Cinema - O encanto das imitações baratas
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 26/04/2023 09:42
Na década de 1920, travou-se um aguerrido debate sobre o cinema como expressão de arte. Seus inventores perceberam logo que a imagem em movimento era uma promessa de dinheiro. Poucos intuíram tratar-se de uma nova arte que deu seus primeiros passos com Giotto (quem diria?), passando pela fotografia e pelos quadrinhos. Irmãos Lumière, Georges Méliès, Alice Guy Blaché estavam de olho nodinheiro. Charles Chaplin e D. W. Griffith também, mas já se preocupavam com o toque artístico. Na década de 1920, o cinema se afirma como arte e ganha o mundo. Theodor Adorno, pensador integrante da Escola de Frankfurt, via o cinema como indústria cultural e o repudiava. Os pobres não farão mais arte. A indústria é que cuidará disso.
A discussão prossegue até hoje. Nota-se, ao longo da história da cultura, a seleção da produção pela dialética quantidade x qualidade ou pelo passar do tempo. De uma grande produção, resultará o reconhecimento do que permanece e do que é descartado, esquecido. O tempo também acaba entronizando obras de arte. O que não merecia reconhecimento ontem pode merecer hoje.
Mas existem, na indústria cinematográfica artistas, roteiristas, diretores e produtores que não se importam com a qualidade. Os críticos e os estudiosos devem contar com essa produção subterrânea. Mário de Andrade diria que a grande obra precisa de muitas pequenas para se afirmar. Um homem como Roger Corman não pode ser desprezado. Ele fez de tudo no cinema. Até mesmo carregador ele foi. Nascido em 1926, ele continua vivo. Começou como diretor em 1956, com “O mostro com um milhão de olhos”. Nem chegou a merecer seu nome na película. Tornou-se o rei do filme B. Encerrou sua carreira de diretor em 1990, com “Frankenstein, o monstro das trevas”. Passou então à condição de produtor, topando tudo.
Um dos muitos filmes que ele produziu foi “XB: galáxia proibida”, de 1982. A direção coube ao estreante Allan Holzman. “Alien”, filme dirigido por Ridley Scott e lançado em 1979, emulou muitas imitações. “XB: galáxia proibida” foi um deles. Há também influência de “Guerra nas estrelas”, dirigido por George Lucas, com o primeiro episódio lançado em 1977. XB é abreviatura de Xórbia. Numa nave espacial nada convincente, o comandante Mike Colby é despertado por uma robô. A voz é feminina e tem-se a impressão de que pintará um caso erótico entre ambos. Seria uma novidade. Mas ele se encaminha para Xórbia depois de destruir piratas da galáxia.
Ao chegar ao planeta, o caos está instalado. Experiências feitas com a mistura de genes vegetal e animal produzem o mostro “Subject 20”. O comandante é um homem de ação e não de ciência. Mas percebe tudo desde o princípio. Experiência sem ética. Percebe também a beleza das duas mulheres do laboratório. Não só combate como também ama. Corpos e sangue aparecem de modo nada convincente. A nudez das mulheres, contudo, é bem convincente. Ambas se envolvem com o comandante. Uma delas é representada pela beleza francesa de Dawn Dunlap, com pequena filmografia, mas com forte presença em “Laura, as sombras de verão”, de 1919.
Depois de muitos estragos no laboratório, o monstro ganha o espaço exterior e assume feições muito parecidas com o as de Alien. Ele será combatido e vencido. Um comandante tão valente bem que merece o amor das duas lindas mulheres. As interpretações são sofríveis. Não há emoção. O sexo, porém, é quase livre. Tira-se a roupa com facilidade. “XB: Galáxia proibida” é um genuíno filme B tardio. Acontece que os filmes B existem até hoje. E os intelectuais têm de lidar com essa realidade.

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