Sérgio Mendes: 'Agora que o pau vai cantar'
Rodrigo Gonçalves,Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Éder Souza - Atualizado em 24/02/2024 08:39
Sérgio Mendes
Sérgio Mendes / Folha da Manhã
“Acho que muita coisa vai acontecer ainda neste ano. Acabou o Carnaval e o ano começou agora. Agora que o pau vai cantar”. Foi o que disse o prefeito de Campos entre 1993 e 1996 e pré-candidato ao cargo em 2024, o jornalista Sérgio Mendes (Cidadania), no Folha no Ar dessa sexta (23) ao avaliar o cenário eleitoral, apontado em pesquisas divulgadas até o momento, favorável à reeleição do prefeito Wladimir Garotinho (PP), inclusive no primeiro turno. “Vamos entrar nessa briga”. O prefeito não é unanimidade”. Ciente da dificuldade que é enfrentar a “máquina”, Mendes aposta no resgate da imagem do seu governo que, segundo ele, “fez muita coisa por Campos, mas foi massacrado” e no “debate qualificado de proposições de como a cidade pode e deve caminhar” para mexer no tabuleiro junto a outros opositores. Ele também analisou a conflituosa relação entre Executivo e Legislativo goitacá, a partir de episódios como a novela da LOA e a CPI da Educação e avaliou os erros e acertos do governo Wladimir e da Câmara Municipal. Por fim, falou do partido, que concorrerá federado ao PSDB, da montagem de nominata para as eleições Campos em 6 de outubro, daqui a pouco mais de 7 meses, e lançou um desafio a Wladimir: “Prefeito, venha a público e diga, se porventura você ganhar a eleição, se você vai cumprir os quatro anos do próximo mandato”.
CPI da Educação — No ano de 97, o prefeito da época, o Garotinho, junto com a Câmara, abriu uma CPI contra o último ano do meu governo. Vasculharam de cabo a rabo todos os setores. Produziram um relatório enorme e enviar para o Ministério Público, enviaram para o Tribunal de Contas. Enfim, cumpriram a parte deles. Tudo, absolutamente, ficou provado que foi uma jogada política que em nada daquilo eu fui condenado. Então quem tem medo de CPI é quem tem culpa no cartório. Eu parto desse princípio. Agora mais importante do que a CPI, é a gente debater a educação de Campos. O Marcelo Feres, secretário de Educação, é bom secretário, preparado. Agora, nós precisamos avançar na Educação de Campos. É isso que os vereadores e o Executivo precisam compreender. E como faz isso? Nós tínhamos que já ter um plano de metas, no meu ponto de vista, de reformar todas as escolas e creches do município. Colocar laboratório de informática em todas as escolas, porque é a ferramenta atual (...) Nós temos que avançar numa escola de tempo integral. O prefeito tem que chamar o Governo do Estado ou Governo Federal para essa parceria. Campos é um polo regional, sendo um município de destaque no interior do RJ. O prefeito é o líder da cidade. Quando a gente delega o voto ao prefeito, a gente diz para ele: “Olha, lidera a gente”. Ele tem que determinar discussões e levantar as questões. O prefeito tem que ser esse mobilizador e catalisador dos problemas da cidade. Nós temos que ter o princípio básico da união. Unir Câmara, unir Governo do Estado e unir Governo Federal. Tudo isso para resolver o problema de um município que é o polo regional e que precisa figurar no seu lugar de destaque. É essa mensagem que temos que levar para a população e para os governantes. A escola tem que ser tempo integral, na escola tem que ser valorizado o professor, tem que ter o laboratório, a escola tem que ser reformada. E vamos ver de que forma nós queremos caminhar e encaminhar essa escola e essa criançada.

