Crítica de cinema - Terror atualizado
*Filipe Fernandes 24/08/2019 15:33 - Atualizado em 30/08/2019 13:10
Um filme que traz características muito marcantes dos filmes de terror realizados naquela época e que ecoaram bastante em intermináveis continuações na década seguinte. O boneco Chucky, misturando sua psicopatia com humor negro e, claro, com o absurdo de toda a situação, se tornou parte da cultura pop e é lembrado, mesmo que seus filmes não tenham sido sucesso de público.
Passados 31 anos de sua primeira aparição e apenas dois de seu último filme, o boneco mais violento do cinema está de volta em mais um remake que, assim como o original, é fruto de sua época e faz atualizações que trazem profundas mudanças na origem do personagem e, consequentemente, novos elementos não só à história, mas como ao personagem, permitindo novas possibilidades. Sai a magia negra e entra a inteligência artificial.
Na trama, Karen (Aubrey Plaza) é uma mãe solteira que tenta recomeçar a vida com seu filho adolescente Andy (Gabriel Bateman). Passando por problemas financeiros, ela trabalha em uma grande loja de departamento e consegue de presente, no aniversário do filho, um boneco que era o desejo das crianças e aparentemente foi devolvido por estar com alguns problemas. A partir daí, o boneco se torna o grande amigo do solitário Andy, que aos poucos vai descobrindo a verdadeira natureza do brinquedo.
A situação da família é basicamente a mesma, a origem do boneco é que é drasticamente alterada, e a atualização traz um frescor para o filme, pois, diferente do original, em que o boneco já tinha uma personalidade formada, aqui Chucky começa quase que como uma criança, que aos poucos vai aprendendo (de uma forma bastante distorcida e particular) as questões do mundo, permitindo um desenvolvimento do personagem, onde acompanhamos e tememos suas intenções antes mesmo delas acontecerem.
Andy agora é um adolescente, o que permite uma interação maior do boneco com a criança. Os conflitos naturais da idade do menino e a situação com o namorado da mãe agem como catalisadores para as atitudes do boneco, que tem em sua programação a necessidade de proteger e alegrar seu dono. Porém, esse boneco tem seus filtros excluídos, o que o permite atitudes violentas e extremas para cumprir sua programação.
Tirando o núcleo central, todos os personagens coadjuvantes são bastante caricatos. Praticamente todos os homens da obra são sujeitos arrogantes e repulsivos, e suas mortes são quase desejadas pela audiência. O núcleo adolescente funciona melhor, ao menos são personagens mais carismáticos com um pouco mais de cenas.
O filme traz ainda uma grande corporação, cheia de aparelhos e aplicativos que basicamente estão presentes em todos os lugares, e o boneco da linha em que Chucky faz parte funciona como um mediador desses aparelhos, dando ao personagem armas mais poderosas e acessos a aparelhos que são utilizados como novas possibilidades de armas.
O humor negro sempre foi uma marca da franquia, e aqui não é diferente. Dublado por Mark Hamill (o eterno Luke Skywalker), o humor do personagem vem da mistura de uma aparente inocência (é uma personalidade em formação) com um nível alto de violência e, logicamente, da situação absurda de um boneco de meio metro causando tantos estragos.
O humor do filme funciona. O diretor norueguês Lars Klevberg mostra um bom timing cômico, conseguindo costurar piadas e cenas violentas sem deixar que um elemento prejudique o outro.
Uma surpresa agradável é constatar o grau de violência apresentado. As cenas com mortes (que até não são muitas para esse tipo de filme) são bastante gráficas, com sangue jorrando pra todo lado e, mesmo que não sejam muito originais, trazem um grau de sadismo interessante para o personagem.
Em tempos em que filmes violentos em sua essência andam cada vez mais amenos na busca de público, o novo “Brinquedo assassino” se mostra um projeto corajoso no grau de violência e nas mudanças, que além de atualizarem a história e o personagem, trazem uma série de novas possibilidades. É um filme despretensioso, puro escapismo com o mínimo de personalidade, que funciona por ter realizadores que entendem isso e entregam um produto na medida certa.

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