Tragédia da Chapecoense completa um ano
28/11/2017 18:11 - Atualizado em 29/11/2017 15:56
Joelson, irmão de Bruno Rangel
Joelson, irmão de Bruno Rangel / Paulo Pinheiro
O dia 29 de novembro de 2016 será para sempre lembrado como o da tragédia que comoveu o Brasil e deixou o mundo consternado. Completando um ano nesta quarta-feira, o trágico acidente com o voo da Chapecoense, próximo ao Aeroporto Internacional de Medelin, deixou 71 vítimas fatais. Entre elas estava o atacante campista Bruno Rangel, cuja família ainda encontra forças para superar o drama, que foi relatado em matéria divulgada na edição da Folha da Manhã nesse domingo (26).
— A gente continua sofrendo, tentando se acostumar com a perda. É difícil, muito difícil, mas pedimos a Deus para nos ajudar a superar o trauma. Quando alguém da família percebe que o outro está triste, logo busca se aproximar e tentar ajudar com uma palavra de conforto. A gente vai vivendo assim — resignou-se o aposentado Joelson Gomes Domingues, 57 anos, um dos irmãos de Bruno, em sua casa na Usina São João.
A exemplo de familiares de outras vítimas do trágico voo, Joelson guarda certa mágoa da Chapecoense por não ter prestado assistência à família.
— Já nem falo da indenização, a minha cunhada já contratou advogado e está cuidando disso junto ao clube e a empresa de aviação. Falo da assistência à família. Eles disseram que tinham um psicólogo em Chapecó à disposição da nossa família. Ora, para ir até lá, o que eu gastaria com a viagem daria para pagar um profissional aqui mesmo em Campos — queixou-se, enquanto tece ainda outras críticas em relação ao tratamento aos parentes das vítimas.
— No dia do acidente, houve aquela comoção toda, todo mundo chorou. Mas, depois, as pessoas de lá, em sua grande maioria, já estavam mais preocupadas com a reconstrução do clube. Eles (os dirigentes do clube) fizeram uma homenagem há algum tempo, mandaram fazer uma placa para eternizar as vítimas, convidaram minha cunhada, mas foi só isso — analisou.
Depois de Bruno, a família Rangel Domingues teve que lidar ainda a perda da mãe no mês de maio deste ano, após ter sofrido um AVC e já se encontrava acamada em sua casa, no bairro Parque Prazeres.
— Ela já não tinha muita noção do que ocorria em sua volta em razão da enfermidade. Mas naquele dia do acidente e nos dias seguintes nós desligamos a televisão no quarto dela para que não tomasse conhecimento de nada. Procuramos isolar ela de todo aquele desespero e choro da família que aconteceu naquele dia — relata.
— Vinte dias depois do acontecido, minha cunhada passou aqui em casa e foi ao quarto dela, e minha mãe ficou olhando para trás dela esperando que o Bruno chegasse, coitada. Era o instinto materno, né? Não foi fácil. Aliás, não tem sido fácil — admite Joelson, ainda bastante emocionado quando fala de Bruno, assim como sua esposa Waldinéia.
Outro que continua ainda bastante abalado com a morte de Bruno é o neto de Joelson, Clébson, de 7 anos. “Ele fala que o Bruno vai aparecer a qualquer momento. Quando alguém diz que ele foi morar com Papai do Céu, ele diz que não acredita nisso (na morte do tio) e sai de perto para não ouvir nada a respeito. Continua a não acreditar no que aconteceu”.
Familiares emocionados em cortejo
Familiares emocionados em cortejo / Marcos Gonçalves
Dos 11 irmãos, Joelson era bem próximo a Bruno, a quem dava orientação e ajudava na construção da casa que o atacante estava fazendo no Parque Rodoviário.
— Ele tinha especial preocupação com a segurança. Falava que não gostaria de jogar no Rio por causa da violência. Teve chance de ir para o Botafogo, que queria contratá-lo, mas ele tinha esse receio — contou.
Por ocasião do primeiro ano do fatídico voo, a Chapecoense lançou o portal “Pra Frente Chape”, iniciativa com o propósito de perpetuar lembranças e prestar homenagens às vítimas do acidente. No site, as pessoas podem entrar e externar manifestações aos mortos da tragédia.
Lembranças à parte, os familiares das vítimas na tragédia buscam ir além das homenagens à memória dos mortos, buscando se fortalecer através da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (Afav-C).
Milhares compareceram à cerimônia de despedida
Milhares compareceram à cerimônia de despedida / Marcos Gonçalves
A entidade informa que tem contribuído principalmente com o pagamento de até R$ 600 para bancar a mensalidade escolares de crianças que perderam os pais no tragédia e parcerias para consultas gratuitas com psiquiatras para atendimento aos familiares que têm alguma necessidade.
— Nosso foco principal é assistência social, prestar ajudar às vítimas e famílias. Várias delas têm poucas condições financeiras e têm passado por dificuldades psicológicas e emocionais. Queremos oferecer condições básicas — disse o presidente da entidade, o advogado Gabriel Andrade.
Então, um ano após a tragédia, se arrasta a luta de outras “vítimas” na reconstrução de suas vidas. Em meio às dores na alma e o intenso sofrimento psicológico, familiares e sobreviventes buscam lidar com a nova realidade.
  • Homenagens marcaram despedida

    Homenagens marcaram despedida

  • Homenagens marcaram despedida

    Homenagens marcaram despedida

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