Poder de diálogo de Wladimir —
Acho que ele é uma pessoa diferente do pai nesse aspecto. Ele é mais do diálogo, do entendimento e se articula melhor do que o pai. O pai é belicoso, é de guerra e da briga. A gente sabe do comportamento, né? Agora, o que eu penso é que ele precisa levantar os grandes debates do município, como por exemplo, as escolas em tempo integral. Acho que tem que ter essa articulação. Eu acho que a gente tem que avançar nesse sentido. Nós temos um déficit habitacional em Campos de 10 a 12 mil moradias. Nada foi feito nesse sentido. Não houve um encaminhamento do prefeito nesse sentido. Nós vimos que o prefeito surfou, mas com razão, porque eu faria o mesmo se eu fosse ele, na onda do governador, que fez muitas obras em Campos no primeiro biênio, mas agora no segundo já está mais devagar, porque acabou o dinheiro da Cedae e as obras estão mais retardadas ou paralisadas, tendo muitas reclamações nesse sentido. Nesse tempo, Wladimir foi guardando recursos da arrecadação da prefeitura. Hoje a gente sabe que ele tem ali R$ 1 bilhão ou 1,2 bilhão para gastar nessa reta final. Eu fico um pouco preocupado com o pós-governo, com 2025. Porque eu acho que essa bonança que foi surfada nesses quatro anos, nós não vamos ter isso nos próximos quatros. O petróleo já está nessa oscilação. Nós estamos muito dependentes ainda do petróleo. Não vejo uma iniciativa no sentido de sair dessa dependência. Também tem esse asfalto em cima de asfalto que foi feito no município de Campos. Eu acho que a gente tem que pensar em uma cidade sustentável. Será que a gente não está na hora da gente repensar as cidades e, ao invés de asfaltar e de impermeabilizar o solo como está sendo feito, a gente avançar para uma pavimento de qualidade, um pavimento que absorve a água da chuva? Então, eu acho que está faltando um pouco de planejamento, de um plano de metas para essa cidade. Como queremos avançar? Vamos avançar para onde? Na questão social, na questão econômica, na questão política e nessa harmonia entre os Poderes.

RPAs —
Eu tenho dúvidas com relação ao que foi difundido sobre o Termo de Ajustamento de Gestão, o TAG, que foi aprovado agora pelo Tribunal de Contas. Eu não sei (...) se foi, na verdade, uma forma de (Wladimir) dar uma empurrada com a barriga. Porque se você for ver, o prefeito começou aplicando em 2022 entre R$ 15 milhões no pagamento de pessoa física. O prefeito chegou em 2023 com R$ 80 milhões no pagamento de pessoa física. E deve chegar agora em 2024 R$ 100 milhões de pagamento de pessoa física. Que pessoas físicas são essas? Claro, são RPAs. Houve um crescimento vertiginoso dessa questão dos RPAs. A gente sabe o motivo disso. É para campanha. É isso que acontece no município de Campos.
Eu acho que falta é a gente ter critérios nos gastos públicos. O que falta é a gente ter transparência nos gastos públicos. Eu quero que o prefeito venha a público e diga para que os R$ 100 milhões de gasto em pessoa física. Isso é para gastar em quê? É para RPA?

Virtudes e defeitos do governo —
Eu acho o Wainer Teixeira um bom secretário, faz um bom trabalho e avançou ali na questão de pessoal. Acho que o Marcelo Feres da Educação também avançou ali naquela questão da educação. Mas, eu acho que o prefeito tinha que carregar mais nas áreas que demandam mais. A Saúde não é só reformar prédio, não é só isso. Existe uma demanda reprimida de consultas de média complexidade. O transporte público, que foi uma promessa do prefeito, não foi resolvida a questão do terminal. O terminal vai ser bonito, vai dar mais conforto ao usuário, mas tem que ter integração. Eu quero ver se essa integração vai sair. Eu quero lançar um desafio ao prefeito Wladimir Garotinho: Se porventura, já que muita água vai passar embaixo da ponte, ele ganhar, eu quero que ele diga desde agora, publicamente, se ele vai cumprir os quatro anos do próximo mandato dele de prefeito?

