Guilherme Belido escreve - Temer abandona promessas
Guilherme Belido 05/02/2017 12:28 - Atualizado em 10/02/2017 12:17
Referindo-se ao processo que pede a cassação da chapa Dilma/Temer [em resposta à pergunta da jornalista Amanda Klein, do É Notícia, da Rede TV], o ministro do STF, Gilmar Mendes, disse que “os autos estão inconclusos”.
Instigado pela repórter de estilo arisco, o juiz da Suprema Corte fez uma série de considerações sobre temas febris, como Lava Jato, delação, prisão preventiva, escândalos de corrupção na política, metade do Congresso investigado por propina, abuso de autoridade, a própria heterogeneidade cada vez mais visível nas entranhas do Supremo... e por aí vai, num cenário nada animador.
Para onde a jornalista mirasse as perguntas – com o ministro tendo que se virar para respondê-las sem engrossar ainda mais o caldo de assuntos tão delicados – ao telespectador ficou novamente claro que o Brasil vive crise sem precedentes e sem uma mísera lamparina no fim do túnel.
Em suma, a julgar pelos descaminhos do País, que comparado a um rio está prestes a transbordar – posto que a cada semana é atingido por novo temporal – diria que o Brasil todo está inconcluso. 
E esta semana, meio que disfarçadamente, entrou mais água.
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Na longa introdução que precede o texto que se segue, a lúcida entrevista do ministro Gilmar entrou quase ao acaso, como simples ilustração ao que se deseja expor, na esteira de uma série de ações que para muito além de desarrazoadas, mostram-se desprovidas de um mínimo de sensatez, coerência ou lógica.
Isso porque a população, além de desrespeitada, também é afrontada na medida que tratada pelos polí-ticos como se fosse incapaz de refletir ou enxergar a gravidade da crise.
Uma crise que não para de crescer e impor danos diretos à vida de cada um e de todos que não fazem parte de uma minoria de abastados – quer sejam os próprios “agentes da corrupção”, quer seus cúmplices e quer, ainda, os que ganham com o infortúnio alheio: aqueles que compram abaixo do valor e empregam por salários mais baixos. São os aproveitadores de plantão, que pela força do dinheiro ficam mais ricos e deixam os pobres mais pobres.
E O 2017 PROMISSOR?
Ora, façamos uma conta e vejamos se o povo não está sendo feito de bobo. Do jeito que estão indo as coisas, fevereiro aponta que não teremos nenhum abrandamento em março... E terá passado o primeiro trimestre.
Assim, a crise que mostrou a cara em 2014, que cresceu em 2015 quando a ex-presidente Dilma nada fez senão tentar se manter no cargo – mas prometia diminuir em 2016 com a chegada de Temer – além de não perder força no ano que passou, agora dá sinais de se agigantar no antes “promissor” 2017.
Ora, como é que é? O pior vai ser 2015, 2016 ou 2017? Onde o Brasil avançou com a “confiança e a governabilidade” que seriam “resgatadas” com Temer? Ou é mentira que o desemprego aumentou, que a indústria está ainda mais retraída, que o comércio continua fechando pontos de vendas e que vários estados e municípios estão quebrados?
Será mentira, também, que servidores de diversas esferas estão com os salários atrasados, que aposentados estão passando necessidades e o Brasil sofre a pior distribuição de renda da história?
AUSTERIDADE ONDE CONVÉM
Trocou-se Dilma por Temer para trocar seis por meia dúzia? Num quadro tão catastrófico (que de fato era) como o pintado pelos que fomentaram o impeachment e em nome de sua constitucionalidade assumiram o governo, já não seria hora de alguma melhora ser vislumbrada?
Ao contrário, com a população endividada até a raiz do cabelo, o Brasil segue com a política de juros mais altos do mundo e para socorrer os estados a União exige que os governadores aprovem pacotes de arrocho, com cortes e aumento insuportável de imposto e contribuição. Isso é política de austeridade ou de aniquilamento?
E a austeridade para os super-salários? Para as mordomias dos deputados e senadores e suas dúzias de “assessores” que custam uma fortuna à sociedade? Continuando... alguma austeridade contra os lucros exorbitantes dos banqueiros? Ou para reduzir os altíssimos rendimentos (fora os privilégios) resultantes da soma dos salários-base, mais benefícios, gratificações e extras de servidores que ocupam cargos elevados nos mais diferentes órgãos do legislativo, executivo e judiciário?
MINISTÉRIO PARA MOREIRA
Para refletir e não deixar este texto ainda mais longo do que o suportável num domingo de verão: 1) Renan, réu no Supremo e carregando mais uma dúzia de inquéritos, cumpriu até o último minuto o mandato de presidente do Congresso; 2) Depois de emplacar aliados nas Presidências do Senado e Câmara, o governo Temer vai abandonando a promessa de cortar 10 ministérios (criticava abertamente os 32 de Dilma) e cria mais dois, que com o da Cultura chega a 28. Logo, apenas 4 a menos que a antecessora. 4) E, para fechar, nomeou Moreira Franco, citado em delação da Lava Jato, para a Secretaria-Geral da Presidência da República, criada com status de ministério e conferindo ao titular foro especial por prerrogativa de função, o chamado “foro privilegiado”.
Alguma semelhança com a nomeação de Lula para a Casa Civil, quando a Lava Jato fechou o cerco contra a ex-presidente?
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