Reitor do IFF aposta em Rafael x Wladimir
Aldir Sales e Aluysio Abreu Barbosa 27/04/2019 17:10 - Atualizado em 06/05/2019 14:14
Após ter o nome ventilado como alternativa na disputa a prefeito de Campos em 2020, Jefferson Manhães de Azevedo se colocou fora do pleito. Segundo ele, o único que lhe interessa é o da reeleição como reitor do IFF, maior instituição de ensino de Campos e região. O que não o impediu de projetar o quadro eleitoral da cidade para outubro do próximo ano. Em que pesem as surpresas na eleição de 2018, ele avalia que a rápida queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro (PSL) pode dificultar o surgimento de novas em 2020. Embora não as descarte, preferiu apostar na polarização do governo Rafael Diniz (PPS) contra o garotismo, que tem no deputado Wladimir Garotinho (PSD) sua opção mais provável.
Reitor do IFF, Jefferson Manhães Azevedo
Reitor do IFF, Jefferson Manhães Azevedo / Rodrigo Silveira
Folha da Manhã – Você é pré-candidato a prefeito em 2020?
Jefferson Manhães de Azevedo – Não, não sou. Essa não é minha posição. Já coloquei para minha instituição, para meus colegas, minha equipe, que vou tentar a reeleição para reitor do Instituto Federal Fluminense (IFF).
Folha – Quando vai ser a eleição?
Jefferson – Provavelmente em dezembro, depende do Conselho Superior de nossa instituição. Entendo que, tanto o Instituto, como a rede federal, é onde posso dar, neste momento, a maior contribuição, a partir de toda minha trajetória, de um momento muito difícil que estamos passando no país, especialmente na área de Educação. Um momento social que exige, não só gestores, mas líderes que possam dialogar e construir, nesse processo, mantendo valores da Educação. E a educação profissional e tecnológica vem ganhando no mundo destaque como elemento de empoderamento da população, onde você prepara as pessoas para um mundo cheio de desafios e possibilidades. Hoje eu tenho certeza de que vou servir melhor o meu país e minha cidade, naturalmente, se assim a comunidade quiser, já que a eleição não depende só da minha vontade. Acredito que esse é meu papel fundamental neste momento.
Folha – Tem a ideia de concorrer a prefeito ou outro cargo público um dia?
Jefferson – Recebi em minha vida um investimento muito grande na educação pública deste país. Tive a oportunidade de fazer minha graduação, meu mestrado, meu doutorado em instituições públicas, tenho uma trajetória de 17 anos em gestão pública, hoje sou coordenador de relações internacionais do Conif (Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica), represento o Brasil em várias partes do mundo. E tenho que, eticamente e por princípios, retribuir isso à sociedade a partir de tudo aquilo que vim desenvolvendo ao longo desse tempo. Tenho certeza absoluta que ainda tenho outros papéis para desenvolver junto à sociedade. Se olharmos para a trajetória da minha família, o meu avô (José Alves de Azevedo) foi prefeito, deputado federal, uma pessoa que contribuiu muito para a nossa cidade. Meu irmão (José Alves Neto) também esteve muito tempo participando de gestões municipais. A questão do espaço público aqui da nossa cidade, até por essa tradição familiar, sempre foram questões que estiveram no meu cotidiano. E acho que posso contribuir com a minha cidade.
Folha – Então você não descarta?
Jefferson – Não, não descarto. Assim como posso descartar dependendo de outras coisas que podem acontecer. Eu sei que venho me preparando como gestor público ao longo dos anos, faz parte do DNA da minha vida profissional. Tenho certeza que o espaço público é o espaço da minha atuação. Acho que é uma possibilidade, mas que não depende só de mim. Eu sei que tenho outras contribuições. Neste momento, eu percebo que o melhor é minha posição como reitor do IFF.
Folha – Você fala que tem contribuição a dar. Dois outros gestores do que hoje é o IFF, Luciano D’Ângelo e Roberto Moraes, acharam que tinham essa contribuição para dar também, partiram para o pleito, mas não se elegeram. O que seria diferente entre você e eles?
Jefferson – Eu quero dizer que a contribuição que tenho para dar não é necessariamente como prefeito, deputado, vereador. Minha contribuição é como cidadão brasileiro.
Folha – Mas quando não fecha portas para uma eleição, você está falando disso.
Jefferson – Não fecho as portas para isso, mas, lógico, depende da conjuntura. Não depende só de mim. Quando falo que tenho uma grande contribuição, como pesquisador, como agente social. Não tenho que ir para um cargo público para dar uma contribuição.
