Crítica de cinema - Monstro da Lagoa Negra, o retorno
Edgar Vianna de Andrade 14/02/2018 13:44 - Atualizado em 15/02/2018 16:16
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Cenas de ENTITY_quot_ENTITYA Forma da ÁguaENTITY_quot_ENTITY / Divulgação
(A FORMA DA ÁGUA)
 - Mais que inspiração, “O Monstro da Lagoa Negra”, filme de 1954 dirigido por Jack Arnold para a Universal, recebe continuação com “A Forma da Água”, dirigido pelo Guillermo del Toro e lançado em 2018. É como se fosse “O Monstro da Lagoa Negra 2”. Tal qual o gigantesco macaco Kong, a criatura encontrada na Amazônia foi capturada e levada para os Estados Unidos, não para exibição pública, mas para experiência científica no contexto da Guerra Fria. Tanto Kong quanto o monstro foram retirados à força de um meio sacralizado em que eram considerados deuses pelos nativos e levados para uma sociedade profana. Essa transferência funesta começou em 1925, com “O Mundo Perdido”. Imaginem um brontossauro em Londres? A União Soviética já havia colocado no espaço a cadela Laika, saindo na frente dos EUA na corrida espacial.
Mateusinho
Mateusinho
“A Forma da Água” é uma apologia à diferença. O monstro capturado e encarcerado em condições altamente sigilosas é híbrido de humano e peixe. Seu lado instintual é acentuado. Ele agride o seu carcereiro e quase o mata. A personagem central, se não é o híbrido (Doug Jones), é Elisa Esposito (Sally Hawkins), uma pobre faxineira fora dos padrões de beleza de Hollywood, órfã e muda. Sua companheira de trabalho é Zelda Fuller (Octavia Spencer), uma negra pobre. Seus superiores as consideram limpadoras de banheiro. Elisa mora sozinha e tem por vizinho o desenhista homossexual Giles (Richard Jenkins). Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg) é um sensível cientista russo travestido de espião. Ele é fascinado pelo monstro que tem de matar, mas não mata. Há casos frequentes de racismo, de discriminação social e de assédio sexual. Enfim, todos os ingredientes sociais e políticos que a Academia anti-Trump adora.
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Cenas de ENTITY_quot_ENTITYA Forma da ÁguaENTITY_quot_ENTITY / Divulgação
A ambientação do filme tem a marca registrada de Guillermo del Toro. O clima é mágico. A fotografia tem iluminação em tons escuros. Todos os componentes criam uma atmosfera de conto de fada. A solitária Elisa, que se masturbava durante os banhos de banheira, é a Bela que se apaixona pela Fera de modo carnal. Estamos nos anos de 1950. Nada de modos. Penso apenas se os filmes da época exibiam cenas de sexo tão explícito. O pênis da Fera é embutido em seu corpo, que tem poder de autorregeneração, como Wolverine. O beijo do monstro ressuscita Elisa, como o beijo dos príncipes encantados despertaram Branca de Neve e Bela Adormecida. Abraçados no fundo do mar, Elisa perde um sapato, exatamente como Cinderela ao fugir da festa no palácio.
Mesmo que os estranhos sejam obrigados a fugir, os maus perdem. O serviço de inteligência dos Estados Unidos gangrena e morre. Ele ainda não era muito sofisticado e permite que duas mulheres simples burlem a segurança. Além da direção, a ideia original é do próprio del Toro, que também escreve o roteiro com Vanessa Taylor e produz o filme. A seleção de músicas de época por Alexandre Desplat é de fazer inveja a Woody Allen, com direito, inclusive a Carmen Miranda. Não confiro cinco Mateusinhos pelas treze indicações do filme ao Oscar, mas porque acompanho o trabalho do diretor desde seu primeiro filme. Sempre o valorizei de forma intrínseca. Acho que a Academia selecionou o filme de um mexicano para estocar Donald Trump.

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