Suspensão de voos da Azul repercute entre setores produtivo e político
20/01/2025 13:19 - Atualizado em 22/01/2025 08:50
Aeronave da Azul
Aeronave da Azul / Foto: Divulgação Azul
A companhia aérea Azul encerrará as operações em Campos no dia 10 de março de 2025, extinguindo seu voo regular para Campinas (SP), a única rota da aviação comercial no município, que hoje possibilita conexões com todo o Brasil e com o exterior. A informação, veiculada nesse domingo (19) pelo Blog Ponto de Vista, gerou reações de representantes dos setores produtivo e político de Campos e do estado do Rio de Janeiro, devido aos impactos à economia regional.
Junto com o cancelamento das operações em Campos, a Azul também suspenderá, no dia 10 de março, operações de diversas rotas da região Nordeste, afetando voos nos estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte. A companhia alegou aumento nos custos operacionais, com a disparada do dólar, e a necessidade de tornar as operações mais rentáveis. No site da companhia aérea, já não é possível comprar voos entre Campos e Campinas com partidas após 9 de março.
— Pelo menos 14 cidades deixarão de ser atendidas pela Azul. Porém, já recebi a informação que duas já conseguiram reverter essa situação, mas a nossa região será muito prejudicada: Cabo Frio encerra de vez em março, o aeroporto de Macaé, que está em obras, nem vai voltar com a nova pista. Se não houver um movimento do Governo do Estado, dos deputados, prefeitos da região e entidades empresariais, podemos decretar o falecimento do modal aéreo, que reflete diretamente no desenvolvimento da nossa cidade e da nossa região. O desenvolvimento e o turismo de negócios ficam totalmente prejudicados. Toda a equipe da Azul Campos já foi informada do desligamento de todos — destacou o empresário e subsecretário municipal de Turismo de Campos, Edvar das Chagas Júnior.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, Fábio Paes, também considera a suspensão grave e que prejudica os negócios da cidade e da região. Ele garante que a CDL unirá forças com outras entidades para buscar soluções.
— A rigor, isso era previsível, diante do desleixo que a Azul operava em Campos já há muito tempo. Chegou a colocar na rota um avião com menos capacidade de transportar passageiros do que uma Kombi. O aeroporto de Campos já teve o status de internacional e aqui já desceram aviões de todos os portes, inclusive, o de vários presidentes da República. O que a Azul conseguiu fazer foi uma marcha a ré no ar. A CDL vai imediatamente se mobilizar, unindo forças com outras entidades representativas de classe, juntamente com a Prefeitura, para buscar uma solução antes do dia 10 de março. Isso é muito grave, porque prejudica o ambiente de negócios da cidade e da região, como se tivesse tirado Campos do mapa — destaca Fábio Paes.
De acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) no Norte e Noroeste Fluminense, Francisco Roberto Siqueira, o cancelamento dos voos prejudica de forma significativa a economia. “O cancelamento de operações de voos no aeroporto de Campos certamente vai gerar um impacto direto na produção local e pode prejudicar a recuperação econômica da região. A interrupção desse serviço é um golpe significativo para a economia, não só de Campos, mas da região. A falta de acesso aéreo direto não só dificulta a logística de negócios, mas também prejudica a competitividade das empresas que dependem de uma conexão rápida e eficiente com os centros econômicos do país”, afirmou Francisco, destacando, ainda, que a decisão pode afastar possíveis investidores e parceiros comerciais.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), Maurício Cabral, também se comprometeu a buscar apoio de outras entidades para encaminhar ofício às autoridades competentes para manter os voos para Campinas e até ampliar para o Rio de Janeiro e outras cidades. “Precisamos ampliar o número de voos em Campos, que é a maior cidade do Norte Fluminense, além de ser base para outros municípios na região. A demanda por voos é tão favorável à região, que recebi informações sobre a construção de pista particular no limite entre Campos e São João da Barra, município vizinho onde está instalado o Porto do Açu”, finalizou.
Os protestos são reforçados pelo deputado estadual Bruno Dauaire, que considera a decisão da Azul de encerrar os voos um grande retrocesso para a cidade e toda a região. “O aeroporto Bartolomeu Lisandro é porta de entrada estratégica para o Norte e Noroeste Fluminense, fundamental para o desenvolvimento econômico, turístico e empresarial. Perder essa ligação aérea representa um impacto negativo direto para a nossa economia. Vamos buscar diálogo com a companhia e outras autoridades para tentar reverter essa decisão", disse Bruno Dauaire.
Em visita a Campos, nessa terça-feira (21), a deputada federal Chris Tonietto garantiu estar envolvida na luta e informou que enviará ofício à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), solicitando providências quanto à suspensão dos voos da Azul.
A Infra Operações Aeroportuárias, concessionária que administra o aeroporto Bartolomeu Lisandro, lamentou a decisão unilateral da Azul de suspender a rota diária comercial de Campos para Campinas. “A Infra está se reunindo com autoridades locais e estaduais para tentar reverter a decisão da Azul, que pode ter grande impacto na economia de Campos. A concessionária reforça que o Bartolomeu Lisandro tem toda infraestrutura para receber novos voos e que irá fazer todos os esforços para trazer outras rotas para o terminal”, informou, em nota.
A Azul Linhas Aéreas informou, também por meio de nota, que está sempre avaliando as possibilidades e necessidades de mercado e, consequentemente, mudanças fazem parte do planejamento operacional. “Como empresa competitiva, a companhia reavalia constantemente as operações em suas bases, como parte de um processo normal de ajuste de capacidade à demanda”. A companhia afirmou que irá suspender as operações em Campos devido a uma série de fatores que vão desde o aumento nos custos operacionais da aviação, “impactados pela crise global na cadeia de suprimentos e a alta do dólar, somadas às questões de disponibilidade de frota e de ajustes de oferta e demanda”.
Voo da Azul
Voo da Azul / Foto do leitor
A professora Meire Anne Rezende de Oliveira é usuária frequente da linha operada pela Azul, e diz que o fim desse voo fará muita diferença, dificultando a rotina da sua família.
— Eu viajo frequentemente nessa linha, porque meu marido faz treinamento para piloto em Jundiaí, e essa é a forma mais confortável e acessível para chegar até lá. Agora, a gente vai ter que pensar em uma nova rota, indo para o Rio, depois São Paulo, para podermos nos encontrar. Essa linha é muito importante para muita gente — destacou.
Meire contou que na última viagem, em janeiro, já percebeu que havia alguma coisa diferente, pela queda na qualidade do serviço de bordo. “Isso já deveria ser um sinal de que as coisas não estavam indo bem”, disse.

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