A batina do Padre Rosário
- Atualizado em 31/08/2019 08:19
De Benedito Marques dos Santos Filho: 
 Na rotina diária profissional, era o jornal “Monitor Campista”, já no abrir da madrugada, o meu último compromisso como contador e auxiliar da Matriz dos Diários Associados, detentora da maioria acionária do nosso saudoso Monitor Campista, na ocasião, o 3º jornal mais antigo do país. Com edição diária, tendo como jornalistas em Campos, na direção, os irmãos Osvaldo de Almeida Lima e Everaldo de Almeida Lima, meus diletos amigos.
Eram noitadas de muitos trabalhos no jornal, mas sem faltar as permanentes visitas dos amigos para o cafezinho regado a papos hilários e folclóricos, de onde saíam muitas matérias jornalísticas de observações responsáveis daqueles amigos, pois não havia celulares e as informações eram presenciais.
Os amigos comuns se reuniam na redação, e entre os fatos hilariantes conto hoje, mês de Agosto, festa do Padroeiro de Campos dos Goytacazes, o Santíssimo Salvador, e mês de aniversário do nosso saudoso e querido Padre Antônio Ribeiro do Rosário, que, se vivo fosse, completaria no próximo dia 29 seus 110 anos, um episódio em especial.
Estávamos na redação do jornal, eu e os amigos Nagib Hauagi e João Sobral, quando chegou o Vereador Padre Rosário vindo de uma reunião da Câmara de Vereadores para o cafezinho amigo. Conversou, relatou fatos da reunião camarística e despediu-se alegando que acordaria muito cedo para suas funções religiosas.
Retirado o Padre, João Sobral, um dos proprietários de Ao Livro Verde, livraria mais antiga do Brasil, sugeriu a todos nós, Osvaldo, Everaldo e Nagib, que, cotizando, levantássemos recursos financeiros para confeccionar uma batina nova para o nosso amigo Padre Rosário. Unanimemente, concordamos e de pronto já combinamos que o alfaiate seria Mário Jobel, também amigo do Padre.
Levantado o dinheiro, indicado para o mister de gerenciar a confecção da batina, o autor destas linhas e Osvaldo Lima, fomos a seguir à “Casa Huddersfield”, compramos a fazenda e os aviamentos e partimos para a alfaiataria de Mário Jobel, que se disse honrado na confecção da batina, e que para tanto necessitava de que o Padre enviasse uma de suas batinas para que servisse de modelo e medida.
Começou, então, a via-crúcis. Tivemos de buscar na igreja (casa paroquial), pois o Padre teimava em não tirar a medida e nem oferecer a batina velha para tanto. Chegamos à conclusão de que todas as batinas do Padre eram velhas, algumas rotas, espelhando a sua simplicidade, desprendimento e o voto de pobreza, voto por nós sobejamente conhecido. Conseguimos, por fim, uma rota batina para medida.
A batina nova, pronta no dia 03 de agosto, foi entregue na casa paroquial para ser usada pelo Padre na Procissão do S. Salvador no dia 06 de agosto e, posteriormente, no dia 29, em seu aniversário.
E chegou o dia 06, às 16h saiu a Procissão do Santíssimo, nosso padroeiro. O sino da Catedral Diocesana repicava com a saída do andor com a imagem do Santíssimo Salvador; o Pálio com o Bispo D. Antônio de Castro Mayer, circundado pelos padres das paróquias.
E lá estava o nosso amigo Padre Rosário, contrito, e quando viu os seu amigos, abriu um manso e fraternal sorriso, com a batina velha, impecavelmente limpa em sua velhice.
E aí lembramos do grande escritor católico Gustavo Corção, que qualificava tal procedimento como “lições de vida”.
Benedito Marques dos Santos Filho - 19/08/2019

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    Saulo Pessanha

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