Guilherme Belido Escreve: Faltou dizer
Guilherme Belido 20/08/2017 09:04 - Atualizado em 22/08/2017 13:34
Foi em janeiro, na edição de aniversário da Folha, que pensei em fazer algumas considerações, digamos assim de impressões mais pessoais, sobre a figura de Aluysio Barbosa.
Sob ângulos diferentes, já as havia feito. A primeira delas por ocasião de seu falecimento, em matéria abrigada nesta mesma logo azul, na época publicada em O Diário. Também no site Opinião, pouco antes de sair do ar, num texto que, salvo engano, foi reproduzido pelo Grupo Isalvo Lima para homenagear o jornalista. E, aqui mesmo na Folha, em ocasiões posteriores.
Voltando a janeiro, reservei a ‘minha’ página de domingo para ser a última do caderno e nela inserir matéria sobre Aluysio. Pretendia entrega-la na 6ª-feira quando veio a informação de que os suplementos, impressos em papel Offset rodariam na quinta, em sequência, tendo em vista o ajuste da rotativa para calibragem da gramatura.
Isso, deveria (eu) ter lembrado e previsto. Mas, ainda que escrever e leiautar uma página não seja nada extraordinário, para a pretensão de uma matéria mais caprichada, faz muita diferença encurtar para poucas horas o que se pretendia entregar na noite seguinte.
Fiz, então, o texto sobre Aluysio como as circunstâncias permitiram, deixando para depois o que realmente queria enfatizar. Só que agora, entretanto, verifico que ao invés escrever sobre o que pretendia, me perco em longas explicações do porquê não escrevi o que deveria ter escrito.
Lembranças – Mas... não tem problema. É uma singela homenagem por conta dos cinco anos de seu falecimento, ocorrido no meio da semana, e que, penso, mais vale pela imagem do que por qualquer coisa que possa escrever. Afinal, o que poderia dizer que já não tenha sido dito?
A foto, juntamente a outras feitas na mesma ocasião, é a última que tenho de Aluysio, tirada menos de um ano antes de sua morte, num jantar comemorativo do meu aniversário, no final de agosto de 2011.
Nada além de algumas dezenas de pessoas e a última vez em que nos encontramos mais demoradamente – levando em conta que, lacônico, não era dado a conversas compridas.
Acompanhado de dona Diva – Aluysio Filho chegou depois – falamos de política, assunto predominante em nossos encontros. Mas lembro-me dele ter dito que gostava de ‘festa assim’, aconchegante, para pouca gente, – uma gentileza de quem, com frequência, era anfitrião de eventos que reuniam centenas.
Cordialidade – Curioso observar, nunca fui íntimo de Aluysio, não obstante o tenha visitado algumas vezes em seu apartamento quando se recuperava de cirurgia e, em meados dos anos 90, quando quase semanalmente o interrompia em sua Remington por conta de coluna política que então mantinha na Folha. Em eventuais ocasiões (já há bastante tempo) dividimos mesas em encontros casuais em restaurantes do Rio ou no eixo Atafona/Grussaí, em períodos de verão.
Fui a alguns de seus aniversários (e de dona Diva) e ele a alguns dos poucos que comemorei; bem como ao meu casamento. Evidente, não estou levando em conta encontros impessoais, de caráter puramente social, como eventos do jornal, solenidades e coisas do gênero.
Digo curioso porque, a despeito da pouca intimidade – entendida no rigor da acepção da palavra – circunstancialmente tivemos não tão raras passagens de proximidade, quer por histórias que me contava de seu início de carreira (eu frequentemente provocava esse tipo de assunto), quer na troca franca de opiniões sobre temas que exigiam alguma reserva. Com realce, não posso deixar de sublinhar a cordialidade, a atenção e o carinho que invariavelmente me dedicava, quase sempre iniciado com um “Oi, meu filho!” – o que, penso, estendia a todos de seu convívio.
O jornalista – Bem... Rodei, rodei, rodei e não cheguei onde queria. Mas, de certa forma repetindo o que já disse em outras oportunidades, Aluysio Barbosa fazia prevalecer o estilo impecavelmente refinado mesmo na abordagem de assuntos os mais inóspitos – o que fazia toda diferença: era agudo, objetivo e letal sem ser ofensivo e tampouco agressivo.
Ao contrário, tinha aversão a esse tipo de texto. Além do que, mesmo nas críticas mais duras, batia como quem olha de cima (e aqui, de novo, me repito) porque sabia que esta, sim, era a que melhor atingia e mais respeito produzia. Considerava que o texto chulo desmoronava na terceira linha, morto em si mesmo.
Com faro pela notícia, o repórter nato deixou feitos à altura de seu nome, como no episódio da descoberta do petróleo, na luta pela irrigação e pelo fortalecimento da representação política como forma de alavancar a economia da região.
Base e modernidade – Na criação da Folha da Manhã, o norteamento dos conceitos básicos do jornalismo, associados aos padrões de modernidade então exclusivos da grande imprensa: 1) A notícia cristalina, pura, com observância absoluta dos fatos, descrita por quem está qualificado e treinado para fazê-la chegar ao público: o jornalista.
2) A análise do fato igualmente por quem tem por ofício a capacidade e o entendimento de leva-la a esse mesmo público de forma profissional: o jornalista – o analista dos fatos. Capaz de destrincha-lo e explica-lo, cuja opinião deve estar sempre voltada para os interesses superiores da sociedade e do povo em geral.
No conjunto da informação (narrativa e análise do fato; consequência e impacto) a terceira vertente, agasalhando a pluralidade de opinião – desta vez não a profissional, do jornalista ou do analista – mas de todos, ainda que desprovida da qualificação e do nível de entendimento exigidos de quem exerce a profissão. Mas, seja como for, a prerrogativa da manifestação, via opinião e ponto de vista.
Reconhecimento – Enfim, quando pouco, fica a homenagem. O que escrevo na Folha sobre Aluysio escreveria, usando as mesmas palavras, em qualquer jornal – como já fiz – e como, amanhã, poderei voltar a fazer.
Numa cidade sem memória, acredito ser relevante ao menos tentar contribuir para que importantes comandantes de jornal da segunda metade do século XX, como, por ordem de antiguidade, Oswaldo Lima, Hervé Salgado e Vivaldo Belido de Almeida, não tenham o mesmo destino que tiveram os da primeira – Silvio Fontoura e Júlio Nogueira, para citar apenas os fundadores de A Notícia e A Cidade, dos quais praticamente nada se sabe e nada se conta; relegados ao esquecimento.
Já com o vício exposto de deixar de lado uma legião de importantes jornalistas que fizeram a história da imprensa de Campos para citar apenas os que a comandaram, o tributo é para que estes, dos anos 50/60 para cá – entre os quais Aluysio Barbosa é o caçula dos grandes timoneiros – não venham a sofrer no futuro o abandono histórico imposto àqueles que representaram a imprensa nas primeiras décadas do século 20.

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