Crise não tira férias nas universidades
Marcus Pinheiro 05/02/2017 11:20 - Atualizado em 06/02/2017 13:02
Michelle Richa
Unidades de ensino superior em Campos / Michelle Richa
A grave crise econômica que atinge o Brasil vem atingindo em cheio as universidades estaduais e federais. Em Campos, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) agoniza em dívidas que se arrastam desde outubro de 2015, orçadas em mais de R$ 40 milhões e que comprometem o funcionamento da instituição. Além das greves e atrasos dos anos letivos, os dois campi do Instituto Federal Fluminense (IFF) na cidade e os campi da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) também podem sofrer com novos cortes nas verbas para setores como gestão, investimentos e expansão, graças a redução ou, em alguns casos, estagnação no valor aprovado pelo Congresso Nacional para as entidades federais de ensino em 2017 em comparação com 2016.
De acordo com dados divulgados no segundo semestre de 2016 pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), para a garantia das atividades das 644 unidades, considerando o número de matrículas de cada entidade no ano de 2017, seriam necessários R$ 3,7 bilhões. No entanto, segundo o Conif, o Ministério da Educação (MEC) orçamento de R$ 2,1 bilhões.
O presidente do Sindicato Nacional dos Servidores Federais de Campos (Sinasefe), Paulo César Caxinguelê, informou que, após uma série de ações dos reitores junto ao MEC, a aprovação anterior sofreu um reajuste de R$ 300 milhões, elevando o orçamento direcionado às unidades federais de ensino para R$ 2,4 bilhões. Mesmo com a recuperação orçamentária, Caxinguelê afirmou que alguns campis do IFF terão dificuldades.
— Os valores aprovados para 2017 são inferiores ao de 2016. Isso faz com que a instituição trabalhe no limite do teto do orçamento. A previsão orçamentária é de R$ 63 milhões, inferior aos R$ 68 milhões de 2016 — disse o presidente do Sinasefe que acrescentou dizendo: “Para mantermos a qualidade e a expansão serão sempre necessários investimentos. Além dos cursos técnicos, ensino superior e mestrados, existe ainda uma meta dentro de 2 a 3 anos de oferecermos o doutorado”, contou.
Por conta de greves anteriores, o ano letivo de 2017 dos campis Centro e Guarus do IFF Campos está previsto para começar apenas em 24 de abril. O semestre corrente, retomado na última terça-feira (31), representa a segunda etapa das aulas referentes ao ano de 2016.
De acordo com a estudante do sétimo período de Arquitetura e Urbanismo do IFF Centro, Isabela Castilho, de 21 anos, a infraestrutura do campus é boa, mas melhorias são necessárias.
— Faltam investimentos nas salas de aula. Algumas delas não têm janelas e ficamos sem luz natural. Outras, pela proximidade com os corredores, são barulhentas, com isso ficamos sem conforto acústico. Isso nos prejudica — disse a estudante.
Por nota, Ministério da Educação contradisse o Conif e o Sinasefe, afirmando que o orçamento aumentou para custeio e manteve os mesmos padrões pra investimento. Segundo o órgão, os dados informados pelo Conif são referentes ao ano de 2016, quando houve corte no governo anterior. "Esses valores seriam ainda piores se não fosse a recuperação de parte do corte, já no governo atual", disse a nota.
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Expansão depende de mais investimentos
Apesar da crise, o IFF de Campos está em fase de expansão. A previsão de entrega dos novos prédios nos campus Centro e Guarus é até o segundo semestre deste ano. Enquanto isso, a obra da segunda sede da UFF se arrasta desde setembro de 2012. Após paralisações e retomadas, a construção permanece sem data definida para conclusão.
Já no campus da UFRRJ, apesar da estrutura existente e do trabalho de referência em pesquisa e extensão, não existe cursos de graduação devido à falta de investimentos federais na contratação de professores.
No IFF Guarus, de acordo com a diretora de Ensino e Aprendizagem, Monique Freitas, o novo bloco, com previsão de entrega para março, contará com 20 salas de aula, distribuídas em três pavimentos. Segundo ela, a ampliação permitirá, no futuro, a abertura de novos cursos de graduação na unidade.
No IFF Centro, de acordo com o diretor de Extensão e Pesquisa e Pós-Graduação, Jonivan Coutinho Lisboa, a nova ala (Bloco G), que está em fase de acabamento, com expectativa de conclusão para agosto e terá 60 salas de aula, seis auditórios e um refeitório.
A equipe de reportagem tentou contato a UFF, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
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Uenf possui dívida de R$ 40 milhões
Sem repasses do Governo do Estado desde outubro de 2015, a Uenf enfrenta uma das maiores crises financeiras da história da instituição e acumula dívidas orçadas em mais de R$ 40 milhões. Sem credibilidade junto aos fornecedores e prestadores de serviço, a universidade vivencia um cenário caótico de quebra de contratos e redução de força de trabalho.
Para tentar reverter as dificuldades ainda em fevereiro, o Conselho Universitário da Uenf (Consuni) definiu, na última terça-feira (31), uma nova data para o início do ano letivo de 2017. Veteranos, que inicialmente retornariam ao campus nesta segunda (6), e os calouros, que ingressariam apenas no segundo semestre, irão iniciar o ano letivo no dia 6 de março.
A medida, segundo o reitor da Uenf, Luís Passoni, foi uma tentativa de ganhar tempo para solucionar a falta de segurança no campus – fora de operação desde novembro de 2016 – e a possibilidade de suspensão dos serviços de alimentação. Segundo o reitor, a empresa responsável pela gestão do setor informou que não irá renovar o contrato que acaba no final do mês.
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