Morre, aos 78 anos, o artista plástico Paulo Jorge Freire de Melo
24/04/2023 13:25 - Atualizado em 24/04/2023 18:15
Paulo Jorge Cabral de Mello
Paulo Jorge Cabral de Mello / Antônio Filho-Divulgação
Morreu nesse domingo (23), aos 78 anos, o artista plástico, chargista, cartunista e ilustrador Paulo Jorge Freire de Melo, devido a um aneurisma. Natural de Maceió, ele viveu em Campos da pré-adolescência até o final da vida, com alguns intervalos no Rio de Janeiro, em Brasília e na própria cidade natal.A Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) emitiu nota de pesar, se solidarizando com familiares e amigos. O corpo foi velado em uma das capelas do cemitério do Caju, onde ocorreu o sepultamento na tarde desta segunda-feira (24). 
  • Paulo Jorge morreu no domingo (23)

    Paulo Jorge morreu no domingo (23)

  • Sepultamento aconteceu no Caju

    Sepultamento aconteceu no Caju

  • Familiares e amigos participaram do sepultamento

    Familiares e amigos participaram do sepultamento

Nascido em 31 de julho de 1944, Paulo Jorge deixou Maceió aos 12 anos de idade, para morar em Campos. O contato com a arte teve início a partir da atuação da mãe, Eulália Freire de Melo, igualmente artista plástica. Também um irmão de Paulo Jorge, Antônio Carlos Cabral de Melo, trabalhou com a arte. Após o falecimento de Antônio Carlos, Paulo adotou o Cabral como parte do seu nome artístico, mas assinava suas obras apenas como Paulo Jorge. As iniciais do nome lhe fizeram conhecido como PJ, embora na juventude tivesse outro apelido.
— Foi meu colega de turma no Colégio Salesiano, em 1960. Entrou no segundo ano do ginásio. Não tenho certeza, mas acho que foi quando a família veio para Campos porque não era da turma no primeiro ano. Acho que o pai veio para chefiar a Receita Federal — recorda o jornalista Chico de Aguiar. — Porró era o apelido de Paulo Jorge. A mãe, Eulália Freire de Melo, foi uma artista plástica de muito prestígio em Campos nos anos 1960/1970. Entre os filhos, Antônio Carlos Cabral de Melo também teve muito reconhecimento como artista, com grandes trabalhos de decoração de salões para festas e carnavais, além de criação de fantasias até para os desfiles cariocas do Theatro Municipal e do Copacabana Palace — complementa Chico.
Aos 15 anos, Paulo Jorge já realizava exposições e começou a trabalhar numa agência de publicidade em Campos. Aos 22, mudou-se para Brasília, chegando a atuar como desenhista de produção no Ministério da Agricultura. Devido à atuação como chargista, cartunista e ilustrador, Paulo Jorge também teve trabalhos publicados em veículos da imprensa. É possível econtrar na internet algumas das suas ilustrações em exemplares da revista “O Cruzeiro Infantil”, publicada pelos Diários Associados. Trabalhou nesse veículo de 1970 a 1975, período que considerava um dos mais marcantes da sua vida. Em “O Cruzeiro Infantil”, além de desenhar capas e informativos com ilustrações humorísticas, criou o personagem Gozé, que fez sucesso em quadrinhos. Também assinou o encarte “Pesquisa Escolar”, da revista “O Cruzeiro”, que por muitos anos foi a principal do país.
Ao retornar a Campos, Paulo Jorge foi diretor de produção comercial na extinta TV Norte Fluminense, cuja logomarca foi criada por ele, em 1981. Durante a década de 1980, retornou a Maceió e, entre outros trabalhos, criou o logotipo da Fundação Teotônio Vilela. Depois voltou a Campos, onde viveu por muitos anos, tendo sido funcionário da antiga Escola Técnica Federal, atual Instituto Federal Fluminense (IFF). Também deu aulas de desenho e pintura no Espaço do Trabalho.
Estima-se que, durante a carreira, Paulo Jorge tenha pintado mais de 1.500 óleos sobre tela, expondo em diversas cidades do Brasil. No Rio, em 1984, representou o estado do Alagoas no Salão Nacional de Artes Plásticas. Várias das suas obras também foram usadas como itens de decoração de eventos carnavalescos, festas de debutantes e feiras de negócios. Vaquejadas, cavalhadas e praias eram comuns em muitos dos seus quadros. Em outra fase da carreira, deu ênfase a cavalos e também a guerreiras de Alagoas como itens principais dos quadros, mergulhando no universo do folclore nordestino.
— Era um pintor excelente, com uma paleta maravilhosa e um pincel muito preciso. Não era um artista de ficar preso num mesmo tema. Pintava Atafona, pintava cavalos, pintava rostos... Tem uma obra maravilhosa das guerreiras alagoanas. Vai ficar uma lacuna enorme na cultura, na pintura, na nossa terra. Embora Paulo Jorge não fosse um campista, ele se tinha como campista, adorava isso aqui. Sua partida é lamentável. Saudades e saudades! Vai fazer muita falta — afirma o juiz aposentado Edmundo Machado, amigo do artista plástico.
Segundo Edmundo Machado, ele vinha trabalhando com Paulo Jorge em um projeto para exposição de óleos sobre telas no Teatro Municipal Trianon, que provavelmente ocorreria em junho. O espaço, inclusive, já foi tema de mostras do artista. Destaque para “Elas”, de 2012, e “Guerreiras das Alagoas”, de 2014.
— Paulo foi um parceiro de várias exposições coletivas, principalmente no foyer do Teatro Trianon. Era uma artista de muitas facetas nas artes visuais, onde seu talento ia além da pintura sobre tela. Tive oportunidade de apreciar esses seus trabalhos de arte de cunho pedagógico no Museu Histórico. Uma grande perda para o nosso meio artístico — lamenta o publicitário Genilson Paes Soares, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos.
A jornalista Vânia Cruz também guarda lembranças sobre Paulo Jorge. “Quantas saudades está deixando para a família e para os muitos amigos. Artista plástico de mão cheia, transformava rabiscos em obras de arte. De temperamento manso, alegre, dono de uma boa conversa, tinha o sotaque alagoano bem evidenciado e uma inteligência serena que agradava a todos. A família morava em frente de casa (na Pelinca) e, naquela época, vizinhos eram bem mais do que conhecidos, tudo girava em torno de uma amizade sólida. Que Paulo Jorge, possa estar descansando nos céus de seus merecimentos”, diz Vânia.
Para o jornalista Celso Cordeiro Filho, o artista mereceria ter recebido mais reconhecimento em vida: “Campos acaba de perder um mestre das artes plásticas. Paulo Jorge expôs seus trabalhos, desenhos a bicos de pena e óleos sobre tela, em vários lugares do Brasil. Em Campos, não teve o devido reconhecimento. Siga em paz, PJ”.

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