Árvores e adaptabilidade: Campos está preparada para altas temperaturas?
Edmundo Siqueira 18/11/2023 19:34 - Atualizado em 18/11/2023 19:49
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Nas discussões atuais sobre o clima e seus impactos na vida urbana, as palavras “mitigação” e “adaptação” são constantes. Embora tenham significados próximos, mitigar tem o sentido de diminuir as causas humanas das mudanças climáticas, e adaptar significa aceitar os extremos do clima buscando abrandar os efeitos negativos para as pessoas.

Adaptar também é necessário para conviver com o que ambientalistas chamam de “risco residual”,  onde mesmo após ações de mitigação, os riscos à saúde continuam — situação sem volta pelos danos causados ao meio ambiente.

Campos dos Goytacazes é um município que sempre precisou se adaptar. Localizado em uma região alagadiça, próximo à foz do rio Paraíba do Sul, desde o início da urbanização precisou criar alternativas para drenagem. Uma extensa rede de canais foi criada no início do século XX.

Resolvido — em parte — o problema das inundações, o município começou a experimentar mudanças no curso das águas. Para piorar, houve grande retirada de água do Paraíba para a metrópole do Rio de Janeiro e posteriormente para São Paulo, e agravado pelo clima que foi se constituindo em semiárido, a região ficou marcada por períodos longos de seca — com índices pluviométricos abaixo de 900 mm anuais — e acometida por enchentes sazonais.

Mas, as adaptações de Campos, apesar de transformar realidades naturais, permitiu a urbanização da baixada campista e de outras áreas, e as explorações econômicas da terra, pela pecuária e cana-de-açúcar. Permitiu que Campos se desenvolvesse economicamente.

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Imagem criada por IA / Edmundo Siqueira
Calor extremo —
Segundo o último censo do IBGE, de 2022, Campos tem aproximadamente 480 mil habitantes, com uma densidade relativamente baixa (119,91) por quilômetro quadrado, dada a grande extensão territorial do município. Em 2010, o censo apontou que havia mais de 128 mil residências em área urbana, e 13 mil em área rural.


A região central de Campos, incluindo a Pelinca, foi se adaptando às novas realidades demográficas e climáticas. Mas as ações do poder público não acompanharam o mesmo ritmo. Os alagamentos constantes na região do Mercado, a manutenção do Canal Campos-Macaé como um valão sujo, a insuficiência (ou ausência) de parques urbanos e a baixa arborização são algumas das consequências.

Os dados de arborização urbana de Campos trazidos pelo censo do IBGE estão desatualizados, datam de 13 anos atrás. A cidade apresentava bons números para àquele período, mas em momentos mais extremos é perceptível a necessidade de ampliação do número de árvores.

Para isso, a cidade possui diversos lugares disponíveis para criação de parques urbanos, que agem não apenas na melhora das condições climáticas, mas criam verdadeiros oásis urbanos para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Além das ausências em áreas verdes e parques, a principal praça de Campos, a São Salvador, perdeu recentemente a maioria de suas árvores, e sua beleza histórica, sendo sido transformada em um grande tapete de mármore, altamente penoso em dias mais quentes.

Campos precisa, como todo centro urbano, se adaptar às novas realidades, mas pelas especificidades locais elas são ainda mais urgentes. Emergencialmente, iniciar o plantio de árvores, a instalação de bebedouros públicos, revitalização de fontes de água públicas e manutenção da vegetação nas margens do Paraíba são ações simples, mas essenciais.

As pessoas não moram em países ou estados — moramos em cidades. E precisamos criar coletivamente e através do poder público local condições mínimas de sobrevivência, para todos. Adaptar e mitigar são agendas prioritárias para uma cidade responsável.



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