Qualidades e falhas da Câmara —
Eu acho que tinha que buscar mais esse entendimento, esse diálogo. O pessoal ( vereadores) é belicoso demais. Eu acho que nós temos que avançar no entendimento. Não é no entendimento de “Ah, eu preciso de tantos RPAs para poder te apoiar”. Não pode ser assim. Nós temos que mudar essa dinâmica de trabalho. Nós temos que chegar e dizer: “Prefeito, vamos discutir o orçamento aqui? Vamos discutir com antecedência esse diálogo?”. Eu acho que falta esse entendimento do Marquinho e da oposição. Não adianta fazer oposição por oposição. Não adianta fazer oposição para dizer “Ah, eu quero marcar uma oposição porque eu sou contra os Garotinhos. Não é isso que a cidade quer. A cidade quer progresso, saúde, educação, transporte e trabalho. Foi para isso que elegeram os vereadores. Está faltando esse entendimento, essa busca de diálogo junto ao Executivo de Campos e outros também. O presidente da Câmara é irmão do presidente da Alerj, então podemos fazer muito mais para Campos. É uma oportunidade única e a gente não pode desperdiçar. Eu acho que estão desperdiçando um momento histórico de Campos, de fazer com que a cidade tenha mais impulso e que cresça mais.

Notas ao Legislativo e Executivo —
Eu acho que é um conjunto da obra. Eu tenho visto o Marquinho dizer publicamente que quer esse entendimento. Se estão votando coisas que são de interesse da população, é uma nota 5 ou 6, (...) 5. Para o governo, acho que seria uma nota 6,5.

Tensão na Câmara com a LOA — E
u acho que esse estresse que se estabeleceu na cidade com relação à Lei Orçamentária Anual (...) serviu exatamente para chamar atenção, tanto do Executivo como do Legislativo, que o orçamento deve ser feito de uma forma diferente da que está posta. Não é pegar e enfiar a goela abaixo (...) Se fizer um orçamento participativo vai evitar esse estresse, esse desgaste para a cidade. Eu acho que quem saiu mais prejudicado foram os vereadores da oposição. Eles tensionaram demais. Eles tinham que chegar, sentar e dialogar. Marquinho dizia que ele estava à disposição do prefeito e queria uma reunião com todos os vereadores e o prefeito, mas aí continuava aquela tensão. Na última hora, entra o Ministério Público para intermediar a questão, e o prefeito resolve fazer a reunião com todos os vereadores no Cesec. Mas eu ouvi algumas vezes o Marquinho falando: “Prefeito, nós queremos uma reunião com todos os vereadores no seu gabinete”. Então não precisava dessa celeuma toda.
Diferencial para a disputa — Na memória de Campos, muitos não se lembram do meu governo ou até alguns se lembram da versão que foi passada do meu governo. Eu tive R$ 1,5 milhão de royalties por mês em valores atualizados. Mesmo assim, nós calçamos e asfaltamos mais de 550 ruas em Campos. Nós fizemos mais de 35 km de galeria de águas pluviais (...) levamos o heliporto para o Farol de São Tomé (...) Fui lá desapropriei 500.000 m², e entreguei ao governador Brizola (para construir a Universidade Estadual do Norte Fluminense). No nosso governo podemos falar de tanta coisa, como a parceria público-privada que deu certo. Uma que hoje está abandonada. Você vai lá na rodoviária do Shopping Estrada e quando chove é um “Deus nos acuda”.

Ligação com Rafael Diniz —
Eu tenho o Rafael na minha autoestima. Gosto muito dele, mas acho que, como prefeito, errou sistematicamente e dizia isso internamente para ele. Não participei do governo dele e fiz questão de não participar, porque eu achava que tinha que ser uma nova geração de políticos, de gente com pensamento novo, mas a gente trabalhando e ajudando nos bastidores, na medida que fosse procurado para aconselhar pela experiência que a gente tem. Então preferi não entrar no governo (...) Rafael foi penalizado porque foi penalizado por um momento de pandemia e por um momento de baixa arrecadação (..) Eu disse para ele: “Você tem que ir para a população, você tem que reunir com o povo, conversar, dialogar e dizer o que está acontecendo”. Ele se trancou no gabinete e se fechou com aquele grupo de amigos dele que é de longa data. Foi aí que deu no que deu. Eu acho que, de qualquer forma, a expectativa era muito grande em torno dele, mas ele sairia menos desgastado se ele dialogasse diretamente com a população e fosse transparente desde o início (...) O governo da ex-prefeito da Rosinha, deixou uma dívida enorme. Houve um rombo enorme na PreviCampos. Essas coisas tinham que ser ditas sistematicamente. Nós somos resultado das nossas escolhas. O resultado da escolha dele foi o resultado da eleição.

