos foram que a suposta vítima mentiu para me beneficiar. Porém, o mesmo depoimento serviu para condenar um monte de gente. Ou seja: dois pesos e duas medidas. E mais ainda. Na condenação decretou a prisão preventiva por 20 anos. Uma prisão preventiva arbitrária, no meu modo de ver. Maior até que a própria condenação, que foi de 12 anos. A título de que, se não há nos autos nada que comprove que eu tenha ameaçado alguém? Respondi processo em liberdade o tempo todo. Por que se dá uma sentença e às 6h a Globo News estava na porta da minha casa, sem que nem a imprensa local soubesse? Ao dar a decisão, a juíza menciona o fato de eu ser de uma família influente e ser irmão de Garotinho. Ser irmão de alguém significa que tenho que ser punido? Confio, primeiro em Deus, confio na Justiça, mas é um absurdo alguém ser condenado por aquilo que a vítima jamais confirmou.
Folha – Você fala em 13 de dezembro de 2010. Dentro do contexto político de Campos e do Estado do Rio, você estava como prefeito desde junho. Um dia depois, o TSE anulou uma condenação de Garotinho que, no dia seguinte é diplomado deputado federal, após ser eleito com a maior votação já registrada para o cargo no Estado do Rio e a segunda maior do Brasil. No mesmo dia 15, uma liminar do TSE determina a volta de Rosinha a cargo. Depois de um período de indefinições, eles estavam voltando com força total. Quando você fala em influência política a que se refere?
Nahim – Não tenho dúvidas de influência política. Quando fui preso a primeira vez, houve uma coletiva e foi falado de influência política. Mas, na verdade, não tinha entendido o que estava acontecendo. Na verdade, não sabia nem por quê. Nunca tive acesso a este depoimento esdrúxulo desta testemunha, mudando totalmente o que tinha falado. Eu estava descendo e até iria me encontrar para uma caminhada na Feira da Roça com o hoje prefeito e então vereador Rafael Diniz. Fui abordado pela Policia Civil, informando que tinha decretado minha prisão preventiva. Eu não sabia. Mas é obvio. Sem falsa modéstia, estava cumprindo muito bem minha missão de prefeito. Tinha alcançado um alto índice de popularidade. Estava governando a cidade com todos, praticamente não tinha oposição. A oposição governava junto comigo. O Tribunal Regional Eleitoral marcou novas eleições. É evidente que eu queria ser candidato a prefeito. Se fiz uma boa gestão – e posso garantir que fiz – deixei dinheiro em caixa, deixei tudo resolvido, salário, 13, fiz uma grande bienal do Livro na Praça do Santíssimo Salvador, não parei com nenhuma obra. Tinha mais de 200 obras quando assumi, não parei com nenhuma. E pesquisas de opinião apontavam que eu era praticamente imbatível para ganhar aquela eleição. Então, o que eu suponho – não posso afirmar nada – é que alguém queria me prejudicar. Não puderam prejudicar minha imagem como gestor. Enquanto presidente da Câmara ganhei até prêmio por devolver, anos seguidos, dinheiro à Prefeitura. Mesmo construindo por dentro todos os gabinetes dos vereadores. A Câmara é linda por fora porque aquele prédio é bonito. Mas era um caco por dentro. Eu praticamente fiz toda a Câmara por dentro e consegui devolver dinheiro. Na minha época estava com um prestígio tão grande na classe política, que aconteceu um fato que você vai lembrar: Como presidente da Câmara eu respondia como prefeito e como meu mandato como presidente terminaria em dezembro e eu não sabia o que iria ocorrer, eu um dia saí de casa, convocado pelo então presidente da Câmara Rogério Matoso, sentei na cadeira de presidente, foi feita eleição, fui reeleito e a tarde já estava de volta como prefeito. Então, eu estava vivendo um momento político no auge. Terminei obras importantes, outras comecei, como o último trecho da Arthur Bernardes, entreguei escola modelo, posto de saúde, terminei a rodoviária Roberto Silveira. Então, estávamos vivendo um momento muito importante e existiam pessoas que não gostariam que isso ocorresse. Uma das coisas que me vem à cabeça é que uma moça dessas não ia aparecer do nada, mudando o depoimento a toda hora, com versões tão absurdas. Quem me conhece sabe que nunca me envolveria com prostituição, muito menos com drogas.
Folha – Você fala em “pessoas”. Quem seriam essas pessoas?
Nahim – Não posso afirmar porque não posso provar e seria leviano se fizesse isso. Mas, como disse, tinha um trânsito muito bom com a oposição, até porque sempre fui um cara fiel. Quando estive ao lado de Garotinho, quando fui presidente da Câmara durante o primeiro mandato de Rosinha, sempre fui um cara correto. Sempre falei isso, sempre tive essa tranquilidade. Mas Garotinho é uma pessoa difícil de se lidar. Vou contar um fato que, se eu tiver mentindo, há vários vereadores que estão aí para dizer. Na semana que eu assumi, Garotinho convocou uma reunião no partido e queria que eu destituísse, desse um jeito de tirar Rogério Matoso da presidência da Câmara. Falei que era um absurdo. Mal o vice-presidente da Câmara tinha assumido como presidente, eu, com um momento difícil que o Município passava, com a prefeita tendo sido afastada, era um momento de paz, não era um momento de briga. Não havia motivo nenhum para eu fazer aquilo e até mesmo a grande maioria dos vereadores que estava presente concordou com isso. Depois, quando o TRE marcou novas eleições, eu quis ser candidato. E ele, mais uma vez, na sexta-feira que antecedeu o depoimento desta testemunha, foi feita outra reunião – e estão aí vários vereadores e posso citar Magal, o deputado Pudim. Garotinho não queria que eu fosse candidato, que pregasse o voto nulo. Porque, se eu ganhasse a eleição, iria atrapalhar o processo dele. Não estou acusando porque não posso provar. Mas as coincidências são muito grandes. Tenho todos os motivos para, pelo menos, imaginar que alguma coisa aconteceu. Porque como uma moça, que nunca falou nada... E mais: Era pessoa que me conhece porque a testemunha, em um dos depoimentos, fez picardia com a minha religião. Sou católico, devoto de Nossa Senhora das Graças. O sítio chama Sítio Nossa Senhora das Graças. Aliás, o sítio é de minha mulher, comprado por ela. Dizer que eu jogava moeda para a imagem na gruta de Nossa Senhora quando realizava programa. Então, quem fez isso preparou a testemunha. Não foi qualquer pessoa. Foi quem me conhecia, que sabia da minha religião, da minha índole.
Folha – Conhecia o sítio...
Nahim – Conhecia. Muita gente conhecia porque ele ficava na beira da estrada. O ex-caseiro do sítio, que morava lá com a família, prestou depoimento e disse que nunca viu ninguém lá sem ser da minha família. Não tem um grampo, não tem uma foto, não tem um vizinho do sitio que tenha visto nada lá. Então você não gosta de mim, vai lá e presta um depoimento, não prova nada e vale o que você fala? Meu processo é um absurdo. E com objetivo de me queimar do ponto de vista político. Pessoal, é claro, que vem como consequência. Mas o objetivo era político. Negar que isso tudo é muita coincidência... Meu processo é cheio de coincidências.

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