Ícaro foi repórter e diretor de mídias sociais da Folha
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Foto: Genilson Pessanha
Filho de jornalistas, Ícaro Paes Pasco Abreu Barbosa teve a redação da Folha da Manhã como segunda casa. E fez dela também o seu local de trabalho, seguindo os passos dos pais, Aluysio Abreu Barbosa e Dora Paula Paes, e também os do avô paterno, Aluysio Cardoso Barbosa (in memoriam), fundador da Folha. Desde maio de 2019, quando iniciou a carreira como repórter, era à mesa que pertenceu ao avô que Ícaro se sentava todos os dias. Um costume mantido também no retorno ao formato presencial de trabalho, após o período de home office imposto pela pandemia da Covid-19. Diretor de mídias sociais da Folha desde o final de 2021, Ícaro faleceu precocemente na noite do último sábado (13), aos 23 anos. O velório e o sepultamento ocorreram no domingo (14), no cemitério Campo da Paz, em Campos, marcados por homenagens e pela comoção de muitos familiares, amigos e colegas de trabalho. Uma missa de sétimo dia será realizada na sexta-feira (19), às 19h, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, no Turfe Clube.
— Na nossa família, meu irmão sempre teve um senso de paternidade muito grande comigo. Meu amor pra sempre — afirma o irmão de Ícaro, Aquiles Paes.
O sentimento de perda se estende a pessoas cativadas por Ícaro durante os seus 23 anos de vida. O próprio Ícaro fazia questão de enfatizar, por exemplo, as amizades construídas durante os quatro anos em que atuou como jornalista.
— Quando se está numa redação ou na rua, você acaba fazendo um laço de amizade com as pessoas que estão ao seu lado — ressaltava Ícaro, conforme vídeo gravado para as redes sociais da Folha no final de 2022. — Acho que todo mundo aqui cria um laço um com o outro: motorista, fotógrafo, repórter, editor, TI... Tudo isso se integra. Se não tiver um pouco de amizade, se não tiver um conhecimento da pessoa, você não consegue produzir um jornal. E também tem as amizades que vêm com o jornalismo, as fontes que você faz — destacou Ícaro na gravação.
Essa relação de amizade é confirmada pelo repórter fotográfico Genilson Pessanha, um dos profissionais mais próximos de Ícaro na redação.
— Era um garoto muito bom, com um futuro promissor. Muito inteligente. Um ser humano de personalidade, mas que tinha grande sensibilidade e generosidade. Conversávamos muito. Ele era contestador, não aceitava muitas coisas da sociedade. Deus permitiu que eu me aproximasse dele. Era desprovido de vaidades e tinha uma visão bem lá na frente; estudava e pesquisava muito. É uma perda muito grande, de um ser humano que veio para marcar as pessoas com quem teve contato — afirma Genilson.
O discurso é reforçado pelo editor de arte, Eliabe de Souza, outro por quem Ícaro demonstrava afeto.
— Me lembro de Ícaro bem pequeno, na redação da Folha. Gostava de ficar no computador brincando. Muito carinhoso, passou a me chamar de irmão. Um amor puro e sincero, de uma criança que vi crescer e virar um homem bom. A saudade é enorme.
Assim como Genilson e Souza, outros profissionais e ex-profissionais da Folha viram o menino Ícaro brincando e, anos mais tarde, trabalhando na sala principal do prédio à rua Carlos Lacerda, 75.
— Conheci o menino Ícaro quando comecei a trabalhar na Folha da Manhã, em 2001. Estava sempre na redação, acompanhando Aluysio e Dora. Ali conviveu com todos e cresceu. Quase 20 anos depois, a mesma redação recebia o jovem Ícaro, iniciando sua história como jornalista, seguindo os passos dos pais e do avô. Um rapaz com personalidade e vontade de aprender, que logo se integrou à equipe e fez amigos. Um repórter que se empolgava com as pautas e sinalizava seu futuro promissor no Grupo Folha. Uma grande perda — destaca a editora-geral, Joseli Matias.
— Cheguei à Folha quando Ícaro tinha dois meses, acompanhei seu crescimento. Quando ele era criança, o pai dele confiou a mim levá-lo à escola. Ele sempre me respeitou, me escutava em vários assuntos quando conversávamos. Não sei mensurar a dor da família, mas foi uma perda para todos nós — lamenta o motorista Francisco Carlos da Silva.
— Há cinco meses, passei a ter um contato profissional mais próximo com o Ícaro e me surpreendi. Por conta da relação que tenho com os pais dele, há 20 anos, vi o Ícaro crescer e seguir os passos do jornalismo, se revelando um cara vocacionado e um parceiro atencioso. Estamos buscando forças para manter o nosso trabalho, que ele se orgulhava de fazer — reforça o editor de Política, Rodrigo Gonçalves.
