Eleições sob efeito da Lava Jato
Matheus Berriel 14/04/2017 15:06 - Atualizado em 17/04/2017 12:47
A um ano e meio da eleição presidencial de 2018, as possíveis candidaturas começam a ganhar destaque nos bastidores dos principais partidos brasileiros e já despertam discussões até mesmo nos diretórios locais das principais legendas. Num cenário de incertezas, devido ao andamento da operação Lava Jato, alguns nomes despontam como prováveis postulantes à presidência. Porém, é bem possível que a lista liberada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), tenha grande influência nas definições para a corrida eleitoral.
Entre os nomes da lista Fachin, há predomínio dos três maiores partidos do país. Com 20 citados, o PT é maioria, seguido por 18 do PMDB e 13 do PSDB. Para o cientista político George Gomes Coutinho, a “mancha moral” das legendas pode causar mudança no cenário político brasileiro, como aconteceu em 1989, quando Fernando Collor, na época candidato pela legenda nanica do PRN, venceu nomes bem cotados como Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Ulysses Guimarães (PMDB), entre outros, superando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno. Collor (PTC) e Lula, inclusive, são dois dos ex-presidentes vivos que fazem parte da lista da “delação do fim do mundo”. Os outros são Dilma Rousseff (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José Sarney (PMDB). O atual presidente, Michel Temer (PMDB), é citado em dois inquéritos, mas “possui imunidade temporária à persecução penal”.
— Entre os analistas, há certo receio de surgir algum tipo de azarão ou aventureiro, que pode ser algo danoso. A gente já passou por isso em 1989. Havia uma profusão muito grande de presidenciáveis. Surgiu um personagem com um discurso pouco ortodoxo para a política brasileira, que foi o Collor. Há receio de que isso se repita, e, como o sistema político está bastante fragmentado, esse tipo de discurso obtenha algum tipo de sucesso — disse George.
Neste momento, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) aparece como possível “azarão”, apesar de ter sua agenda cercada por polêmicas. A mais recente ganhou destaque na última segunda, quando o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública contra o político por danos morais coletivos a comunidades quilombolas e à população negra em geral. Em evento no início do mês, no Clube Hebraica, no Rio, o parlamentar afirmou que visitou uma comunidade quilombola e “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”. Ainda citando a visita, disse também: “Não fazem nada, eu acho que nem pra procriador servem mais”. Na Câmara de Campos, uma moção de repúdio às declarações de Bolsonaro foi aprovada, por unanimidade, na última quarta. Representantes de movimentos negros estavam no plenário durante a apreciação do requerimento apresentado pelo vereador Álvaro Oliveira (SD).
Para George Coutinho, apesar dos conturbados casos em que está envolvido, Bolsonaro não deve ser descartado entre os cotados a chegarem à presidência, visto que as pesquisas de intenção de voto mostram que o político do PSC tem “um eleitorado bastante entusiasmado, com um perfil da classe média tradicional brasileira. Um discurso passadista, com um pouco da ideia de que a solução autoritária é uma solução viável”. Ainda de acordo com o cientista, o maior desafio de Bolsonaro seria o de manter esta parcela do eleitorado conquistado e, dependendo de uma série de circunstâncias, aumentá-la nas proximidades do pleito.
Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) são outros políticos de fora do eixo PT-PSDB que também foram citados pelo cientista político, mas sem ainda terem atingido status suficiente para estarem entre os favoritos. Temer, apesar de negar o interesse, pode ser uma opção do PMDB, caso o partido lance candidatura própria ao Palácio do Planalto.
Lula preferido, desgastado e principal alvo
Embora alguns partidos surjam com possíveis candidatos com chances reais na próxima eleição, PT e PSDB ainda figuram como principais rivais no âmbito nacional, já que se revezaram no Planalto durante quase 22 anos, até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, no ano passado.
No PT, é tratada como natural a candidatura de Lula, como tentativa de retomada da máquina em resposta ao impeachment sofrido por Dilma. Pesquisa espontânea realizada em março pela Ipsos apontou o ex-presidente como político mais bem avaliado em todo o país, o que, para George Coutinho, representa grande resiliência: “Lula tem estado no noticiário nacional, invariavelmente, na condição quase de culpado, de réu. Isso mostra um capital político que é bastante significativo nessas circunstâncias. Os 38% de intenção de voto nas pesquisas de opinião superam o que normalmente a esquerda e a centro-esquerda têm no Brasil, que são 30%. Ou seja, ainda é um agente político significativo”, afirmou.
Para Rafael Crespo, eleito presidente do PT em Campos no último domingo, Lula ganha mais força com a reforma trabalhista proposta por Temer, independente de ser um dos políticos na lista Fachin. “Apesar de todo o destaque que a mídia tem dado, mesmo quando cita ‘n’ valores e ‘n’ políticos e entidades, os nomes do PT e do Lula estão sempre evidenciados. Isso, acredito que seja principalmente por ele estar despontando nas pesquisas, porque ninguém bate em cachorro morto”, enfatizou Rafael.
No PSDB, Dória entre nomes já tradicionais
Se entre os petistas parece que o possível candidato em 2018 está definido, no PSDB há vários políticos com possibilidade de candidatura. Um deles é João Doria, que divide opiniões na Prefeitura de São Paulo. Recentemente, o prefeito disse que não é candidato à presidência. Porém, sempre é lembrado ao lado dos senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, três dos citados nas delações da Odebrecht.
— O partido está vivendo um momento de definição. O PSDB não deixa de assumir o papel de partido político, enquanto o Doria faz um discurso menos refratário ao sistema político, mas é um cara cotado. Neste momento, eu acho que ele pode ser um nome do partido para 2018, se conseguir vencer todas as disputas internas — avaliou George Coutinho.
O discurso do cientista político vai de encontro ao do presidente do diretório tucano em Campos, Robson Colla. Ele enxerga ainda outros nomes que podem aparecer, dependendo do desenrolar da Lava Jato: “Se o pretendente a candidato A ou B não conseguir ser, por alguma razão, o PSDB é um partido de grandes quadros no nível nacional. Vamos entrar num lugar-comum do Doria, que está fazendo esse alvoroço todo em São Paulo, com uma excelente gestão. Mas também temos os senadores Antônio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB), Ricardo Ferraço (ES), governador do Paraná, Beto Richa, o Pedro Taques (governador do Mato Grosso). Enfim, o partido tem muitos quadros. Essa, com certeza, não é uma preocupação”, disse.

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