Folha – Você falou do seu avô e irmão como tradição da família. Na sua instituição, também houve pessoas que acharam ter contribuição maior para dar, mas que acabaram não eleitos. Você falou da tradição familiar e essa é uma tradição da instituição. Como você vê esses dois exemplos?
Jefferson – Recebo essas conversações há uns três, quatro anos. Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores, mas há 15 anos que não tenho vida partidária. Desde 1993, quando saí do seminário, me filiei ao PT. Tive um momento mais ativo, logo no início. Quando fui para a gestão mais oficial da instituição eu saí da vida partidária. Tenho minhas convicções pessoais, mas no exercício da minha função pública tenho que respeitar a dinâmica e dialogar com os vários setores da sociedade. Em nenhum momento, qualquer ação minha nunca foi para prejudicar qualquer partido ou religião. Hoje sou reitor de uma instituição que tem 12 unidades espalhadas pelo interior do Rio de Janeiro, com 12 mil estudantes, dois mil servidores, é uma instituição que impacta bastante na vida das pessoas. Então, ter uma boa gestão numa instituição como essa, naturalmente remete nas pessoas você poder exercer a função de gestor público.
Folha – Você disse que vai se dedicar à reeleição como reitor do IFF. Isso o coloca fora do tabuleiro, mas não impede de ter uma opinião sobre ele. Como você vê o governo Rafael Diniz (PPS)?
Jefferson – Quero ser muito honesto na minha percepção. Sou atento, mas quero dizer que o Estado do Rio de Janeiro e a cidade de Campos foram muito mais impactados por essa crise econômica do petróleo e das empresas, até em função da Lava-Jato. Não estou aqui defendendo um ou outro, mas houve uma crise mais aguda no Estado e na cidade, que muito depende da indústria do petróleo e de muitas dessas grandes empresas que acabaram envolvidas na Lava Jato.
Folha – Essa não é a tese do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que a Lava-Jato causou prejuízo financeiro ao país?
Jefferson – Não estou aqui deixando de defender a Lava-Jato, o que estou falando é que de maneira factual, a Odebrecht, por exemplo, tinha um modelo de negócio corruptor. Isso não é uma questão ocasional que começou com o governo do PT ou de qualquer outra coisa, era um modelo de negócio, um modelo corruptor. Que para fazer obras públicas, para aumentar, você deveria corromper e ser corrompido. O que quero dizer, factualmente, é que o número de empregos diminuiu em função disso porque essas empresas ficaram impedidas e como elas tinham os maiores empreendimentos aqui no Rio de Janeiro.
Folha – O preço do barril de petróleo também despencou em 2014.
Jefferson – Isso. Essas coisas se somaram. Então, você tem o barril do petróleo que cai profundamente. Houve uma conjuntura muito ruim para o Rio de Janeiro e para Campos. Somado a isso, a gente percebe que as gestões que ocorreram ao longo do tempo, pelas informações de modelos extremamente equivocados, com malversação do dinheiro público. Uma série de questões que não formam um bom modelo. Assim como no Estado, como no âmbito municipal, foram gestões que não foram exemplos do bom uso do dinheiro público. O Rafael surge como uma esperança da nossa sociedade a dar um basta nisso. A leitura que a gente faz da última eleição presidencial é a mesma. Há uma frustração, decepção pelos seus líderes. O Rafael surge nesse contexto e pega um governo extremamente caótico. Não tenho dúvida disso. O problema, hoje, é que as pessoas vendem que as soluções são simplistas. Se elas fossem simples, qualquer um faria. Os problemas são muito complexos. Muitas vezes as pessoas querem que você seja extremamente exigente e cumpra a legislação, mas na hora que ela é afetada de alguma forma, ela quer dar algum jeitinho. O que quero dizer é que o quadro da nossa cidade não se resolve em um, dois, três, quatro anos, assim como a Educação. Pode ser que o prefeito não tenha comunicado a magnitude, pode ser que algumas decisões que ele tomou tenham sido muito duras. Existem críticas e de pessoas sérias que eu gosto muito. Gente extremamente inteligente da academia que diz que o remédio foi muito duro na política social. O importante é que a média das decisões seja boa. Mas é difícil. Você erra nas decisões. É preciso ter humildade de poder reconhecer que errou. É um processo de disciplina fiscal, de austeridade, de conscientizar as pessoas do tamanho do problema, mas há também interesses outros da disputa política, o que é legítimo. Não estou dentro do governo, minha relação com o prefeito é extremamente respeitosa. Fui muito amigo do pai dele, Sérgio Diniz, tenho um apreço pela figura do Rafael, acho ele um jovem líder que vai dar muitos resultados.