— É muito triste não ter mais convívio com Ícaro. Me lembro dele garoto. Depois que virou jornalista, também estivemos juntos em várias matérias. Uma perda muito grande para todos — lamenta o repórter fotográfico Rodrigo Silveira.
— Não consigo imaginar o tamanho da dor que Dora e Aluysio estão sentindo. Me uno à família e a amigos na tentativa de dividir pelo menos um pouco dessa dor enorme — se solidariza o jornalista Ricardo André Vasconcelos, ex-editor-geral da Folha.
— A curiosidade do menino Ícaro era um prenúncio de que ele seguiria o caminho dos pais. Sempre muito educado e atento a tudo e a todos — comenta Frânio Abreu, ex-repórter e editor da Folha.
Outros conviveram com Ícaro a partir da sua adolescência ou somente na fase adulta.
— Conheci Ícaro na minha primeira passagem pela Folha, quando eu era estagiário, e ele, ainda adolescente. Lembro dele acompanhando Dora na redação. Quando retornei ao jornal, este ano, viramos colegas de redação. É muito triste ver a despedida de uma pessoa tão nova e com um futuro todo pela frente. Que ele descanse em paz — afirma Eder Souza, um dos editores do portal Folha 1.
— Sempre buscava inovar em suas abordagens e sugestões de pauta. Um jovem que não deixava se intimidar em nenhuma circunstância e defendia suas convicções com afinco, mas também sabia ouvir e acatar outras opiniões. A exemplo dos pais e avós, buscava sempre dar o seu melhor — afirma Mário Sérgio Junior, também editor do Folha 1.
— Estudei por um tempo com o Ícaro e nos reencontramos na Folha. Sempre nos demos muito bem. Era um homem bom, vai deixar saudades — comenta a estagiária Ingrid Silva.
— Um cara culto. Se interessava por história, música, cinema. Me lembro de Ícaro elogiando uma camisa minha com o rosto de Cartola estampado. Fora da Folha, já nos encontramos em eventos, como em um bloco de Carnaval anos atrás, quando tomamos algumas cervejas com amigos. Recentemente, ao retornar de uma viagem ao Egito, ele presenteou a mim e a outros colegas com moedas de lá. Profissionalmente, defendia suas convicções, mas também sabia ouvir. Que Deus o tenha e conforte familiares e amigos —diz o editor de Esporte e Folha Dois, Matheus Berriel.
— O Ícaro era um rapaz muito simpático e educado. Me ensinou muitas coisas na Folha. Inclusive, foi com quem tive meu primeiro contato no jornal. Ele faz muita falta entre nós — reforça a estagiária Caroline Pinheiro, aprovada pelo próprio Ícaro para o auxiliar nas redes sociais.
— Na minha primeira passagem, Ícaro começava como repórter. Quando retornei, ele já estava como editor. Trabalhei pouco tempo com ele, mas se mostrou uma pessoa bacana, alegre e positiva — diz a repórter Catarine Barreto.
— É uma grande perda para todos nós. Vai deixar um enorme vazio. Ícaro sempre deixará saudades, não importa quanto tempo passe — salienta o profissional de informática Bruno Rodrigues.
Também há muito de Ícaro marcado em pessoas para além das paredes da redação.
— Ele tinha uma disposição para aprender e prestava atenção em tudo o que a gente falava. Assimilava e aprendia aquilo tudo de forma extraordinariamente rápida, e também nos ensinava muita coisa — diz o gerente da Folha FM 98,3, Cláudio Nogueira.
— Um jovem brilhante, que já trilhava um caminho de sucesso, sempre com textos originais e uma educação primorosa. Só Deus poderá dar o conforto a todos nesse momento de dor — afirma o advogado Filipe Estefan, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Campos.
— Ícaro me chamava de tio. Havíamos combinado de ir à praia de Chapéu do Sol há menos de um mês. Tínhamos papos longos sobre a vida, rock e jazz. Fica um vazio enorme em todos nós — declara o empresário Murillo Dieguez, colunista da Folha.
— Quando entrei na Folha, ele era muito pequeno. Tempos depois, quando o revi, já era um jovem. Um rapaz inteligente, divertido, que gostava de conversar sobre tudo, sempre com sua opinião, sem desmerecer as outras. Faltam palavras, porque a tristeza é grande — diz o policial civil Marcelo Pereira, ex-repórter fotográfico da Folha.
O jornalista Rafael Abud e frequentadores do Bar Bicho André, no Centro de Campos, emitiram uma nota de pesar no site Diário da Planície. “Ícaro era um ilustre frequentador do estabelecimento comercial e cultivou diversas amizades no momento em que morou próximo ao bar”, diz um trecho da nota, que contém a letra da canção “Sonho de Ícaro.
