Brasil sob risco de retrocesso
Guilherme Belido 22/01/2017 12:31 - Atualizado em 23/01/2017 13:10
Militando no jornalismo há muito mais tempo do que gostaria de lembrar, não recordo de outra vez, senão esta, em que tenha lançado mão de termo chulo para expor um ponto de vista sobre qualquer que fosse o tema. Nem em texto, tampouco em título.
Contudo, talvez possa contar com alguma tolerância do leitor – com quem me desculpo – usando a meu favor exatamente a excepcionalidade de tal prática.
Justifico com a circunstância de que o Brasil-governo – as “instituições” – parecem desconhecer a história de seu próprio País, nada afeito a sacrifícios em vão ou ‘patriocismo’ sem pé nem cabeça, por conta de conceitos e ideais que em estando desacompanhados de teto, cama e comida, nada significam.
Inquestionável, a crise de 2015 passou à condição de maior recessão econômica da história brasileira e hoje está na beirinha da depressão. Da mesma forma, Michel Temer assumiu como interino há oito meses – a partir de agosto como presidente definitivo – e, num começo hesitante, entre decisões que tomava e voltava atrás, ministro que nomeava e depois exonerava, passou um semestre inteiro falando em reforma e arrocho e... de bom mesmo, nada.
Aperto tem limite – Ao melhor estilo Joaquim Levy (se estava certo, então que ficasse) nada melhorou ou parou de piorar, – o que é muito pouco para quem assumiu um País totalmente sem rumo.
Ao contrário, o único indicativo “positivo” – a inflação – tem como causa o pior dos mundos: o povo não compra porque não tem dinheiro: ou está com salário atrasado ou nem salário tem porque perdeu o emprego.
Seria – indaga-se – um disparate usar pequena parte das reservas internacionais para injetar dinheiro na economia e deixar o povo respirar, ‘desafundar’ um pouco o Brasil e dar uma injeção de ânimo no País?
Não seria uma alternativa – ainda que excepcional – menos dramática do que o quadro de depressão que se vislumbra, com os estados quebrados, a taxa de desemprego batendo recorde, a indústria paralisada e o comércio fechando as portas?
O que nos diz a tradição
Em momentos como os de agora é aconselhável olhar para o passado e verificar quem somos e como nos portamos diante desta ou daquela situação. Nada melhor que a tradição, o costume, para saber até onde se pode ir e quais os verdadeiros valores do povo.
Por mais grotesco que possa parecer, sequer temos tradição democrática. O leitor, aqui, pode ter se espantado. Mas é a pura verdade.
Se não há que se falar em democracia nos tempos de colônia e império, tampouco nos primeiros anos de república. A bem da verdade, até os anos 50, convivemos muito mais com regimes ditatoriais – Getúlio em particular – do que democráticos.
De 45 a 60, excetuando Juscelino, apenas lampejos de democracia. Jânio Quadros com seus delírios de autoritarismo e João Goulart refém dos que lhe cobravam uma república sindicalista travestida de esquerda. Deu no que deu: 1964.
Vinte anos depois o País voltava, cautelosamente, à atmosfera democrática pelas mãos de Sarney, amigo dos militares. Daí por diante foi se estabilizando até os dias de hoje.
Logo, temos, sim, uma democracia plenamente consolidada. Mas jovem, de 30 e poucos anos – o que ao longo da história é praticamente nada.
O povo brasileiro
Diferente dos EUA, do Japão e, talvez, da Inglaterra, o Brasil não passa fome para o princípio democrático triunfe acima de qualquer coisa. Aqui, político corrupto não comete haraquiri (muito ao contrário, decide a seu bel-prazer se acata ou não decisão judicial) e tampouco faz sacrifícios por amor à rainha.
Não é assim que funciona. O governo, o Congresso e a Justiça precisam olhar para trás para vislumbrar o futuro. Ninguém quer retrocesso institucional e tampouco ditadura. Mas a quem caberá as rédeas do País se o Brasil descarrilhar?
Um dos períodos mais autoritários da história brasileira foi o Estado Novo, de 1937-45, com Vargas. O País estava alinhado com o fascismo, Getúlio fechara o Congresso – mandava prender e mandava soltar. Do Catete, governava com mão de ferro e era saudado nas ruas como “Ditador”. E gostava.
Contudo, grandes conjuntos habitacionais eram entregues ao povo, o emprego crescia, a agricultura experimentava franca expansão, a indústria prosperava e os direitos trabalhistas eram implantados. Não havia recessão, os traficantes não controlavam as comunidades e as pessoas não tinham medo de sair na rua.
Em sua maioria, o povo não ligava para quem ou como governava. Ligava para uma vida segura, sem sobressaltos e onde o amanhã não era uma caixinha de surpresa.

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