Pequenas ficções pessoais
Ronaldo Junior - Atualizado em 30/07/2022 00:04
Pixabay.
Se um barulho que corre na rua se aproxima de uma queda, um estampido, tudo bem, é o vento. Qual uma ocorrência paralisante de repente, os fragmentos cotidianos são juntados nas minuciosas explicações que damos para tudo. Do absoluto misticismo até a mais acurada observação, tudo passa pelo crivo hipotético de algo que pode não ser.

Isso porque a memória é um conjunto de justificativas que, reiteradas, respondem o que ninguém perguntou. Mas as questões permanecem postas apesar de a mente humana se satisfazer com a invenção injustificável.

Daí a racionalidade que tanto nos difere dos outros seres não ser mais que a ficção a colorir cada fato segundo o qual nos convencemos e seguimos como se realmente soubéssemos para onde vamos.

Diante do outro, diante do desconhecido, somos os mesmos a perpetuar visões de mundo que significam algo, no talvez das solidões, apenas para nós mesmos dentro de um contexto simbólico no qual nos imergimos. Esquecemos parágrafos para contar incríveis histórias que nem foram tão relevantes assim.

Talvez porque somos contaminados, às migalhas, pela verdade que alimentamos sobre o mundo – a qual se baseia, por sua vez, na verdade que se convencionou passar adiante. Ou talvez porque somos ególatras o suficiente para não aceitar uma outra versão.

E, assim, seguimos a esquecer ou inventar ou prescrever a narrativa do que aconteceu(rá) sob a ótica disforme de alguém que explica – e se convence - o mundo para si mesmo.

*Ronaldo Junior tem 26 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
Escreve aos sábados no blog Extravio.

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    Ronaldo Junior

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    Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.