Ronaldo Junior
22/04/2023 14:00 - Atualizado em 28/04/2023 00:09
Fonte: Pixabay
Mesmo que você não tenha reparado, tenho que justificar meu silêncio neste blog nas últimas semanas, e ele tem a ver com o tema deste texto.
Muita gente me diz que, aos 27 anos, estou no tempo de abraçar todas as oportunidades que me aparecem e me permitir errar. O que quase ninguém inclui no meio desses clichês motivadores é que fazer tudo pode gerar um tumultuado e confuso vazio.
Daí a justificativa prometida: a alternância entre trabalho e estudo, intercalada pela dedicação a projetos futuros, acabou por capturar um tanto da liberdade em que mergulho a pena para escrever – deixo aqui essa imagem avoenga para que você me leve a sério.
Sem o tempo para me dedicar a observar o passar da vida, simplesmente a deixo passar e vou – pingue-pongue – de um compromisso para o outro pensando no que virá a seguir. E a escrita, enquanto registro do que me passa ao redor, fica represada aqui em algum canto.
Como eu escrevi certo dia num instapoema: “a afoiteza do fazer por vezes nos tira a natureza do olhar”. E eu acabo me esquecendo disso ao deixar que essa multidão me atropele na rotina desenfreada do aproveitar a juventude enquanto ainda existe.
Isso porque ter que lembrar as tantas necessidades é também esquecer de olhar pela janela e criar uma ficção aleatória sobre o homem que passa na calçada. E, ainda, é esquecer que, por trás dos problemas, existe um momento de contemplação que nos permite, aí sim, lembrar o que importa.
Talvez o retorno – de pouco mais de um ano – do isolamento social tenha causado esse excesso de vontade de viver e fazer que tanto afoga os dias, mas é certo que, se não for incluído na lista de afazeres um momento para o não fazer, podemos simplesmente esquecer sua importância.
Tudo isso para dizer que, após esse longo período, estou de volta para colocar na página em branco tudo que ela permitir, mas também para dizer que, entre as tantas formas de esquecer, está o excesso do lembrar.
E assim, nas entrelinhas da lista de tarefas, vou esquecendo e lembrando enquanto alterno entre rotina e espontaneidade, sobretudo por concluir que devo, no meio das horas corridas, sempre me esforçar para esquecer quando estiver fazendo de tudo para lembrar.
*Ronaldo Junior tem 27 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com