A Associação de Imprensa Campista (AIC) também se pronunciou. “Aos 23 anos, já mostrava o seu talento na escrita jornalística, com profissionalismo e sensibilidade. (...) Sonhava em implantar um jornalismo participativo e ‘que não tenha medo de somar a sua própria opinião aos grandes problemas da sociedade’”, destacou a entidade. A postagem da AIC nas redes sociais teve inúmeros comentários de jornalistas reforçando o sentimento de perda.
Outra instituição a emitir nota foi o Clube de Regatas do Flamengo, por meio do vice-presidente da Consulados e Embaixadas, Maurício Gomes de Matos. “Desejamos que, neste momento de luto, Deus traga conforto à família”, diz a nota do clube, que tinha Ícaro como torcedor.
Em Campos, a sessão de terça-feira (16) da Câmara Municipal contou com um voto de pesar pelo falecimento de Ícaro, proposto pelo vereador Nildo Cardoso e também assinado por Raphael Thuin, com aprovação unânime.
Na redação da Folha, sobre a mesa de Ícaro e do avô, ainda está a caneca que ele usava para tomar café. Contendo a logo do jornal e uma foto de Ícaro com o pai, o objeto é símbolo de um jovem que encarnou a terceira geração do jornal, mantendo vivo um legado do qual também se tornou protagonista.
Mais depoimentos:
“Entrei na Folha para Dora sair para a maternidade. Vi Ícaro muito pequeno, e ele sempre foi uma pessoa inteligente, carinhosa. É uma dor muito grande, uma perda que não tem tamanho. Faltam palavras para expressar esse momento”. (Suzy Monteiro, jornalista e ex-editora de Política da Folha.)
“Na primeira entrevista que concedi à Folha, foi ele quem me entrevistou, em 2019. Lembrarei dele com muito carinho. Um jovem promissor, educado, que levava o nome da família com respeito e dignidade”. (Rafael Diniz, ex-prefeito de Campos)
“Lembro de Ícaro desde pequeno. Via nele potencial para carregar o legado da Folha, como sucessor do pai. Me recordo dos nossos encontros em shows na praça do Liceu, das boas conversas, com carinho e respeito”. (Luiz Alberto Neném, ex-vereador de Campos)
“Era inteligente, profissional talentoso e dedicado, de futuro brilhante. Chamava a atenção pela perspicácia diferenciada, que lhe permitia ir além do óbvio. É uma perda irreparável para o futuro do jornalismo campista”. (Pedro Emílio Braga, delegado em Macaé)
“Vi Ícaro crescer, ele frequentava nossa casa. Ele já havia passado de uma promessa para uma realidade no jornalismo, com um potencial significativo. Que Deus possa confortar a todos neste momento”. (Geraldo Coutinho, empresário)
“Ícaro era um menino doce, um jornalista promissor da nova geração. Eu o via como um sucessor do pai, por vocação. Vi Ícaro crescer. Presto minha solidariedade a toda a família nesse momento de dor”. (Sérgio Cunha, secretário de Comunicação de Campos)
"Um jovem genial. Eu sempre fui seu fã. Falei isso para o pai algumas vezes. Inclusive dizia que seria melhor jornalista que Aluysio Abreu Barbosa. Como já havia falado no domingo no privado, rezo a a Deus para confortar a família". (Frederico Paes, vice-prefeito de Campos)
"Ícaro estará em minhas orações para que encontre o caminho da luz. E que Deus possa dar a força necessária nesse momento. Só Ele pode confortar o coração de toda a família". (Viviane Siqueira, jornalista)
"Dora, Aluizinho e Diva sintam-se fraternalmente abraçados por mim e por Gilson! Nós sabemos o tamanho desse vazio em vossos corações. Nada que falarmos vai diminuir essa dor da perda, que será infinita! Mas podemos sim clamar a Deus por muita luz para Ícaro". (Fátima Menezes, empresária)
"Meu abraço afetuoso e solidário a Aluysio, Dora, Diva e a todos da família, neste momento de dor profunda! Que todos recebam a expressão do nosso pesar, traduzido em vibrações de força e coragem!". (Cristina Lima, ex-presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima)
"Meu abraço a toda a família, em especial a Dora e Aluysio. Nesses instantes faltam palavras para confortar os pais, mas cabe reafirmar a amizade. Ícaro era uma pessoa admirável e dava gosto vê-lo brilhar no jornalismo escrevendo textos primorosos e de grande sensibilidade. Que Deus lhes dê o conforto necessário nessa hora difícil". (Andral Filho, advogado)
Familiares e amigos se despediram de Ícaro no domingo
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Foto: Rodrigo Silveira