Corte de 30% do Ministério da Educação reflete em instituições de Campos
Virna Alencar 04/05/2019 13:57 - Atualizado em 06/05/2019 13:57
Genilson Pessanha
Boa parte do orçamento da educação em Campos provém de repasses do governo federal e, sob a justificativa de restrição orçamentária imposta a toda administração pública federal, programas vêm sendo ameaçados. Essa semana, o Ministério da Educação (MEC) confirmou o bloqueio de 30% na verba das instituições de ensino federais que valerá para todas as universidades e todos os institutos. Com isso, a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto Federal Fluminense (IFF) sinalizam o risco de não ter como pagar as despesas de funcionamento. Com as mudanças do MEC, alguns programas na rede municipal de ensino também podem ser afetados.
Atualmente, a UFF acumula uma dívida avaliada em R$ 1,5 milhão com a empresa NHJ do Brasil Contêiner Matriz, com sede no Rio, que aluga os contêineres para servir de salas de aula, laboratórios e setores administrativos instalados há dez anos na universidade. Após ameaças de retirada das estruturas e, consequentemente, possível suspensão de aulas, a UFF divulgou que os contêineres serão mantidos, pelo menos, até dezembro deste ano. A situação se agrava mediante ao bloqueio de 30% sob o orçamento da instituição, que recebe cerca de R$ 1,9 bilhão anualmente.
— A administração central intensificou as tratativas com a empresa e, mesmo em cenário de severa restrição orçamentária, priorizou o pagamento de parte da dívida com a empresa, em detrimento de outras ações, e propôs o reescalonamento do montante total devido. Com isso, foi possível resolver a situação e acordar a renovação emergencial do contrato até o final de 2019, visando dar maior tranquilidade à comunidade para, nesse período, buscarmos coletivamente soluções definitivas para a questão. No começo da noite dessa sexta-feira (3), a empresa respondeu por ofício aceitando a proposta da UFF de manutenção até dezembro de 2019 — informou a instituição em nota.
Segundo o diretor da UFF Campos, Roberto Cesar Rosendo, atualmente, 80% dos mais de três mil alunos matriculados na instituição têm aulas nos contêineres, cujo valor das mensalidades é de R$ 155 mil. “Eles passaram a ser alugados como medida provisória, no entanto, a crise nacional paralisou as obras de dois grandes prédios do novo campus da UFF, na avenida XV de Novembro, e o que antes era uma medida provisória, passou a ser permanente”, disse o diretor ressaltando que com o bloqueio do orçamento, a universidade está sendo obrigada a enxugar o seu quadro funcional de prestadores de serviços em até 30%.
Já o reitor do IFF Campos, Jefferson Manhães, informou que, este ano, o MEC anunciou para todas as instituições federais o contingenciamento sob o orçamento de custeio, no valor de R$ 60.381.692,00, além do contingenciamento do orçamento de investimento de R$ 2 milhões. “Caso estes limites orçamentários não sejam liberados ao longo do ano, a instituição não terá como pagar todas as suas despesas de funcionamento, prejudicando a ação educativa”, disse ele ao ressaltar que são 19.936 estudantes matriculados no IFF, destes 8.606 alunos são do campus Centro.
Rede municipal também sofre com redução
Na rede municipal, de acordo com a subsecretária de Projetos e Convênios da secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Campos, Joana Campinho, alguns programas não têm previsão de renovação, outros serão reduzidos e até mesmo cortados. São eles: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), Programa Brasil Alfabetizado (PBA), Projovem Campo – Saberes da Terra, Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ações agregadas, Mais Alfabetização (agregado ao PDDE) e Novo Mais Educação (agregado ao PDDE).
— São programas que promovem gestão democrática das unidades escolares, outros viabilizam alfabetização de pessoas que não tiveram oportunidade de participar da vida escolar no tempo correto; há ainda os que capacitam professores no âmbito da alfabetização; que proporcionam qualificação profissional e escolarização de jovens agricultores. Nós, da secretaria de Educação, estamos trabalhando para mantermos alguns destes programas, nos moldes de execução do governo federal enquanto aguardamos posicionamento deles — explica Joana Campinho.
O município aderiu ao Pnaic a fim de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental. De acordo com a proposta de 2019, o MEC já declarou que não haverá bolsas de estudos para formadores. Já o PNLD, que é responsável pela distribuição de materiais de toda rede municipal, está com atrasos de entregas e carência de exemplares.
O Brasil Alfabetizado atende em sua maioria participantes com mais de 65 e são moradores da zona rural. Para 2019, não há previsão orçamentária para novo ciclo de adesão dado pelo MEC.
O ProJovem Campo - Saberes da Terra terá o seu término previsto para julho de 2020 e não há nenhuma previsão para uma próxima adesão nem previsão orçamentária, por parte do governo federal.
O PDDE destina recurso federal com finalidade de prestar assistência financeira para as escolas, em caráter suplementar, entre outras finalidades. Em 2019, ainda não foi pronunciada. A resolução de 2018 previa um repasse em abril e em setembro. Porém, segundo o município, o de abril está atrasado.
Ainda de acordo com o município, atualmente há atraso do início e redução do programa Mais Alfabetização. A secretaria de Educação informou que não haverá mais adesões e apenas as escolas já participantes continuarão no programa.
O Programa Novo Mais Educação também não tem previsão para novas adesões em 2019.
MEC fala em critérios utilizados para corte
Em nota, o Ministério da Educação informou que “o critério utilizado para o bloqueio de dotação orçamentária foi operacional, técnico e isonômico para todas as universidades e institutos, em decorrência da restrição orçamentária imposta a toda administração pública federal, por meio do decreto 9.741, de 28 de março de 2019”.
O órgão informou ainda que “o bloqueio decorre da necessidade de o governo federal se adequar ao disposto na LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), meta de resultado primário e teto de gastos. O bloqueio preventivo incide sobre os recursos do segundo semestre para que nenhuma obra ou ação seja conduzida sem que haja previsão real de disponibilidade financeira para que sejam concluídas”.
O MEC também destacou que o contingenciamento pode ser revisto pelos Ministérios da Economia e Casa Civil, caso a reforma da previdência seja aprovada e as previsões de melhora da economia no segundo semestre se confirmem. “Cabe, ainda, destacar que, até o momento, todas as universidades e institutos já tiveram 40% do seu orçamento liberado para empenho”.

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