Planície construída sobre lagoas
Jane Ribeiro 10/02/2018 16:00 - Atualizado em 14/02/2018 15:42
Há menos de uma semana grande parte de Campos estava debaixo d’água. A chuva que caiu deixou vários bairros alagados, principalmente a área central. São locais pontuais como a avenida Pelinca, a redondeza do edifício Salete, as ruas Rocha Leão e Barão da Lagoa Dourada, a descida da ponte Leonel Brizola e tantos outros. O que poucas pessoas sabem é que Campos foi construída numa planície onde se encontravam dezenas de lagoas, que foram aterradas e uma rede de canais foram construídos para drenar águas de chuva acumulada na cidade, mas que hoje não tem nenhuma função devido o assoreamento de todos eles.
Mais de 100 lagoas foram drenadas para que a cidade de Campos fosse erguida. Tirou-se a água mais não se nivelou, ou seja, as construções foram feitas em pontos baixos, com descida que acumulam água. O ambientalista Aristides Soffiati, a convite de nossa produção, percorreu vários pontos onde a situação se agrava quando chove. Para Sofiatti o problema está nos canais. O canal de Tocos é considerado por ele fundamental, que tem que ser mantido limpo.
— Para o escoamento de água perfeito tem que limpar o canal de Cacomanga, Campos/Macaé, Coqueiros e o de Cambaíba. Esses quatro são fundamentais para a macrodrenagem da cidade. A gente tem um conselho de drenagem urbana que não funciona, temos um plano de drenagem urbana que nunca foi adotado. Para haver melhora, muita coisa tem que ser feita, entre ela a manutenção dos canais. Inútil a drenagem subterrânea sem esses canais limpos e desimpedidos — informou o ambientalista.
Segundo Sofiatti, há muitos anos o engenheiro campista Saturnino de Brito, deixou escrito como e o que deveria ser feito para que a cidade não sofresse com os alagamentos. A ideia seria iniciada pelo canal Campos/Macaé, que seria a coluna dorsal do sistema. Do lado esquerdo sairia um canal lá do Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), passava pela Formosa, chegaria a avenida 28 de Março e desceria para o Campos/Macaé drenando toda a área. E outro do lado direito que sairia perto do Liceu de Humanidades, passaria pela Pelinca (que era um brejo) e drenaria tudo. Esse canal seria fundamental para resolver os problemas de escoamento pelo projeto de Saturnino.
Os dois maiores pontos de alagamento de Campos são na rua Rocha Leão, onde existia a grande e limpa lagoa do Saco. E na descida da ponte Leonel Brizola, próximo ao Shopping Popular Michel Haddad, onde existia a lagoa do Osório. Todos os dois pontos existem os piscinões subterrâneos, que não resolvem o problema em dia de chuva.
— A lagoa do Saco foi drenada pelo canal do mesmo nome para o canal de Cacomanga até a lagoa Feia. Mas como não houve um nivelamento adequado a pouca chuva alaga as ruas. Ali existe um piscinão, que não dá vencimento e deveria escoar a água da chuva para o rio Paraíba do Sul. A água se acumula na área mais baixa. Mas a sujeira impede que a água siga o seu rumo. Na descida da ponte Leonel Brizola, existia a lagoa do Osório, a maior de todas e com grande profundidade. Aqui a situação é ainda muito pior. Várias obras foram feitas, mas não sei o que fizeram porque o trecho fica bem próximo ao canal Campos/Macaé, não era para ter alagamento. A questão aqui é de engenharia. Obras mal executadas. Tudo isso acontece porque a cidade foi feita no lugar errado e por pessoas que não entendiam nada de engenharia — finalizou o ambientalista.
Canal do Parque Aurora recebe limpeza
Uma semana depois de moradores das travessas Ana Martins e Luiz Martins terem que ter saído de suas casas por conta de alagamento, equipes da secretaria de Desenvolvimento Ambiental, da superintendência de Limpeza Pública e Defesa Civil de Campos iniciaram a limpeza do canal do Rosário, no Parque Aurora. Uma máquina escavadeira está sendo utilizada para fazer a desobstrução do canal. O trabalho foi concluído no último dia 9.
— O papel desse canal é drenar águas, principalmente nos períodos de chuva, para evitar que haja alagamentos e vários outros problemas relacionados com o acúmulo de água. Então, como ele estava há muito tempo sem passar por nenhum tipo de manutenção, a gente está resolvendo esse problema, fazendo uma limpeza completa, desobstruindo tanto a parte vegetal, quanto os lixos, o acúmulo de entulho, depositados pela própria população e por pessoas do entorno — disse o secretário de Desenvolvimento Ambiental, Leonardo Barreto.
Além da limpeza, uma equipe do Centro de Educação Ambiental (CEA) atuou no bairro. “Estamos chamando a população para perto, para entender o problema que pode ser gerado com o descarte de resíduos de forma irregular no canal e às margens do canal. Nada vai adiantar se a gente limpar hoje o canal e amanhã voltarem a descartar lixo”, afirmou o secretário.
Grupo criado para amenizar os transtornos
Para amenizar os transtornos por conta dos alagamentos em dias de chuva, a Prefeitura de Campos criou no final do ano passado um grupo de emergência em alagamento para atuar nos pontos mais críticos.
O grupo é composto pela Coordenadoria Municipal da Defesa Civil, Empresa Municipal de Habilitação (Emhab), Secretarias de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Desenvolvimento Ambiental e Superintendência de Limpeza Pública.
Além disso, a Prefeitura também chegou a informar que tem realizado a limpeza de bueiros em vários pontos da cidade e, em parceria com o Governo do Estado, tem feito a limpeza de canais nas áreas urbanas e na Baixada Campista.

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