Folha — E, na média, qual é a nota que você dá para Rafael até agora? Ele passa de ano ou não?
Jefferson — Como média, eu digo que ele teria entre 7 e 8. Falo isso pela dificuldade que ele encontrou. Estou fora do governo, não tenho compromisso com o governo. Mas, é um governo que encontrou uma situação gravíssima, tomou decisões dificílimas, que poucos tomariam, mas a conjuntura da sociedade, dos problemas que nós temos, talvez ele possa ter tomado, não posso falar, não todas as decisões corretas. Mas eu acho que a gente tem que olhar para frente. Sinto receio em olhar para trás. Eu acho que a gente tem que construir. Acho que ele pode melhorar, como qualquer pessoa. Acho que ele se equivoca e acerta. Numa percepção do dia a dia, as pessoas estão muito frustradas com a administração. Mas, estão muito frustradas porque, talvez, não se comunicou o tamanho do problema. Se a gente olhar, remonta a 2014, 2015. E foi sendo tamponado com empréstimo. Assim como acontece na sua vida, se você começa a tamponar com empréstimo, você acha que as coisas acontecem.
Folha — O que os Garotinho fizeram com as “vendas do futuro” não foi como recorrer a um agiota para pagar a dívida anterior, com outro agiota?
Jefferson — Eu quero dizer que, no mínimo, não houve austeridade. Não sou juiz, não quero... No mínimo, não houve austeridade. Com o que nós tivemos de recursos públicos aqui, era para colocar a nossa educação numa posição muito destacada, para colocar a urbanização dessa cidade muito bem destacada. No mínimo, não houve austeridade. E nós não vamos resolver os problemas da cidade em dois, três anos.
Folha — Ainda no plano municipal, como você projeta a disputa em 2020? Você está fora, mas tem muita gente dentro. Rafael, que já declarou que tenta a reeleição; Wladimir (PSD), que deve ser o candidato do garotismo, até porque o pai e a mãe não podem, e Clarissa está com a vida dela no Rio de Janeiro; o deputado estadual Gil Vianna (PSL), que já se declarou pré-candidato; assim como seu colega de Alerj Rodrigo Bacellar (SD); o ex-deputado e ex-prefeito Roberto Henriques (PPL); o ex-candidato Caio Vianna (PDT), filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB); o Lesley Beethoven, presidente municipal do PSDB; o Alexandre Buchaul, que comanda uma dissidência do mesmo PSDB. Esses são os que estão aí colocados. Como projeta isso para 2020?
Jefferson — Eu vou pela minha percepção desse tempo. Sempre, quem está na gestão e vai para a reeleição, ele tem, em boa parte dos casos, uma força política.
Folha — O peso da máquina.
Jefferson — É o peso da máquina, é o peso daquilo que ele fez. Tem contra, geralmente, vira telhado de vidro. Quando você não está na gestão, oposição é sempre mais cômodo. É igual a fazer ciência no peito. Você escreve um artigo científico e está tudo certo. Quando vai experimentar, levar isso para a produção, é uma outra realidade. Então, há uma força política muito clara se o prefeito se candidatar à reeleição, como, pelo que eu vejo, ele legitimamente se coloca. Eu não tenho dúvida que o atual prefeito representa uma força política com grande chance de ir para o segundo turno numa disputa eleitoral. Também reconheço a história do movimento liderado tanto pela ex-prefeita Rosinha como pelo ex-prefeito Garotinho. É uma força política que tem expressividade. O Wladimir é um outro ponto de grande força. Acho que a mesma força que elegeu o presidente da República, ela definhou um pouco mais aquele entusiasmo. Nunca vi, em três meses, uma perda de prestígio na sociedade tão grande como está havendo agora. Essas forças (Rafael e Wladimir) estão postas, não tenho dúvida que são forças extremamente competitivas. Quanto ao restante, eu não teria como dizer, mas o Gil Vianna teve um destaque para deputado estadual, o que, de alguma maneira o coloca numa posição de destaque.
Folha — Mas perde com Bolsonaro sangrando popularidade.
Jefferson — Mas tem que ser considerado como uma força política. Mas, eu apostaria nessa polarização (Rafael e Wladimir), com todas as surpresas que podem acontecer. Eu, agora, apostaria nela sem me arriscar em quem ganharia.
 
 

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