Metas de ano novo
Ronaldo Junior
Fonte: iStock
É muito possível que você só tenha voltado a me ver neste mês de dezembro, em meio às festas, confraternizações, pausas nas atividades. Essa já vencida lista não esperava visita sua em outro momento do ano, nem mesmo para marcar os feitos de março, agosto ou outubro, meses em que as promessas estão diluídas nos compromissos cotidianos.
 
Eu seria ingênua se esperasse que você abriria o bloco de notas – ou estou em um grupo privado no seu Whatsapp? – para anotar que fez aquela tatuagem ou que apenas se matriculou na academia da esquina sem estímulo algum para ir.
 
Isso já vem de muito tempo. Minhas antepassadas, feitas à mão, algumas em papel de pão, outras em guardanapo de barzinho, eram deixadas no fundo da gaveta, passando por todo esse esquecimento e muito mais. Por isso eu consigo até me ver como privilegiada por existir nesses dias tecnológicos.
 
Talvez até guarde uma ponta de inveja das listas que ficam expostas o ano inteiro, afixadas num quadro do escritório ou na porta de uma geladeira, adornadas com um ímã decorativo. Mas me satisfaço com o celular onde estou quando olho para minhas primas, listas de compras, que têm uma função única e são jogadas fora ou excluídas no mercado mesmo. Eu, pelo menos, ainda sou renovada a cada fim de ano.
 
Esse sentimento mesquinho que acabei de expor diz muito sobre a minha razão de existir. Sinto que sou feita, muitas vezes, por ambição, cobiça ou inveja. Os itens que escrevem em mim são metas motivadas por uma constante insatisfação de ter, de poder ou de conquistar, raramente estão pautados no sentir.
 
Se eu pudesse, numa lista minha – que eu chamaria de filha -, escreveria que tenho como meta apagar essas promessas pragmáticas para deixar livre o tempo da contemplação e do nada. Nunca vi uma lista assim, o que me colocaria na vanguarda de mim mesma.
 
Enquanto nada disso é possível, fico aqui aguardando ver o item “ganhar na Mega” ser riscado. Essa meta é renovada anualmente, longe de sair de mim.
 
*Ronaldo Junior tem 27 anos, é carioca, bacharel em Direito, licenciado em Letras e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
Escreve aos sábados no blog Extravio.

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    Ronaldo Junior

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    Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.