Crítica de cinema - O titereiro da Casa Branca
- Atualizado em 08/02/2019 19:03
(Vice) -
Adam Mckay é um cineasta como uma jornada curiosa. Após realizar várias comédias com Will Farrell, em 2015 ele surgiu com um projeto que surpreendeu a todos e angariou algumas indicações ao Oscar daquele ano. “A grande aposta” retrata a crise econômica de 2008 de uma forma que visa usar um humor muito particular para facilitar a compreensão de um assunto tão complexo para o espectador comum.
“Vice” é um projeto similar em diversos aspectos. O roteiro não tem a complexidade do seu trabalho anterior, mas traz o mesmo tipo de humor, mesmo que de forma não tão criativa. Contando a história de Dick Cheney (Christian Bale), influente burocrata que foi o vice-presidente do governo de George W. Bush e segundo o filme, responsável por grande parte das decisões do governo Bush como resposta aos atentados de 11 de setembro.
Usando justamente o fatídico dia como ponto central, o filme tem uma estrutura bem linear, usando algumas poucas passagens de tempo, principalmente no primeiro ato. Apresentado como um protagonista beberrão que não se importa com nada, ele leva um grande esporro da esposa e dali em seguida aquele homem sem foco, se torna extremamente focado e ambicioso, uma transformação radical que acontece de uma cena para a outra e tem a única finalidade de ressaltar a importância da esposa Lynne (Amy Adams), importância esta, que é praticamente esquecida pelo roteiro posteriormente.
O roteiro escrito pelo próprio diretor, traz uma trama mais simples que seu trabalho anterior, o que acaba tirando um pouco da força das cenas em que o diretor usa pequenas esquetes para exemplificar determinadas idéias, o longa se torna didático demais em cenas que não demandam tanta explicação.
Desde a primeira cena, McKay deixa explícita a posição da obra perante o biografado, trazendo até mesmo um curioso narrador em uma de suas melhores cenas. O longa se preocupa mais em explorar a progressão política do personagem, sem intensificar aspectos íntimos que permitam uma maior profundidade de Cheney ou de sua esposa. Há até uma questão envolvendo o núcleo familiar, que funciona bem para ressaltar a importância da política e os limites (ou falta deles) na relação familiar.
Declarando Chaney como o grande responsável pelas decisões do governo pós 11 de setembro, o filme traz um tom de denúncia e mostra George W Bush como um garoto mimado que quer impressionar o pai e é facilmente influenciável por Chaney. Um personagem importante na trama e que poderia acrescentar muito, é renegado ao ostracismo. Alguns dos melhores momentos do longa provém da relação de Chaney com aquele que viria a ser seu mentor político Donald Rumsfeld (Steve Carrel). O maior desenvolvimento do protagonista provém justamente da relação entre eles.
Das oito indicações de “Vice” ao Oscar, a de Christian Bale a melhor ator e a de maquiagem são as únicas que fazem justiça e são até favoritas. Passando mais uma vez por grande transformação física, auxiliado por um trabalho de maquiagem impressionante, Bale está irreconhecível como Chaney e carrega o filme com competência. Will Farrel, Amy Adams e Sam Rockwell aparecem bem, mas tem seus personagens sabotados pelo roteiro e pouco podem fazer. As indicações de Adams e Rockwell (dois bons atores) me parecem bem questionáveis.
Adam McKay não consegue repetir a mistura de humor e criatividade do seu longa anterior, o longa sofre com um roteiro problemático e um ritmo arrastado e tem na atuação de Christina Bale seu ponto mais marcante. Ao final, McKay ainda usa uma cena onde o personagem busca se justificar perante ao seu público, um artifício rasteiro que não dialoga com o personagem, que agindo nos bastidores, nunca foi adepto a justificativas.

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