Nominata à Câmara —
Nós temos o propósito em Campos de eleger de 1 a 2 vereadores, temos. Essa é a orientação da regional. E Rafael, naturalmente, com certeza vai vir a reboque dessa decisão. O Rafael está na dependência de Rodrigo (Baccellar), mas de repente o Rodrigo resolve falar “Rafael, eu preciso de você em outro partido”. Isso é uma incógnita. Eu falei com o Rafael, conversei com ele, que disse para mim que não pensa ser candidato a vereador, só se Rodrigo quisesse, que seria uma vontade do Rodrigo. Ele disse isso e a gente não pode ficar na dependência do Rodrigo, com todo o respeito que eu tenho a Rodrigo, a gente tem que montar a nossa nominata.

Garantia que disputará à Prefeitura —
Eu preciso viabilizar a minha pré-candidatura. Eu preciso ter um pequeno destaque nesse trabalho que eu estou fazendo. Duas coisas eu estou cumprindo: resgatando a imagem de um gover-no que fez muita coisa por Campos, mas que foi massacrado, insultado e desprestigiado pelo meu sucessor, que aqui não cabe mais ficar falando nem o nome desse cidadão. E, por outro lado, o bom debate, com debate qualificado de proposições de como a cidade pode e deve caminhar (...) Se lá em julho ou agosto meu nome tiver um certo destaque, um certo crescimento e entendimento do que eu estou apresentando como pensamento para a cidade, com todo o respeito, vou fazer uma frase aqui brincando como o saudoso Zagallo, “Eles vão ter que me engolir”. Eu sei que na política partidária não é bem assim, mas a minha história no partido é de 20 anos, não de agora. Eles me conhecem.

Pesquisas —
Nem na primeira pesquisa, nem na terceira colocaram a opção Sérgio Mendes no disco. Só nessa segunda que colocaram a opção que eu apareço com 0.5, que é natural. Eu fui prefeito há quase 30 anos, fui candidato em 98 a deputado estadual e depois mergulhei nos bastidores da política e nunca mais voltei a falar em ser candidato a nada. Pesquisa é o retrato do momento. Wilson Witzel, ninguém achava que aquele cara fosse ganhar a eleição e ganhou (...) Acho que muita coisa vai acontecer ainda neste ano. Por exemplo, o componente que pode misturar as tintas seria se Carla Machado puder ser candidata. Uma coisa é ter o parecer da Procuradoria Regional Eleitoral, outra coisa é uma decisão judicial. Mas se ela vier candidata, eu acho que vai reforçar o campo da oposição. Eu defendo que ela seja candidata em Campos, porque eu acho que tem que engrossar a fileira no sentido de mostrar uma proposta alternativa de governança para essa cidade. Um novo paradigma de governança para essa cidade (ao ser alertado na entrevista que todas as decisões judiciais são contra a tese do “prefeito itinerante”, Mendes lançou a possibilidade de Carla como vice em uma chapa).

Contra o favoritismo dos Garotinhos —
Com relação a meu nome, eu acho que nós estamos começando, nós estamos engatinhando agora. Acabou o Carnaval e o ano começou agora. Agora que o “pau vai cantar”. Agora que vai ter essa nova pesquisa, espero que coloquem meu nome como pré-candidato nesse disco também para que seja aferido, até para ter um retrato real do que está acontecendo. O clima hoje pode estar favorável ao prefeito porque ele tem a máquina. Nós da oposição teremos infinitas dificuldades e uma coisa é a máquina turbinada como está e os vereadores estando junto com o governo. Com R$ 1,2 bilhão para gastar, isso dá um retorno. Com isso, você vai executando obras e o vereador para atender demandas. Acho que o prefeito faz a maioria na Câmara, mas nós vamos entrar nessa briga. O prefeito não é unanimidade. Eu acho que existe uma parte do eleitorado, cerca de 110 mil que não votou em ninguém. Existe outra parte, vamos colocar aí uns 29% ou 30% que votam com a oposição. Assim, vamos tentar pegar e capturar esses votos com essa proposta alternativa para Campos e com os nossos candidatos a vereador, esse é o direcionamento.

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