Delação de Jonas Lopes de Carvalho foi "seletiva"?
Arnaldo Neto 25/03/2017 17:37 - Atualizado em 28/03/2017 13:50
Divulgação
Jonas Lopes de Carvalho Filho, ex-presidente do TCE/Divulgação
A delação do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Jonas Lopes de Carvalho ganhou destaque na imprensa fluminense neste mês. Enquanto o país aguarda pela retirada do sigilo da chamada “delação do fim do mundo”, a dos ex-executivos da Odebrecht, que também respingará em políticos do Rio de Janeiro, o teor da colaboração premiada de Jonas pode explodir as estruturas do PMDB fluminense e atingir ex-governadores, prefeitos e até colegas conselheiros. No entanto, segundo matéria publicada neste sábado (25) no jornal O Dia, a credibilidade da delação está sendo posta em jogo: Jonas não teria denunciado esquema envolvendo governos de um grande aliado, cujo histórico se confunde com a sua trajetória de vida. O jornal carioca informou ainda que o ex-presidente do TCE; o filho dele, o advogado Jonas Lopes Neto; a nora e os dois netos já estão fora do país. A autorização da viagem, por 40 dias, foi concedida pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Felix Fischer.
A delação de Jonas Lopes seria uma tentativa de proteger a carreira do advogado Jonas Lopes de Carvalho Neto, filho dele, que também teria firmado acordo de colaboração. Em dezembro, eles chegaram a ser conduzidos coercitivamente para prestar depoimento à Polícia Federal na deflagração da operação Descontrole, resultado de investigação da força-tarefa da Lava Jato no Rio. À época, também foram feitas buscas no escritório de advocacia Lopes de Carvalho & Pessanha, além da condução de Jorge Luiz Mendes Pereira da Silva, o Doda, apontado como operador de Lopes.
Segundo o jornal O Dia, é dado como certo que o ex-presidente do TCE, atualmente licenciado, apontou seis conselheiros e um ex-membro da Corte como integrantes do esquema de propina, além de prefeitos e megaempresa de prestação de serviço cujo dono fez fortuna durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral. Jonas também teria revelado um acordo de convênios fraudulentos no governo Cabral.
Jonas Lopes de Carvalho Junior se tornou Conselheiro do TCE após indicação do então governador Garotinho, em 2000. Ele é advogado formado pela Faculdade de Direito de Campos e filho do criminalista Jonas Lopes de Carvalho. Joninha, como é chamado pelos amigos, já foi Procurador-geral da Prefeitura de Campos. Ele presidiu o TCE entre 2011 e 2016, período das obras de preparação para Copa do Mundo e Olimpíadas, além de conduzir os processos de fiscalização das contas das prefeituras de todo o estado (exceto a capital). Já o filho dele, Jonas Lopes de Carvalho Neto, consta como advogado de Garotinho em diversas ações.
No decorrer das investigações da força-tarefa da Lava Jato no Rio, ex-executivos da Andrade Gutierrez contaram que, para garantir a aprovação dos contratos de obras e aditivos no TCE, presidido por Jonas, pagaram propina no valor de 1% do dinheiro repassado à empreiteira.
A Folha tentou, sem sucesso, contato com Jonas Lopes de Carvalho Neto.
Impactos do acordo em destaque na mídia
Na edição de O Globo do dia 12 de março, os colunistas Elio Gaspari e Lauro Jardim abordaram sobre a delação do ex-presidente do TCE. Na nota “Algemas a postos”, Gaspari informou que o teor da colaboração pode explodir as estruturas do PMDB fluminense e atingir os ex-governadores Anthony Garotinho (hoje PR) e Sérgio Cabral (PMDB), este preso desde novembro pelos desdobramentos da Lava Jato no Rio. Já Lauro Jardim informou que Jonas ficaria com tornozeleira eletrônica por dois anos, em prisão domiciliar em sua fazenda de Além Paraíba (MG), “bem distante dos escombros que restarão da Assembleia Legislativa do Rio após sua colaboração”.
A nota de Elio Gaspari informou ainda que Jonas não havia poupado ninguém, versão colocada em xeque na matéria deste sábado do jornal O Dia. Gaspari informou que acima dos ex-governadores teria mais um político influente do Rio que deveria se preocupar com a delação: “por incrível que pareça, o poderoso Jorge Picciani (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa. Isso para não se falar nos demais conselheiros e nas pencas de prefeitos que passavam pelo Tribunal”, salientou.
Dois dias depois, no blog assinado por Lauro Jardim no site do jornal O Globo, o jornalista Guilherme Amado publicou uma nota sobre os possíveis próximos acontecimentos, antecipando que a Polícia Federal pode ser acionada para entrar em ação a qualquer momento, movimentando ainda mais os bastidores da política fluminense.

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