Sociólogo associa aumento no número de homicídios em Campos e região ao tráfico de drogas
Catarine Barreto - Atualizado em 20/05/2023 13:02
Homicídio no Cidade Luz (Fotos: Genilson Pessanha)
Homicídio no Cidade Luz (Fotos: Genilson Pessanha)
 A violência em Campos voltou a assustar os moradores. Só na última terça-feira (16), dois homens foram mortos e outros dois homens baleados na Tapera II. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), entre janeiro e março, houve um aumento de 29 para 35 registros, em comparação ao mesmo período do ano passado. Cidades vizinhas como São João da Barra e São Francisco de Itabapoana também apresentaram aumento nesse tipo de delito.

Em março, o número de homicídios saltou de 8 para 18 homicídios em Campos. Segundo o sociólogo Hamilton Garcia, toda essa violência pode estar ligada ao aumento de disputa pela venda de drogas na cidade.

— Tem sido um dado comum de incremento da violência no Brasil, de modo geral, os homicídios associados ao comércio de drogas ilegais. Um componente que pode ser também mobilizado para entender esses números, é o modo como a política de desencarceramento levada a cabo pela justiça e também pelo Ministério da justiça do executivo, pode estar implementando a política de soltura de presos de baixa periculosidade que, no entanto, embora possam ter ingressado no sistema penitenciário por alguma participação menor no tráfico ou outros delitos menores, possam ter durante o período prisional, se “aperfeiçoado” na arte do crime e quando eles são devolvidos a convivência social em função dessa política de desencarceramento, eles podem vir a cometer crimes mais graves em função do seu novo engajamento no mundo criminoso — disse.

O sociólogo destacou que essa política de desencarceramento tem sido feita pelo judiciário e pelas autoridades de modo geral, de forma irresponsável, de acordo com Hamilton, sem que o judiciário e os órgãos competentes estejam preparados para avaliar a situação desse preso que ingressou de uma maneira, mas pode está saindo de outra.

— Eu questiono a idoneidade técnica desses procedimentos de soltura, se eles estão sendo realmente acompanhados de laudos psicológicos e criminológicos que determinem efetivamente que a soltura desses presos, de melhorar o problema da concentração e das más condições carcerária, se a devolução dessas pessoas ao convívio social sem correção, educação e se nenhuma forma de aperfeiçoamento e também de monitoramento, se isso pode estar impactando os índices de homicídio, inclusive de corrupção de menores porque geralmente são pessoas muito jovens cujo o retorno à sociedade tem um impacto sobre o meio social da juventude do pobre e eu creio que isso tem sido muito mal avaliado tanto pelos especialistas como também pelas autoridades competentes — explicou.

Hamilton Garcia contou que esse pensamento corrobora com o pensamento de policias militares dos quais o mesmo conhece. Ele alegou que em conversa com colegas da área de segurança, os mesmos têm notado que o aumento na criminalidade é tomado de grandes grupos de facção criminosas que estariam migrando das capitais para o interior.

— Algumas facções grandes de Campos, por exemplo, estão migrando para São João da Barra (SJB), para tomar conta dos pontos de tráfico de drogas que lá já existiam e diante de fato, há um aumento significativo na violência, principalmente na guerra entre eles, porque o traficante menor da área não aceita submissão e acaba gerando o confronto que desencadeia essas mortes. Em Campos, não tem sido diferente. Tem havido uma chegada grande de traficantes das capitais vindo direto para o interior, haja vista que o interior é um mercado muito próspero para essa área — comentou.

Ainda segundo relatos dos policiais passados para o sociólogo, o aumento no número de usuários de drogas também é um fato visto pela segurança pública como um agravante que resulta nos crimes de homicídio.

— Como aumentou muito essa população baixa renda na nossa região, e consequentemente aumentou muito o número de usuários de drogas, está muito relacionado diretamente ao aumento do tráfico e ao conflito entre facções e essa vinda de facções das capitais para as cidades menores — destacou.

Outro fator levantado por um policial militar e repassado por Hamilton, é a resposta dada pelo Estado sobre esse aumento no número de casos, destacando ainda a falta de efetivo.

— Em contrapartida, o Estado não combate, aumentando a força policial, não combate com estratégias de interceptação de drogas, podendo afirmar que em SJB por exemplo, o número de policiais destacados que são aqueles efetivos no município, é o mesmo de vinte anos atrás e em Campos é pior ainda porque houve uma diminuição. Esse conjunto tem contribuído e muito para o aumento da violência, chegada de novos traficantes, aumento de usuários, briga entre facções e diminuição do policiamento — disse.

Questionado sobre o aumento de crimes como homicídios e sobre a defasagem no número de policiais militares, a assessoria de imprensa da secretaria de Estado de Polícia Militar informou que o comando do 8° Batalhão de Polícia Militar (BPM) aplica o policiamento na região com setor de rádio patrulha da área, motopatrulhas, e viaturas baseadas em pontos estratégicos.

“No mês de março deste ano, se comparado ao mesmo período de 2022, o número de prisões aumentou em 32.5%. O roubo de rua no primeiro trimestre caiu 12.9% em relação ao mesmo período de 2022”, informou. Porém não foi informado sobre a defasagem no efetivo do Batalhão, que atende as cidades de Campos, São João da Barra, São Francisco de Itabapoana e São Fidélis.

Cidades vizinhas também sofrem com violência

Outras cidades que também tiveram aumento no número de homicídios foram São Francisco de Itabapoana (SFI) João da Barra (SJB). Em São Fidélis, porém, o indicativo apresenta queda, inclusive com o mês de março sem registro de homicídios na cidade.

Segundo dados do ISP, em São João da Barra, houve um aumento de três para quatro casos no primeiro trimestre em comparação ao ano passado. Em março, os números permaneceram iguais, sendo um homicídio registrado no mês.

Os dados, porém, mostraram que São Fidélis segue sendo a cidade onde os crimes de homicídio não sofreram alteração, em comparação ao mesmo trimestre de 2022. Apenas um homicídio foi registrado neste ano e não houve casos confirmados no mês de março.

De acordo com o ISP, houve um aumento de 12 para 16 no número de homicídios em São Francisco de Itabapoana, uma diferença de quatro casos em comparação ao mesmo trimestre do ano passado. Só em março, esse número subiu de sete para oito homicídios.

Em nota, a Polícia Militar informou que trabalha para combater os crimes na região. Em SFI, por exemplo, foi realizada na última quarta-feira (17), a Operação Caterna, onde foram presos oito suspeitos. Na ocasião, drogas, armas, munições e materiais ligados ao tráfico foram apreendidos. Ainda durante a Operação, a PM apreendeu um drone, usado por um dos alvos para mapear e armar emboscadas para traficantes rivais.

Além desse caso, em Campos, as Polícias Civil e Militar também desencadearam a Operação Todos por um, nessa sexta-feira (19), para prender suspeitos de participação na morte de um policial militar reformado, no dia 21 de abril, na localidade de Baixa Grande, na Baixada Campista. Entre os presos estão os dois principais suspeitos pela prática do crime. A moto usada pela dupla que atirou e matou o PM e baleou o genro dele, também foi apreendida.

A Folha entrou em contato com a Polícia Civil e aguarda a resposta.

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