Crítica de cinema - Terror convencional
Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 29/01/2018 18:36
Divulgação
(Sobrenatural: a última chave) Quando um gênero se esgota, só muito talento para renová-lo. Um livro ou um filme, suportes ideias para o terror, só poderão vencer o esgotamento com criatividade. Em 2017, tivemos dois filmes que sacudiram o difícil gênero terror: “Corra” e “It - a coisa”. O primeiro por abordar o neorracismo de forma metafórica. O segundo por homenagear o gênero, uma espécie de metalinguagem do terror.
“Sobrenatural” é uma espécie de série policial. Ele já está no quarto episódio. A veterana Elise Rainer (Lin Shaye) é uma espécie de detetive que não investiga vivos, como Sherlock Holmes, mas sim mortos ou vivos possuídos por espíritos malignos. Enquanto Holmes não acredita na dimensão sobrenatural e se empenha para mostrar que todo mistério aparentemente inexplicável de um crime tem sempre uma dimensão natural, Rainer deixa claro para a polícia que não está se metendo em assuntos humanos naturais. Ela é uma investigadora do sobrenatural.
No quarto episódio da série, tendo como subtítulo “A última chave”, mais uma vez a forte presença de James Wan se faz sentir, embora ele figure nos créditos apenas como produtor, ao lado de Jason Blum e Oren Peli. A direção coube a Adam Robitel e o roteiro a Leigh Whannel, mas a batuta de Wan é visível na qualidade do filme. A Drª Rainer é procurada para investigar coisas estranhas justamente na casa em que viveu sua dolorosa infância e parte da adolescência, no Novo México.
O local é apresentado como sinistro no início do filme. Um presídio em que condenados à morte são executados, uma menina (a própria Rainer) com dons especiais de se comunicar com o além, um pai violento que castiga a menina por ser diferente, a mãe bondosa, mas controlada pelo marido e, por fim, a fuga da menina já adolescente. Corta. Ela já está idosa quando volta ao local em que tudo começou.
Com Wan por trás de tudo, a qualidade técnica do filme está assegurada. Boa fotografia, boas locações, boas atuações, o que não garante qualidade da narrativa. Na verdade, o filme nasce de uma mistura entre “Polstergeist” e “Caça fantasmas”. Assistida por dois jovens meio patetas, Rainer investiga fenômenos paranormais. Seus ajudantes se limitam a lhe dar proteção e a operar aparelhos que detectam fantasmas. E são muitos. E são assustadores para os incautos. Contudo, o recurso para assustar não é a imagem, mas o som. O susto não nasce aos poucos com a aproximação de seres do outro mundo, mas com ruídos fortes, curtos e repentinos que assustariam as pessoas em situação normal. Os gritinhos das moças resultam dos sustos causados pelo ruído.
Para contrabalançar o peso do terror, uma pitada de romance juvenil com os ajudantes de Rainer e suas duas sobrinhas, representadas por Spencer Locke e Caitlin Gerard, ambas com pequena filmografia por serem jovens, mas acostumadas a papeis de patricinhas. Nas mãos de um diretor de peso, elas podem render bom caldo.

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