Membros do coletivo Nós por Nós falam sobre violência contra a mulher no Folha no Ar
Arnaldo Neto 21/08/2019 10:44 - Atualizado em 26/08/2019 13:22
O crescimento da violência contra a mulher em Campos foi o principal assunto do Folha no Ar, da Folha FM, desta quarta-feira (21). A jornalista Júlia Oliveira e a psicóloga Alice Simões, que fazem parte do coletivo “Nós por nós”, destacaram avanços em políticas públicas e leis, citando como exemplo a Maria da Penha, mas também a necessidade constante de adequações. A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) foi apontada como outro ponto positivo, mas o atendimento na unidade campista voltou a ser criticado. Nesta quinta-feira, a partir das 7h, o Folha no Ar recebe o economista Alcimar das Chagas Ribeiro.
Sobre a Deam, Júlia ressaltou que o coletivo já recebeu centenas de denúncias de mau atendimento. O fato, inclusive, foi levado ao Ministério Público e à Defensoria. “Existem relatos de desencorajamento. Em um caso, a mulher chegou à Deam e um funcionário, na frente de outras mulheres, questionou se ela realmente queria fazer isso com o marido, pai dos filhos”, exemplificou. Segundo Júlia, a delegada Ana Paula Carvalho abriu um canal de comunicação mais fluido com os coletivos e conselhos, mas ainda não é o suficiente.
A Lei Maria da Penha foi apontada como um marco: deu maior segurança para que as mulheres denunciem as agressões sofridas. A repercussão de casos como o da médica Cíntia Silva Maciel, agredida pelo lutador e professor de muay thai Francinei Farinazo, no último fim de semana, também é vista como fator que encoraja outras vítimas. “Claro que a gente nunca gosta de uma situação dessa, mas temos que aproveitar para debater a questão. Muitas vezes, a mulher lá da comunidade que vê uma médica, classe alta, branca, também sofrer esse tipo de violência, faz com que ela se sinta mais encorajada a denunciar”, observou a jornalista.
A psicóloga Alice Simões relatou vários fatores que podem levar a mulher a ser vítima de violência doméstica sem denunciar, mas ressalta que esse não é o principal ponto da discussão. “Algumas são dependentes emocionalmente, outras financeiramente. O lugar dessa mulher, que está saindo ou não desse tipo de relação, é o menos importante. O que deve ser questionado é a atitude do homem”, disse a psicóloga.
As integrantes do “Nós por Nós” observaram ainda alguns pontos que consideram falhos, como a liberação por fiança após prisão em flagrante por agressão à mulher e a pouca efetividade das medidas protetivas, apontadas como um passo importante, mas apenas inicial. Elas também destacaram que as pessoas que sabem de casos de violência doméstica, mas não acionam as autoridades, são consideradas cúmplices, e também defenderam a equidade de direitos entre homens e mulheres.
Feminicídios — Campos registrou, só neste ano, três feminicídios. Em janeiro, Zeli Aparecida de Lima foi asfixiada e encontrada morta pelos filhos em casa. O ex-marido da vítima é apontado como suspeito. Já em abril, Tamires Ramos Martins foi assassinada a tiros quando voltava da escola. O autor dos disparos foi o ex-namorado. Em julho, a professora Regiane da Silva Santos foi morta a tiros pelo ex-marido.
Atualmente, crimes como esses são chamados de feminicídio, mas já foram considerados “passionais”. Para a psicóloga Alice Simões, essa mudança traz outra mensagem importante: “Quando você chama feminicídio de crime passional, você estimula que amor é isso. E não é”.
Confira a entrevista:
 
 

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