Crítica de cinema - O novo mal de Hollywood
- Atualizado em 14/09/2018 18:51
(A Freira) - As franquias são o novo mal de Hollywood, “A freira” é mais uma tentativa de manutenção da série de terror “Invocação do mal”. O longa abre com uma cena desnecessária, que mostra o casal Warren palestrando sobre o caso, para logo em seguida voltar para o ano em que de fato se passa a trama, este que é apenas um vislumbre do roteiro preguiçoso que vem pela frente. Com uma trama simples e com alguns elementos que não fazem o menor sentido, “A freira” acerta na ambientação e na utilização de elementos religiosos para chocar os mais sensíveis, mas abusa do susto fácil e da paciência do espectador.
Divulgação
Após o estranho suicídio de uma freira em uma Abadia no interior da Romênia, o Vaticano direciona o padre Burke (Demián Bichir), experiente em exorcismos e a noviça Irene (Taissa Farmiga) para descobrir o que de fato acontece no local. Eles então, se juntam ao camponês e malandro Frenchie (Jonas Bloquet) que os guia até o convento de Santa Carta, um local que esconde um segredo e é habitado por uma entidade demoníaca.
Ao contrário dos longas anteriores da franquia, o roteiro de Gary Dauberman (roteirista que basicamente se especializou no gênero, é o autor do roteiros de IT e dos dois Annabelle) abraça uma característica do terror clássico, que é situar os eventos em um local isolado (aqui um convento, mas remete muito a um castelo) no interior de um país pouco conhecido no coração da Europa. A imagem da freira possuída realmente funciona e o local escolhido ao menos condiz com a personagem e foge dos padrões da franquia.
Uma característica interessante do demônio Valak (que é utilizada com pouca inspiração) é que ele não tem forma e se transforma de acordo com o medo da pessoa, característica também presente no roteiro de Dauberman para IT, porém ali, a ideia vem do livro de Stephen King.
O roteiro traz uma trama bem simples, depois de introduzir a premissa e os personagens e os levar ao convento, dali em diante é um amontoado de cenas com o objetivo de provocar susto. Cria-se ainda uma narrativa dos acontecimentos que levaram o convento a aquela situação, mas tudo narrado por flashbacks confusos, por uma freira que some e reaparece mais que a freira do título. Contando ainda com diálogos constrangedores (um em particular no clímax me deixou boquiaberto) e um humor capenga, que mais enfraquece o clima do que diverte.
A maior qualidade da franquia é a construção do clima que pacientemente conduz o espectador ao susto. Essa importante lição não é empregada pelo diretor Corin Hardy (A maldição da floresta), que exagera nos jumpscare e usa movimentos de câmera e artifícios clichês que tornam os sustos muito previsíveis.
O maior acerto do filme fica por conta da ambientação. A fotografia, a arte dos cenários e figurinos impressionam. O contraste de luz e sombras, o uso de tons de azul e vermelho em determinadas cenas (o cenário onde eles encontram a Abadessa é particularmente belíssimo), figurinos que ilustram bem os personagens, o contraste do figurino da protagonista com as outras freiras (afinal, ela ainda não fez seus votos) passam não só a idéia de pureza, mas a diferencia das demais. O design de produção usa símbolos religiosos com inteligência e a profanação dos mesmos certamente vai chocar os mais sensíveis.
O elenco fica de destaque a protagonista Taissa Farmiga (irmã da protagonista da série principal Vera Farmiga), que interpreta a irmã Irene com competência. Sua expressão ingênua cria um contraste interessante com a personagem que fortificada por sua fé tem o embate com o demônio.
Anunciado como o capítulo mais tenebroso, “A freira” decepciona. É previsível em todos os sentidos e não acrescenta em nada a franquia. A falta de um cineasta com a mão de James Wan pesa bastante. Agora é aguardar pelo inevitável desfecho da trilogia “Invocação do mal” e torcer para que assim como seus spin-offs, a serie principal não se torne uma decepção.

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